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03/Oct/2025

Carlos Cogo: soja está em crise nos EUA sem China

A guerra comercial entre Estados Unidos e China se consolidou como o fator mais determinante para o mercado global de soja, reescrevendo a dinâmica de lucros e perdas no agronegócio mundial. Em entrevista exclusiva à Forbes Agro, o consultor em Agronegócios Carlos Cogo detalhou a situação financeira crítica do produtor norte-americano e a vulnerabilidade da safra dos Estados Unidos, contrastando com o inédito “amortecimento” de prêmios que tem garantido a margem do produtor brasileiro. A manobra chinesa, descrita por Cogo como uma estratégia de “esticar a corda” para forçar a negociação, fez com que a China conseguisse se abastecer 100% fora dos Estados Unidos, consolidando o Brasil como o fornecedor preferencial.

A situação financeira do produtor de soja nos Estados Unidos é a mais grave na série histórica e está diretamente ligada à perda de seu principal comprador, a China. “O recorde histórico deles: 177 dólares negativos de margem de retorno para o fazendeiro (Farmer Return). Essa margem é a mais negativa da série histórica. Tiveram uma sequência de três anos de margem negativa,” destaca Cogo. O setor já operava sob pressão de um ciclo de baixa global, mas a perda repentina do mercado chinês agravou a crise. A consequência de longo prazo é uma mudança estrutural na produção norte-americana. Com o acúmulo de safra não vendida, problemas de armazenagem já são relatados, forçando o produtor a optar por culturas mais rentáveis, como o milho.

A tendência, segundo o consultor, é de a área plantada de soja nos Estados Unidos “encolher cada vez mais” até se adequar ao consumo interno, com uma redução de 6% na área já registrada em um ano. A projeção mais recente para a safra mundial de soja na temporada 2025/2026, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), é que sejam colhidas 425,87 milhões de toneladas. O Brasil é o líder e deve responder por 41% deste total com 175 milhões de toneladas. Os Estados Unidos vêm em segundo lugar com 117 milhões de toneladas, seguido pela Argentina, com 48,5 milhões de toneladas, pela China, com 21 milhões de toneladas, e pelo Paraguai, com 11 milhões de toneladas de toneladas. A ausência da soja norte-americana resultou em uma elevação inédita da demanda pelo produto brasileiro, traduzida em prêmios portuários recordes.

Estes prêmios foram o fator determinante para manter a rentabilidade no Brasil. “O prêmio no Brasil é muito alto, não é ágil, é muito alto. […] Só agregou o valor tal na soja brasileira, que ela saiu de uma linha de seria um prejuízo no ano… para uma margem de lucro pequena,” explica Cogo. O consultor confirma o domínio do Brasil com números históricos: de janeiro a agosto, o país exportou 65,9 milhões de toneladas de soja para a China, um nível absoluto nunca visto, que representa 76,2% de todas as exportações brasileiras de soja em grãos. Apesar de a geopolítica ter criado uma “demanda adicional da China” que salvou a comercialização brasileira, o consultor critica a falta de estratégia do produtor nacional em garantir esses ganhos futuros. Cogo considera o acordo EUA-China inevitável. Contudo, o retorno dos norte-americanos ao mercado derrubaria os prêmios brasileiros, esvaindo a compensação que o produtor está recebendo hoje.

“O brasileiro não está aproveitando esse preço futuro mais alto para se proteger e fazer negócio antecipado. […] Com 22% hedgeado, ou seja, com quase com 80% da safra aberta. O produtor… Não está aproveitando o fato.” A perda média projetada para o produtor brasileiro, caso não faça a proteção de preço (hedge), é de R$ 10,00 a R$ 12,00 por saca de 60 Kg. Cogo ressalta que o impacto da guerra comercial não se restringe à soja, mas abrange diversas commodities, criando oportunidades para a agropecuária brasileira em outros segmentos. “Não é só soja. […] Os Estados Unidos está perdendo o mercado de algodão. O sorgo, a China está vindo no mercado para o Brasil. Está prestes a perder o mercado de sorgo também, que era um mercado grande que eles tinham de carne. Já perdeu para o Brasil há muito tempo, carne bovina, carne suína. Fonte: Forbes.