29/May/2025
O leilão das unidades industriais da Imcopa, marcado para o dia 3 de julho, pode encerrar uma das disputas societárias mais longas e complexas do País. Em recuperação judicial desde 2013, a empresa está no centro de um litígio bilionário entre o empresário Walter Faria, controlador do Grupo Petrópolis, e seus antigos assessores Ruy Del Gaiso e Renato Mazzucchelli, da gestora R2C. A disputa já mobilizou escritórios de advocacia ligados a familiares de ministros do STF e STJ e tramita em cortes do Brasil e do exterior. Os advogados Gustavo Salgueiro e Tracy Reinaldet, representantes do Grupo Petrópolis, detalharam a operação e afirmaram que os ativos serão vendidos livres de qualquer ônus, com blindagem jurídica garantida pela legislação. Serão leiloadas três Unidades Produtivas Isoladas (UPIs): as plantas industriais de Araucária e Cambé, no Paraná, e a marca de óleo de soja Leve, com valores mínimos definidos em R$ 900 milhões, R$ 750 milhões e R$ 27 milhões, respectivamente.
A estrutura de venda via UPI garante ao comprador total isenção de passivos da companhia, inclusive trabalhistas, tributários e ambientais. "A aquisição de um ativo como UPI dentro de uma recuperação judicial é a forma mais blindada que existe no direito brasileiro", afirmou Salgueiro. Os lances serão por proposta fechada, com possibilidade de disputa oral entre os autores das ofertas que alcançarem pelo menos 80% do maior valor apresentado. Os valores arrecadados serão depositados em juízo, conforme prevê o plano de recuperação homologado pela 26ª Vara de Falências de Curitiba. A Imcopa, fundada em 1967, tem duas plantas com capacidade total para esmagar 1,5 milhão de toneladas de soja por ano, produzir 240 mil toneladas de proteína concentrada e envasar até 80 mil garrafas por hora de óleo refinado. A unidade de Cambé (PR) é habilitada para processar soja não transgênica, produto demandado por cadeias exportadoras que atendem à produção animal orgânica.
"As plantas são excelentes", disse Salgueiro. Segundo ele, construir instalações semelhantes atualmente custaria mais que o valor pedido e levaria anos. O plano prevê, ainda, a demissão de aproximadamente 500 trabalhadores pela Imcopa e posterior recontratação pelas UPIs. As rescisões, estimadas entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões, serão quitadas com os recursos do leilão. "No dia seguinte, essas pessoas são recontratadas pelas UPIs", garantiu Salgueiro. A disputa entre Faria e seus ex-assessores começou após a aquisição dos créditos da Imcopa, em 2013, por meio da empresa Crowned, registrada em Luxemburgo. A operação foi estruturada para que os créditos comprados permitissem a futura assunção do controle da empresa. Segundo o Grupo Petrópolis, Del Gaiso e Mazzuchelli se afastaram do combinado e tentaram se apropriar do ativo.
Uma decisão de 2023 da Justiça Federal do Distrito Federal transferiu cerca de R$ 3 bilhões em créditos para offshores ligadas a Faria, efetivando seu controle sobre a companhia. Apesar de decisões favoráveis ao Grupo Petrópolis, o caso segue no TRF-1. Segundo Reinaldet, o comprador não será afetado pelo litígio. A Crowned já peticionou no processo reconhecendo a razão do Grupo Petrópolis e manifestando desistência de recorrer. "O adversário já caiu na lona e o juiz está contando até 10", afirmou. O grupo estima que, após a venda e aprovação do Cade, se necessária, os ativos estarão em posse do comprador em até três meses. O Grupo Petrópolis afirma que não pretende participar do leilão e está promovendo roadshows com investidores interessados. "Ela não tem mais interesse em processar soja, quer desfazer esse negócio", disse Salgueiro sobre a posição da cervejaria.
Com a venda das UPIs, a Imcopa seguirá existindo apenas para administrar créditos e passivos remanescentes, até o encerramento definitivo da recuperação judicial. O interesse de grandes empresas do setor não é novidade. Em 2020, a Bunge chegou a arrematar os ativos por R$ 1 bilhão, mas o negócio foi cancelado por causa de disputas societárias em curso. Agora, segundo Reinaldet, há interesse real de mercado nas plantas, com empresas nacionais e internacionais sondando a operação atual. "A gente tem conversado com várias empresas. Algumas delas participaram do leilão anterior, outras são novas", disse. Segundo ele, a situação macroeconômica tem favorecido o surgimento de novos interessados. Os advogados manifestaram confiança de que o processo será bem-sucedido desta vez. "Ninguém aguenta mais essa recuperação judicial. O leilão vai resolver a questão dos ativos e permitir encerrar definitivamente esse processo", concluiu Reinaldet. Fonte: Broadcast Agro.