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13/Aug/2025

EUA: quadruplicar exportações à China é irrealista

Segundo o Commerzbank, a afirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que a China deveria quadruplicar suas compras de soja norte-americana parece mais “um desejo do que uma avaliação realista”. A vontade de Trump é fora da realidade, uma vez que a suposta preocupação chinesa com a escassez de oleaginosa não levaria a um aumento significativo nas compras do produto dos Estados Unidos. Além disso, a demanda do país asiático poderia ser atendida somente pela oferta brasileira. Segundo as previsões do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a China poderia teoricamente atender sua demanda de importação de 112 milhões de toneladas na safra 2025/2026 somente com importações do Brasil.

A China reduziu sua demanda de soja dos Estados Unidos após a disputa tarifária em 2018/2019, no primeiro mandato de Trump, e ampliou significativamente suas compras do Brasil. No ano passado, segundo dados aduaneiros, as importações chinesas de soja dos Estados Unidos foram pouco mais de 22 milhões de toneladas, enquanto as do Brasil chegaram a quase 75 milhões de toneladas. Para comparação, em 2017, antes da disputa tarifária, a proporção era de 33 milhões de toneladas ante 51 milhões de toneladas. Uma divisão semelhante (33 milhões de toneladas ante 58 milhões de toneladas) ocorreu em 2021, com o acordo da Fase 1, que previa maiores compras chinesas de soja dos Estados Unidos, mas essas ficaram longe de se concretizar.

Diante disso, quadruplicar as compras chinesas de soja dos Estados Unidos inverteria a proporção atual, tornando os Estados Unidos o principal fornecedor de soja da China. Os números mostram que isso é impossível. O USDA prevê que os Estados Unidos colherão 116,82 milhões de toneladas em 2025/2026, além de estoques de 8,99 milhões de toneladas. A demanda interna estimada pelo USDA é de 72,05 milhões de toneladas. Portanto, os Estados Unidos não conseguiriam fornecer quatro vezes mais soja à China do que no ano anterior (2024/2025: 20 milhões de toneladas) sem enfrentar uma grave escassez própria. Além disso, preencher a lacuna com importações do Brasil também é inviável por causa da atual tarifa de 50%.

A consultoria Datagro avaliou que o pedido do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a China quadruplicar as aquisições de soja norte-americana é impraticável. Ainda assim, qualquer avanço nas vendas para o mercado chinês pode reduzir a fatia do Brasil nesse destino. Alcançar o volume sugerido por Trump exigiria exportar 88 milhões de toneladas para a China, o equivalente a 75% da safra projetada para 2025/2026 pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Para isso, seria necessário superar em 69% as exportações totais dos Estados Unidos em 2024 e em 39% o recorde histórico registrado em 2020. Um aumento dessa magnitude comprometeria quase que completamente os embarques para outros destinos e afetaria a própria indústria norte-americana, que espera esmagar 69 milhões de toneladas no próximo ciclo.

Embora multiplicar por quatro os embarques seja pouco factível, um aumento nas compras chinesas junto aos Estados Unidos já teria reflexos sobre o Brasil. Em especial considerando-se a alta representatividade brasileira nesse mercado, acima de 70% em 2023 e 2024. Eventual perda de espaço nas vendas à China poderia pressionar preços internos e prêmios, já que nenhum outro país tem capacidade de absorver volumes equivalentes. Mercados alternativos, como Espanha, Tailândia e Turquia, têm porte muito menor e efeito limitado sobre as cotações. Por isso, o tamanho real de um eventual acordo de compras com os Estados Unidos será determinante para medir os riscos e as alternativas de escoamento da soja brasileira. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.