25/Mar/2025
Segundo o Rabobank, o aumento da mistura obrigatória de biodiesel, de 14% para 20% até 2030, no Brasil vai exigir 9 milhões de toneladas adicionais em capacidade de esmagamento de soja. A lei que estabelece a elevação gradual da mistura (Combustível do Futuro), sancionada em outubro de 2024, prevê alta de um ponto porcentual por ano a partir deste ano. Oito projetos de expansão e construção de novas unidades devem acrescentar 6 milhões de toneladas à capacidade já existente, mas isso não será suficiente. Cobrirá apenas uma parte do volume necessário. A demanda crescente por óleo de soja, que respondeu por 72% da matéria-prima usada na produção de biodiesel em 2024, tem sustentado as margens e incentivado o crescimento da indústria.
De 2013 a 2024, a produção de biodiesel no País avançou, em média, 10% ao ano. O aumento da mistura, que era de apenas 2% em 2008, foi determinante nesse avanço. A capacidade de esmagamento também acompanhou esse movimento. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) mostram que o Brasil passou de 48 milhões de toneladas de capacidade em 2010, com taxa de utilização de 74%, para 67 milhões em 2024, com uso de 81% do potencial. O Rabobank projetou que a produção brasileira de soja deve alcançar 185 milhões de toneladas até 2030, com ampliação sobre áreas de pastagem e maior produtividade. O suprimento não é visto como problema, mas o aumento do esmagamento deve elevar a oferta de farelo, exigindo maior competitividade na exportação.
A oportunidade é que essa oferta pressionará os preços, o que será bem-vindo pelo setor pecuário e pode tornar o farelo brasileiro mais competitivo na exportação. A produção de carnes, por outro lado, deve crescer apenas 1% ao ano, ritmo considerado insuficiente para absorver o excedente no mercado interno. Fatores externos também impulsionaram o setor. Três anos seguidos de La Niña (2021 a 2023) reduziram a oferta de soja na Argentina, tradicional exportadora de derivados do grão. A guerra na Ucrânia afetou a produção e exportação de óleo de girassol, elevando a demanda global por óleos vegetais. Ao mesmo tempo, o crescimento da produção de biodiesel e diesel renovável aumentou o consumo de óleos e gorduras.
Entre 2019 e 2024, os preços médios da soja em grão e do farelo subiram de 65% a 70%, enquanto o óleo de soja dobrou de valor. Em 2019, os preços ainda não haviam sido impactados pela escassez de soja ou pela guerra na Ucrânia. Esse movimento aumentou a participação do óleo nas margens de esmagamento, mas reduziu a oferta disponível para exportação. O banco chamou atenção para a baixa ociosidade nas unidades de refino de óleo vegetal. Em 2024, a capacidade ativa permaneceu em nível semelhante ao de 2010, com queda na capacidade ociosa. Houve também recuo na capacidade de envase ao longo dos últimos 11 anos, sinal de que a demanda por óleo de soja para alimentação não tem crescido no mesmo ritmo. Destaque ainda para o papel social da cadeia de biodiesel.
Em 2021, mais de 70 mil pequenos produtores foram beneficiados, 70% deles com áreas de até 40 hectares. Mesmo que os agricultores brasileiros sejam conhecidos por possuírem grandes áreas, o setor de biodiesel desempenha um papel econômico e social na agricultura familiar brasileira. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o complexo soja responde por 18% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, com forte peso na economia do País. A nova legislação também autorizou misturas superiores à obrigatória em setores como transporte público, ferrovias, barcaças e veículos agrícolas. Essa abertura pode fomentar um mercado livre de biodiesel, com adoção voluntária por empresas.
Algumas empresas estão dispostas a substituir o diesel já misturado com biodiesel por um biocombustível totalmente composto por biodiesel em algumas operações. O crescimento da demanda interna é essencial diante das incertezas nas exportações. O Brasil enfrenta vários obstáculos no mercado de exportação de soja, o que torna o aumento da demanda doméstica crucial. Ressalta-se o arrefecimento das importações chinesas e os impactos da legislação europeia de desmatamento (EUDR). A falta de investimentos em infraestrutura logística também pode limitar o escoamento da produção. A consistência nas políticas governamentais e a demanda do setor privado serão fundamentais para alcançar o sucesso, pois minimizariam os riscos associados a investimentos adicionais em capacidade de esmagamento. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.