08/Apr/2025
O Grupo Safras protocolou no dia 4 de abril pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Cível de Sinop (MT), com objetivo de reestruturar um passivo estimado em R$ 2,2 bilhões. A solicitação abrange 40 empresas e produtores rurais organizados nos núcleos empresariais liderados por Pedro de Moraes Filho e Dilceu Rossato, ex-prefeito de Sorriso (MT). O caso será analisado pela juíza Giovana Pasqual de Melo. O pedido foi apresentado após o indeferimento, em março, de uma medida cautelar que tentava evitar a reintegração de posse de uma planta industrial de soja em Cuiabá. Na decisão, a magistrada deu prazo de 15 dias para que as empresas formalizassem o pedido de recuperação judicial, o que foi feito agora em litisconsórcio ativo. Segundo a petição, cada devedor mantém ativos, passivos e operações comerciais próprias, mas o processamento conjunto seria uma forma de "economia processual" e "aumento de eficiência da gestão da superação da crise".
No documento, os advogados argumentam que o Grupo Safras enfrenta dificuldades financeiras desde 2023, após uma queda acentuada nos preços da soja. "A oscilação do preço da soja, em especial a queda exponencial no primeiro semestre/2023, represou as ordens de venda do grão estocado nos armazéns”, afirmaram. Ainda segundo a petição, as vendas ficaram em “cerca de 40% da produção estimada". A crise teria se agravado com a aquisição da Copagri, rebatizada como Safras Agroindústria, operação que teria envolvido a “absorção de um passivo relevante de mais de meio bilhão de reais” e investimentos para retomar o funcionamento da planta industrial. O grupo menciona ainda "altos investimentos em capex da usina de etanol de milho e na esmagadora de soja sem a utilização de project finance" como fatores que comprometeram o caixa. Segundo os autores, a falência da consultoria contratada para implantação do sistema SAP, no fim de 2023, também impactou as operações.
“Gerou significativos prejuízos para a operação e contabilidade das requerentes”, diz a petição. O grupo afirma que sofreu bloqueio de aproximadamente R$ 5 milhões em créditos a receber e uma ordem de arresto de grãos no valor de R$ 11,5 milhões. Também foram citadas notificações de desocupação de armazéns arrendados. Os advogados afirmam que “esses são apenas alguns dos fatores que colocaram os requerentes em um contexto de crise”. Na petição, o Grupo Safras solicita a antecipação dos efeitos do stay period e pede que a planta industrial de Cuiabá seja declarada essencial. "A retirada da planta industrial da legítima posse do Safras representa severo e concreto risco de solução de continuidade de um dos braços de operação do grupo", afirmaram. A estrutura tem capacidade de esmagamento de 1.700 toneladas de soja por dia, recebe 50 caminhões e emprega mais de 180 trabalhadores. A empresa relata que deixou de receber grãos de terceiros durante a safra atual para evitar riscos jurídicos sobre esses volumes.
"Durante o período de colheita da soja, o grupo foi procurado por diversos produtores interessados na armazenagem do grão, mas, por precaução, decidiu não receber as cargas, evitando assim colocar novos ativos em risco diante das ameaças de protestos e penhoras." Apesar da crise, os autores sustentam que "não há dúvidas da viabilidade e potencial tanto do Núcleo Safras como do Núcleo Rossato" e afirmam que “com os remédios corretos, como este pedido de recuperação judicial, haverá o fôlego necessário à reestruturação do fluxo de caixa, das despesas e estratégias de operação e, por fim, o salutar soerguimento individualizado de cada um dos núcleos”. O processo foi assinado pelos advogados Elias Mubarak Junior e Daniel Carnio. Com o pedido, o grupo se junta a outras empresas do setor agroindustrial que entraram em recuperação judicial nos últimos meses, como AgroGalaxy e Portal Agro. A lista de credores apresentada pelo Grupo Safras em seu pedido de recuperação judicial mostra que o Bravano Fundo de Investimento em Direitos Creditórios é o maior credor individual, com R$ 284,1 milhões.
Este fundo, que compra recebíveis de empresas e antecipa recursos, representa a maior parte das dívidas extraconcursais da companhia, aquelas que não se sujeitam às regras da recuperação judicial. Além do Bravano FIDC, outros fundos de investimento em direitos creditórios também aparecem diretamente na lista de credores, como o Daniele Múltiplo FIDC (R$ 50 milhões) e o Sigma Credit FIDC (R$ 3 milhões). O documento, anexado ao processo protocolado na 4ª Vara Cível de Sinop (MT), registra uma dívida total de R$ 2,2 bilhões distribuída entre 458 credores, incluindo bancos, fundos de investimento, securitizadoras, fornecedores, produtores rurais e prestadores de serviços. O setor financeiro tem exposição ao grupo, com o Banco do Brasil aparecendo como principal instituição tradicional, com operações que somam aproximadamente R$ 245 milhões em diferentes categorias. As instituições financeiras têm presença relevante na lista.
Além do Banco do Brasil, o Banco Bradesco (R$ 43,3 milhões), o Banco Santander (R$ 39,7 milhões), o Itaú Unibanco (R$ 16,7 milhões), a Caixa Econômica Federal (R$ 69,6 milhões), o Banco ABC Brasil (R$ 17,3 milhões), o Banco BMG (R$ 5,7 milhões), o Banco Amazônia (R$ 5,9 milhões), o Banco BS2 (R$ 1,4 milhão) e o Banco Luso (R$ 5,9 milhões) constam entre os credores. Somadas, apenas as exposições dos bancos comerciais ultrapassam R$ 450 milhões. Cooperativas de crédito também figuram na relação, com o Sicoob Credisul somando R$ 92,7 milhões em diferentes classes, o Banco Cooperativo Sicredi (R$ 35,4 milhões) e a Confederação Nacional das Cooperativas Centrais Unicred (R$ 5,5 milhões). A D&P Participações, empresa dos próprios sócios Pedro de Moraes Filho e Dilceu Rossato, aparece como maior credora quirografária, com R$ 117 milhões, seguida pela Flowinvest Securitizadora (R$ 98,8 milhões), RD Comércio e Representações (R$ 97,1 milhões) e Oliveira Trust (R$ 92,4 milhões).
A classificação das dívidas indica que 67,4% do passivo (R$ 1,48 bilhão) corresponde a créditos quirografários, enquanto 13,3% (R$ 292 milhões) são garantidos por bens. Os créditos extraconcursais representam 19,1% do total (R$ 420,6 milhões). As dívidas trabalhistas são 0,1% (R$ 1,5 milhão). Além dos credores diretos que constam na lista, o pedido de recuperação judicial do Grupo Safras pode afetar investidores indiretos, incluindo Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) que compraram CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) da Copagri, empresa adquirida pelo grupo em 2023 e posteriormente rebatizada como Safras Agroindústria. Dois fundos do agronegócio negociados na B3 têm exposição aos CRAs emitidos pela Copagri no valor total de R$ 150 milhões: o Itaú Asset Rural Fiagro Imobiliário (RURA11), gerido pelo Itaú Asset, e o Vectis Datagro Crédito Agronegócio Fiagro (VCRA11), da gestora Vectis.
Aproximadamente 3,18% do patrimônio líquido do VCRA11 está investido no CRA da Copagri, enquanto 0,7% do patrimônio do RURA11 também está exposto ao título. Segundo fontes do mercado, o Grupo Safras mantinha-se adimplente com o pagamento dos CRAs até o momento do pedido de recuperação judicial. Por empresa, a Safras Armazéns Gerais concentra R$ 1,56 bilhão em dívidas, equivalente a 71% do passivo total. A Safras Agroindústria, antiga Copagri, adquirida em 2023, responde por R$ 402,7 milhões (18,3%). As demais dívidas estão distribuídas entre outras empresas e produtores rurais vinculados ao conglomerado, incluindo a Safras Indústria e Comércio de Biocombustíveis (R$ 27,4 milhões), o produtor rural Dilceu Rossato (R$ 68,5 milhões) e a D&P Participações (R$ 117 milhões). A lista de credores inclui mais de 20 produtores rurais com créditos superiores a R$ 1 milhão cada, além de empresas de transporte, fornecedores de insumos e prestadores de serviços. Entre as empresas de maior porte, a Caramuru Alimentos aparece com crédito de R$ 34,7 milhões.
A petição de recuperação judicial do Grupo Safras foi apresentada por 40 empresas e produtores rurais em litisconsórcio ativo, divididos nos núcleos empresariais Safras e Rossato. Os advogados alegam que a queda de 62% no preço da soja entre janeiro e julho de 2023 travou as vendas, com apenas 40% da produção comercializada. No período, o grupo adquiriu a Copagri (hoje Safras Agroindústria), assumindo um passivo superior a R$ 500 milhões e investindo na planta industrial de Cuiabá, além de aplicar recursos na usina de etanol de milho e na esmagadora de soja. Em março de 2025, a Justiça determinou a reintegração de posse da planta, em disputa com a massa falida da Olvepar. Após conseguir uma liminar que suspendeu temporariamente a medida, o grupo formalizou o pedido de recuperação dentro do prazo de 15 dias concedido pela juíza Giovana Pasqual de Mello, que agora decidirá sobre o processamento do caso, o stay period e a essencialidade de ativos como a unidade de Cuiabá e 14 armazéns. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.