26/Feb/2025
Segundo a Datagro, o aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, de 14% para 15%, que entraria em vigor em março, mas foi adiado, teria impacto marginal no preço ao consumidor, estimado em R$ 0,01 por litro. A recente valorização do biodiesel tem sido impulsionada principalmente pela alta no preço do óleo de soja, sua principal matéria-prima. Em 2024, 74% dos 9,1 bilhões de litros de biodiesel produzidos no Brasil tiveram origem no óleo de soja. Em outubro de 2024, a cotação do óleo de soja em Mato Grosso atingiu R$ 6.340,00 por tonelada, o maior valor desde fevereiro de 2023. Embora tenha recuado para R$ 5.750,00 por tonelada nos últimos dias, o patamar atual ainda está 45% acima do registrado um ano antes. Para investigar a relação entre os preços, foi utilizado um método estatístico chamado Teste de Causalidade de Granger, que analisa a sequência temporal dos dados para determinar se uma variável influencia a outra.
O estudo concluiu que o aumento no preço do óleo de soja ocorre antes da valorização do biodiesel, indicando que a alta da matéria-prima é a principal responsável pelo encarecimento do biocombustível. O preço do óleo de soja impacta diretamente o preço do biodiesel, e não o contrário. O estudo aponta que o preço médio do biodiesel ao produtor no Brasil atingiu um recorde nominal de R$ 6,53 por litro na semana encerrada em 18 de novembro de 2024, ficando 68,6% acima do preço médio do diesel fóssil. Apesar da correção recente para cerca de R$ 6,00 por litro e da revisão no preço do diesel pela Petrobras no início de fevereiro, o diferencial de preços permanece elevado, em torno de 47%. A alta do óleo de soja é atribuída principalmente à quebra da safra 2023/2024, que reduziu a produção para 153,1 milhões de toneladas, apesar do aumento de 3,5% na área colhida.
Outros fatores que contribuíram para a valorização incluem o aumento da demanda chinesa por soja brasileira, a instabilidade no mercado de óleo de palma e a valorização da taxa de câmbio R$/US$. A expectativa, no entanto, é de alívio nos preços com a previsão de uma safra recorde em 2024/2025. A produção de soja deve crescer 9,5%, para 167,6 milhões de toneladas, o que deve reduzir a pressão sobre os preços do óleo de soja e, consequentemente, do biodiesel. O tema segue em debate no setor, com a Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) defendendo que o B15 seja aprovado na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), no máximo em dois meses. O governo parece ter usado o impacto marginal do aumento da mistura como justificativa para suspender o B15, enquanto fatores externos, como a quebra da safra de soja e a redução na produção de óleo de palma na Indonésia, tiveram influência mais significativa na valorização do insumo.
O governo pode ter interpretado erroneamente a relação entre o biodiesel e a alta dos preços dos alimentos. O problema não é o biodiesel, é um contexto internacional, de cenário inflacionário nosso e câmbio. O preço do óleo de soja já recuou 11% e a elevação da mistura não seria o fator determinante para o encarecimento dos produtos. A discussão sobre o impacto da mistura obrigatória ocorre em meio à decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que, no dia 18 de fevereiro, suspendeu temporariamente o aumento da mistura para 15%, mantendo o percentual atual de 14%, sob justificativa de conter o preço dos alimentos. Além disso, o CNPE aprovou uma operação conjunta entre órgãos do governo para combater fraudes na mistura obrigatória do biocombustível ao diesel. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.