09/Apr/2025
O pedido de recuperação judicial do Grupo Safras, protocolado na última sexta-feira (04/04) na 4ª Vara Cível de Sinop (MT), provocou o vencimento antecipado automático de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) da 55ª emissão da Opea Securitizadora. O título é lastreado em dívidas da Copagri - empresa paranaense adquirida pelo grupo em 2023 e rebatizada como Safras Agroindústria, e faz parte da carteira do Fiagro Vectis Datagro (VCRA11), segundo fato relevante divulgado na noite de segunda-feira (07/04). De acordo com o documento, a operação representa cerca de 3,5% do patrimônio do fundo, avaliado atualmente em R$ 478,4 milhões. A gestora Vectis, a administradora Intrag DTVM e a consultoria AgFinancial informaram que a dívida possui garantias reais, constituídas por cessão fiduciária de recebíveis, e aval dos sócios da companhia. O comunicado afirma que as instituições “adotarão as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis” para proteger os cotistas.
A nota também destaca que os desdobramentos da recuperação judicial ainda estão sendo acompanhados e que o mercado será atualizado conforme a evolução do processo. Na B3, o VCRA11 encerrou a segunda-feira (07/04) negociado a R$ 63,65 por cota, em leve queda de 0,24% no dia. No acumulado de 12 meses, a desvalorização chega a 19,27%, reflexo da pressão sobre o mercado de crédito agroindustrial. O fundo opera com desconto de 39% em relação ao seu valor patrimonial por cota, hoje em R$ 104,15, com um P/VP de 0,61. Ainda assim, o VCRA11 mantém um dividend yield de 18,52% no período e média de R$ 823 mil em liquidez diária. Segundo dados públicos, o fundo conta com 10.888 cotistas. O Grupo Safras reúne 40 empresas e produtores rurais organizados em dois núcleos empresariais, liderados por Pedro de Moraes Filho e por Dilceu Rossato, ex-prefeito de Sorriso (MT). No pedido, o conglomerado declarou passivo total de R$ 2,2 bilhões.
As dificuldades teriam se agravado a partir da quebra no mercado de soja em 2023, com queda de até 62% nos preços no primeiro semestre, além da aquisição da Copagri e da realização de investimentos em usinas de etanol e esmagadoras de soja sem estrutura de project finance. O grupo também citou a falência da consultoria responsável pela implantação do sistema SAP como um dos fatores que comprometeram suas operações. A juíza Giovana Pasqual de Mello, responsável pelo caso, ainda não aceitou formalmente o processamento do pedido. Em decisão proferida na segunda-feira (04/04), ela exigiu a exclusão de R$ 420,6 milhões em dívidas extraconcursais do valor da causa e determinou a apresentação de 61 documentos adicionais em até 15 dias. A lista inclui balanços patrimoniais individualizados, certidões criminais e falimentares, extratos bancários e livros fiscais dos produtores rurais integrantes do grupo.
Além do Vectis, outro Fiagro listado na B3 também possui exposição aos CRAs emitidos pela Copagri. Trata-se do Itaú Asset Rural Fiagro (RURA11), fundo gerido pelo Itaú Unibanco, que tem aproximadamente 0,7% de seu patrimônio vinculado aos papéis. Até o momento, no entanto, não houve fato relevante divulgado sobre o impacto do pedido de recuperação judicial na carteira do fundo. O RURA11 fechou a sessão de segunda-feira (07/04) cotado a R$ 7,54, em leve alta de 0,27%. O fundo acumula desvalorização de 24,45% nos últimos 12 meses e é negociado com desconto em relação ao valor patrimonial por cota (R$ 10,16). A carteira soma R$ 1,62 bilhão em patrimônio líquido e conta com 85.522 cotistas. A liquidez média diária do fundo é de R$ 1,99 milhão, segundo dados da B3. Antes do pedido de recuperação judicial, o Grupo Safras já havia recorrido à Justiça para tentar impedir a reintegração de posse da planta industrial de Cuiabá (MT), arrendada por meio de uma complexa cadeia contratual que remonta à massa falida da Olvepar. A liminar concedida à época suspendeu temporariamente a desocupação, mas a instabilidade jurídica contribuiu para a formalização do pedido de RJ poucos dias depois. Fonte: Broadcast Agro.