21/Aug/2025
O Greenpeace Brasil e o WWF-Brasil reagiram à suspensão da Moratória da Soja determinada pela Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As organizações ambientais atribuíram a decisão à “pressão de alas retrógradas do agronegócio" e alertaram para riscos climáticos e econômicos, às vésperas da COP30 e da entrada em vigor da legislação europeia contra commodities ligadas ao desmatamento. O Greenpeace afirmou que avançar com o desmonte de um acordo eficaz, reconhecido internacionalmente e construído ao longo de quase vinte anos, em nome do desmatamento livre, seria um “tiro no pé". Sem a Moratória da Soja, considerada um dos acordos multissetoriais mais eficazes do mundo, abre-se caminho para a soja voltar a ser um grande vetor de desmatamento na Amazônia, e isso enterrará qualquer chance de o Brasil cumprir suas metas climáticas. O pacto nunca limitou a expansão agrícola.
Enquanto os municípios monitorados pelo acordo registraram redução de 69% no desmatamento entre 2009 e 2022, a área plantada com soja no bioma Amazônia cresceu 344%. Nesse mesmo período, o Brasil se consolidou como o maior exportador de soja do mundo. A decisão resulta da pressão de alas retrógradas do agronegócio que ameaça quase duas décadas de avanços, pune quem protege as florestas e favorece quem mais lucra com a destruição da Amazônia. O Cade está estimulando o desmatamento e força os mercados a aceitarem soja de desmatamento, silenciando o direito do consumidor de escolher produtos que não contribuam para a devastação da Amazônia. O WWF-Brasil classificou a suspensão como "um vaticínio perigoso para os melhores interesses econômicos do País". Segundo a organização, manter a expansão desordenada da agropecuária na Amazônia, destruindo a floresta e colocando em risco o futuro do Brasil, é o objetivo das associações de produtores rurais que estão questionando a Moratória da Soja com o apoio da ala radical da bancada ruralista do Congresso".
O WWF afirmou que com uma abordagem claramente negacionista dos efeitos das mudanças climáticas, que já impactam severamente a produção rural brasileira, esses grupos representam a visão mais retrógrada do agro brasileiro, que coloca em risco a produção agrícola e a reputação internacional das commodities produzidas no Brasil. A entidade ressaltou que menos de 1% dos produtores rurais brasileiros realizaram algum tipo de desmatamento em 2024, mas essa minoria é responsável por uma das maiores taxas de desmatamento do planeta e suas ações comprometem a reputação de todo o agro brasileiro. As duas entidades também relacionaram a suspensão à pressão internacional. O Greenpeace apontou que o fim da Moratória da Soja vai na contramão da Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), prevista para entrar em vigor no final de 2025, e contribui negativamente para a investigação do governo dos Estados Unidos sobre desmatamento ilegal no Brasil.
O WWF alertou que ignorar a demanda por commodities livres de desmatamento é colocar em xeque a competitividade do agronegócio brasileiro e fechar portas para mercados valiosos. As críticas contrastam com as comemorações do setor produtivo. CNA, Famato e Aprosoja-MT classificaram a decisão do Cade como "marco histórico" em defesa da livre concorrência. O despacho do órgão, publicado na segunda-feira (18/08), suspendeu auditorias conjuntas e troca de informações comerciais no âmbito do Grupo de Trabalho da Soja (GTS), atingindo 30 tradings e entidades como Abiove e Anec, sob pena de multa diária de R$ 250 mil. O processo administrativo deve se prolongar por meses, em paralelo ao julgamento suspenso no Supremo Tribunal Federal sobre a Lei nº 12.709/2024 de Mato Grosso, que trata de benefícios fiscais a signatárias da Moratória da Soja. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.