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09/May/2025

Preço interno se descola dos fundamentos globais

Segundo o Rabobank, a escalada tarifária entre Estados Unidos e China tem alterado os fluxos globais de soja e provocado distorções na precificação da oleaginosa. A imposição de tarifas de até 145% por parte dos Estados Unidos e a retaliação chinesa, com tarifas de até 125%, criam um cenário atípico, em que os preços no Brasil se descolam dos fundamentos globais. Os preços de soja no mercado local não estão refletindo os fundamentos da oleaginosa, e, sim, os desdobramentos de um conflito geopolítico. Mesmo com a expectativa de safra recorde no Brasil, os preços em Reais estão acima dos registrados no ano passado, quando a produção foi comprometida.

Nos últimos 12 meses, o preço da soja na Bolsa de Chicago caiu 13%, enquanto o indicador do Cepea em Reais subiu 3%. A diferença é explicada por fatores como a valorização dos prêmios nos portos brasileiros e o comportamento do câmbio nos primeiros meses do ano. Com certeza, é preciso citar o câmbio, que teve um papel fundamental para uma melhora dos preços em Reais. No balanço de oferta e demanda da safra 2024/2025, o Rabobank elevou a estimativa de exportação de soja do Brasil de 103 milhões de toneladas para 109 milhões de toneladas. Assumindo que as tarifas vão estar em vigor até o fim do ano, a China continuará importando soja brasileira numa janela onde geralmente a soja norte-americana é mais competitiva.

A menor participação do milho nos embarques neste ano deve abrir espaço logístico adicional para a soja. A combinação de prêmios elevados e Real valorizado tem pressionado as margens de esmagamento da soja no Brasil. Essa alta dos preços de soja em Reais tem reduzido as margens de esmagamento. Destaque também para o adiamento do aumento da mistura obrigatória de biodiesel de 14% para 15%, inicialmente previsto para março, reduziu o estímulo à demanda por óleo de soja no mercado interno. Nos Estados Unidos, o plantio da nova safra avança em ritmo acelerado. Até 28 de abril, 24% da área de milho e 18% da área de soja já haviam sido plantadas, ambas acima das médias de cinco anos, de 22% e 12%, respectivamente.

Esses números indicam um ritmo acelerado de plantio, o que pode ser atribuído a condições climáticas favoráveis e à eficiência das operações agrícolas. Para a safra 2025/2026, é esperada uma redução de 4% na área norte-americana de soja e um aumento de 5% na área de milho. Eventuais mudanças climáticas ou de área podem alterar os preços na Bolsa de Chicago e gerar oportunidades de comercialização para o produtor brasileiro. O mercado vai voltar a precificar fundamentos e não mais os riscos geopolíticos. O Brasil precisa ficar atento para aproveitar boas oportunidades e minimizar os riscos.

Segundo o Itaú BBA, a nova rodada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China deve ampliar a demanda pela soja brasileira no segundo semestre, período historicamente dominado pelas exportações norte-americanas. A China vai ter dificuldades para originar soja entre outubro e fevereiro, justamente quando a oferta brasileira diminui. A dependência da China em relação ao Brasil deve crescer, e isso muda a lógica do mercado global. Com tarifas de até 145% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses e resposta equivalente da China sobre importações norte-americanas, a soja brasileira passa a ocupar um espaço que seria dos Estados Unidos. Ainda não se observa esse impacto nos preços porque o período é de pico das vendas.

Em abril, o farmer selling brasileiro chegou perto de 12 milhões de toneladas, e maio tende a manter um ritmo forte. A primeira guerra comercial, em 2018, derrubou as exportações norte-americanas de soja de 59 milhões de toneladas para 45 milhões de toneladas, mas os prêmios no Golfo do México permaneceram positivos. Mesmo com excesso de oferta, o prêmio chegou a +US$ 0,20 por bushel. Este ano, já há ofertas para outubro e novembro com prêmios de até +US$ 0,90 por bushel, o que mostra que a soja norte-americana dificilmente será barata. Nesse cenário, a soja brasileira tende a acompanhar os valores norte-americanos. Com prêmios em torno de US$ 2,00 por bushel acima da Bolsa de Chicago no destino, o Brasil deve manter ao menos esse patamar.

Se a China não tiver alternativa aos Estados Unidos, os prêmios podem subir ainda mais. A situação é agravada pela redução de 4% na área de soja plantada nos Estados Unidos e aumento da área de milho. Com menos área e maior demanda para esmagamento, a soja norte-americana fica mais escassa para exportação. Isso dá ainda mais força ao Brasil. Os preços atuais não refletem os fundamentos tradicionais do mercado, mas sim os efeitos da tensão geopolítica. O farelo na China, por exemplo, está com preço muito abaixo do razoável. Isso porque, por ora, a soja norte-americana saiu do balanço de oferta e demanda chinês. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.