09/Sep/2025
Segundo a Associação Americana de Soja (ASA), o avanço do Brasil no fornecimento de soja para a China durante a atual disputa comercial preocupa os produtores norte-americanos pelos impactos de longo prazo. Cada mês sem vendas norte-americanas à China estimula a expansão da área plantada brasileira, criando vantagem competitiva que persistirá mesmo após eventual acordo entre Estados Unidos e China. O Brasil está expandindo produção mais rápido do que faria normalmente porque toda a demanda chinesa está direcionada ao País. Essa produção adicional vai continuar prejudicando os Estados Unidos em outros mercados, não apenas na China. Com tarifas de 20% sobre a soja norte-americana, a China garante abastecimento com produto brasileiro e farelo argentino.
Cada hectare adicional plantado no Brasil agora competirá com os Estados Unidos nos próximos anos. Não é apenas uma perda momentânea de vendas, mas uma perda permanente de participação de mercado. Diante das exportações travadas, a ASA busca alternativas no mercado doméstico. A principal aposta está na expansão de biocombustíveis: a Agência de Proteção Ambiental (EPA) propôs aumento de 67% nos volumes obrigatórios de biodiesel e diesel renovável a partir de 2026. Se confirmarem esses números até 31 de outubro, haverá o retorno de projetos de processamento que estão parados. Investimentos anunciados nos últimos três anos poderiam elevar em 30% a capacidade de esmagamento de soja nos Estados Unidos. Atualmente, apenas 25% desse aumento está em andamento; os outros 5% aguardam clareza regulatória.
Os produtores foram decepcionados quando os volumes para 2024-2025 saíram muito abaixo do esperado. Agora, todos esperam confirmação antes de investir. A ASA também pressiona pela regulamentação do crédito fiscal 45Z, um incentivo tributário federal para produção de combustíveis sustentáveis, similar ao que o Brasil tem com o RenovaBio. A medida, aguardada há dois anos, estabeleceria que apenas biocombustíveis feitos com matérias-primas norte-americanas receberiam o benefício fiscal. Foi possível eliminar penalidades e restringir o crédito a soja produzida nos Estados Unidos. Isso dobra o valor do incentivo para biodiesel feito com soja norte-americana em vez de importada. A proposta visa reduzir a entrada de sebo bovino brasileiro e óleo de cozinha usado da China no mercado norte-americano de biocombustíveis.
Houve um aumento massivo desses produtos importados, incentivados pelas regras da Califórnia. A nova regulamentação reduziria o valor dos créditos para esses insumos importados. Paralelamente, a ASA trabalhou na revisão do relatório Maha, uma comissão governamental sobre saúde e agricultura que propunha mudanças radicais no sistema alimentar norte-americano, incluindo transição para agricultura orgânica em larga escala. Após visitas de membros da comissão a fazendas, houve mudança de perspectiva. Foi evidenciado que não é possível simplesmente adotar produção orgânica em massa e alimentar o mundo. Agricultores usam defensivos porque é necessário para produzir em escala. Sem isso, os Estados Unidos só abririam mais espaço para o Brasil expandir.
Sobre o Farm Bill, a lei agrícola norte-americana renovada a cada cinco anos, similar ao Plano Safra, mas com validade plurianual, a ASA mantém otimismo apesar do prazo expirar em 30 de setembro. A lei define subsídios, seguros rurais e programas de conservação. É preciso renovar programas de pesquisa e evitar que cada Estado crie suas próprias regras sobre defensivos, o que encarece a produção. Porém, nenhuma dessas iniciativas substitui o mercado chinês. Acordos recentes com Japão, Indonésia e União Europeia são positivos, mas insuficientes. A China compra mais soja que todos os outros países somados. Não há como compensar essa perda com outros mercados. Os agricultores precisam pressionar congressistas por acordo com a China, mas também por políticas domésticas previsíveis. Sem a China, o Brasil continuará expandindo, e esse efeito será duradouro para competitividade dos Estados Unidos no mercado global. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.