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20/Feb/2025

Óleo de Soja: cenário de preços menores em 2025

O presidente Lula manifestou, em janeiro, descontentamento com o aumento dos preços dos alimentos na inflação ao consumidor. Dentre os produtos citados estava o óleo de soja refinado para consumo alimentício, que chamamos de envasado. Imediatamente, passamos a fornecer ao governo e à imprensa informações sobre os preços dos produtos que fazem parte da cadeia produtiva da Abiove: óleo envasado, óleo degomado para o mercado interno (matéria-prima para a produção do refinado e do biodiesel), óleo degomado para exportação, farelo de soja e, claro, biodiesel. As informações geradas estão descritas neste artigo. Para contextualizar corretamente, inicio com um panorama de 2024. Houve, de fato, um aumento nos preços do óleo vegetal e do biodiesel no ano passado, sobretudo no segundo semestre. Esse aumento foi causado por duas variáveis principais. A primeira foi a menor oferta de soja, decorrente da redução na produção, principalmente nos Estados do Centro-Oeste. Quando a safra passada foi plantada, havia projeções de que ela chegaria a 165 milhões de toneladas.

No entanto, devido aos problemas climáticos, a produção efetiva foi de 153,5 milhões de toneladas, com grande parte da perda ocorrendo no Centro-Oeste, região que possui a maior capacidade de processamento de soja do Brasil. A menor safra gerou desafios para a indústria no segundo semestre, já que a colheita ocorre no primeiro semestre. A indústria cumpriu seu papel ao aumentar o processamento, reduzindo as exportações de soja em grãos para garantir o abastecimento interno. A soja, no entanto, e quase todos os seus derivados, incluindo óleo de soja e biodiesel, sofreram aumento de preço devido à menor oferta da matéria-prima. A partir de agosto, um segundo fator agravante surgiu: a forte desvalorização cambial, que pressionou os preços de todas as commodities vinculadas ao mercado internacional. Assim, a alta nos preços no segundo semestre pode ser explicada em partes iguais: 50% devido à menor oferta e 50% devido à desvalorização cambial. Embora a demanda interna por óleo para biodiesel estivesse crescendo com o aumento do teor para 14% em março, o principal fator para os preços elevados foi a restrição na oferta.

Ainda sobre 2024, um aspecto frequentemente ignorado é o comportamento do preço do farelo de soja (por isso mencionei que quase todos os derivados foram afetados). A redução nos preços do farelo é convenientemente esquecida nessas discussões. Devido à maior oferta de farelo, resultado do aumento na produção de óleo de soja para atender à demanda por biodiesel, os preços caíram tanto no mercado interno quanto na paridade de exportação. Agora, vamos analisar 2025. Os preços no varejo do óleo de soja envasado atingiram seu pico em dezembro de 2024, caíram em janeiro e seguem em queda em fevereiro. O IPCA do IBGE de janeiro já indicou essa tendência, registrando uma redução de -0,87%. No entanto, sabemos que o varejo demora mais para refletir as oscilações de preço devido à necessidade de escoar os estoques. Os preços no atacado do óleo de soja envasado, ou seja, o valor que a indústria vende ao varejista, caiu 4,9% em São Paulo e 6,8% no Paraná em janeiro, e continua em queda. No ano passado, quando o preço no atacado começou a subir, levou cerca de um mês para que essa alta chegasse ao varejo.

O mesmo ocorrerá agora: com a queda nos preços da indústria, a redução chegará ao consumidor final em breve. Vários supermercados já estão promovendo descontos, confirmando a tendência. Ainda não temos o IPCA de fevereiro, mas uma simples ida ao supermercado é suficiente para constatar a redução nos preços dos alimentos em 2025. A principal matéria-prima para o biodiesel é o óleo degomado. Utilizamos como referência o preço do óleo degomado para exportação, pois, embora em menor volume, o Brasil também exporta esse produto. Em 2024, cerca de 12,3% da produção foi destinada ao mercado externo. O preço FOB no porto depende do mercado internacional e do prêmio. Quando a oferta é grande e a demanda baixa, o prêmio é negativo, e vice-versa. Em 2023 e no primeiro semestre de 2024, o prêmio foi negativo. Com a confirmação da menor safra, o cenário mudou, tornando o prêmio positivo. Consequentemente, o preço do óleo degomado no mercado interno, por conta da menor safra, teve que acompanhar o prêmio para exportação e subiu.

O prêmio positivo para ó óleo degomado no porto também resultou de um menor abastecimento de óleo vegetais no mercado internacional, uma vez que a produção de óleo de palma asiático está estagnada, enquanto a demanda doméstica cresce devido aos aumentos contínuos do teor de biodiesel no diesel na Indonésia. O país substitui muito mais diesel por biodiesel do que o Brasil. Em 2025, o prêmio do óleo degomado para exportação está em queda, pois o mercado já considera a ampliação da oferta de soja e da capacidade de processamento no Brasil. Por fim, os preços do biodiesel já caíram 9,5% em 2025. Assim como no setor alimentício, a tendência é de redução nos preços da energia. A base para eu afirmar que os preços tendem a cair mais são três fatos. A safra recorde de soja, com 171,7 milhões de toneladas, 18 milhões a mais do que a safra passada. Em equivalente óleo e farelo de soja, essa produção adicional geraria 3,6 milhões de toneladas de óleo e 14,5 milhões de toneladas de farelo de soja. Os diversos investimentos realizados em capacidade de esmagamento de soja, com várias usinas de biodiesel se verticalizando para trás, visando garantir suprimento de óleo de soja em sistema integrado.

A estimativa da Abiove é que, se o teor viesse a subir para 15%, conforme aprovado no ano passado, seriam necessárias 2,1 milhões de toneladas a mais de processamento de soja para atender o crescimento da demanda por biodiesel. Pelo menos até hoje, não há perspectivas para a mesma pressão cambial observada no ano passado. As quatro variáveis juntas: safra recorde de soja, processamento recorde, crescimento da capacidade de processamento e ausência de pressão cambial desenham cenário de menores preços em 2025. Nota-se que, até agora, não comentei sobre a decisão do CNPE de 18/02 de manter o teor de biodiesel em 14%. O cenário de preços, devidamente detalhado acima, levava a uma só conclusão: manter a decisão do ano passado de subir o teor para 15%. Mas o medo do futuro anda grande. Fonte: André Meloni Nassar. Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Broadcast Agro.