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19/Feb/2025

Biodiesel: impacto limitado do aumento da mistura

Fabricantes de biodiesel preveem impacto limitado do aumento da mistura obrigatória do biodiesel ao óleo diesel de 14% para 15% no preço do diesel na bomba. A previsão de entidades do setor é de aumento de R$ 0,01 por litro no preço do diesel ao consumidor final com a implementação do B15 a partir de 1º de março. O calendário de evolução da mistura foi definido em resolução pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em dezembro de 2023. A avaliação da Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) é de que o efeito será menor que em momentos anteriores de aumento da adição obrigatória em virtude da atual menor disparidade entre o preço do biodiesel e do óleo de soja e da queda do óleo de soja, principal matéria-prima para produção do biocombustível. A entrada da nova mistura terá impacto mínimo do preço do diesel na bomba, porque o preço do biodiesel está caindo com desvalorização do dólar ante o Real e queda do valor do óleo de soja.

O impacto "limitado" do aumento da adição obrigatória no preço do combustível ao consumidor reflete também o fato de que o aumento será de apenas 1%, diferentemente do ano passado, quando a mistura foi de 12% para 14%. Na avaliação do setor, o impacto de R$ 0,01 por litro do aumento da mistura pode ser diluído ao longo dos próximos meses à medida que haja sustentação da redução do preço do biodiesel. Dados de mercado do preço do biodiesel corroboram a expectativa das usinas. Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor do biodiesel no País caiu 2,8% na semana encerrada em 9 de fevereiro. O preço ao produtor de biodiesel foi de R$ 5,9145 por litro na média nacional no período de 3 a 9 de fevereiro, de acordo com a ANP. Já o valor cobrado às distribuidoras voltou a operar abaixo de R$ 6,00 por litro na maior parte do País, à exceção das Regiões Norte e Nordeste, atingindo o valor mais baixo desde outubro de 2024. O menor nível foi registrado na Região Sul, onde a média ficou em R$ 5,79349 por litro.

A consultoria StoneX prevê maior estabilidade para o biodiesel neste primeiro semestre, com uma demanda prevista de 10,2 milhões de m³ de biodiesel em 2025, 1,2 milhão de m³ a mais que em 2024. Depois da forte alta de preços do óleo e, consequentemente, do biodiesel durante praticamente todo o ano passado, o primeiro semestre de 2025 pode trazer maior estabilidade. O aumento da mistura do biodiesel neste ano será menos intenso que o visto nos últimos dois anos, de apenas 1% adicional, gerando um incremento menos intenso na demanda. Além disso, o Brasil deve produzir uma safra recorde de soja, o que deve impulsionar o esmagamento. O que tende a garantir grande disponibilidade de óleo conforme a colheita avança, com maiores volumes entrando no mercado principalmente a partir de março, indo de encontro com a implementação do B15. A tendência de queda do preço do biodiesel acompanha o direcionamento de preços do óleo de soja, principal matéria-prima utilizada na fabricação do biocombustível.

A safra de soja deve ser recorde, o que diminui a pressão sobre as cotações do óleo. O preço do óleo já começou a cair com expectativa de aumento de mais de 3% no esmagamento interno de soja, para 57,5 milhões de toneladas. O preço final do óleo de soja, considerando o prêmio (diferença entre o preço praticado no mercado doméstico e no mercado internacional) e o valor FOB do produto, vem caindo desde o fim de janeiro. O preço do óleo vegetal está atrelado ao do mercado internacional, com a referência na Bolsa de Chicago, ao câmbio e à oferta do grão. Uma eventual maior oferta da soja a partir de março e pico da disponibilidade da oleaginosa em abril, com entrada da safra no mercado, pode levar a um prêmio negativo, o que pode refletir no preço final do óleo de soja. A perspectiva é de estabilidade à queda nos preços do óleo vegetal, que tem participação em média de 85% entre as matérias-primas utilizadas na produção do biocombustível.

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que serão produzidos 11,45 milhões de toneladas de óleo de soja em 2025. Outras 200 mil toneladas do óleo vegetal tendem a ser importadas. O consumo interno do óleo vegetal deve ficar em 10,5 milhões de toneladas, sendo 3,8 milhões de toneladas destinados ao mercado alimentício e 6,7 milhões de toneladas para a produção de biodiesel. Para exportação, devem ser destinadas 1,1 milhão de toneladas. Se confirmada a previsão, a produção de óleo vegetal será 350 mil toneladas superior ao registrado em 2024. Os preços do óleo de soja vêm apresentando uma trajetória de queda, refletindo a normalidade da oferta e as condições do mercado global. A indústria nacional opera com capacidade para atender plenamente a demanda dos mercados de óleo envasado, do setor de biodiesel e de exportações. Esses argumentos foram apresentados pela FPBio em conversas reservadas com o Ministério da Fazenda, de Minas e Energia, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e da Agricultura na tentativa de blindar a mistura do setor e desvincular o aumento do óleo de soja verificado em 2024 do uso do produto para produção de biocombustível.

A alta de 29% do preço do óleo de soja levou o governo a questionar o sobre eventual relação do aumento do produto com a evolução da mistura obrigatória de biodiesel ao óleo diesel. O setor tenta convencer o governo que não há disputa entre a produção de energia e de alimentos a partir de matérias-primas vegetais. O setor nega que a inflação do óleo de soja esteja atrelada à maior produção de biocombustível no País. O óleo de soja subiu no ano passado em decorrência de uma safra menor de soja em 2024, da valorização do dólar ante o Real e dos preços recordes de óleo de palma, que aumentam sua paridade. O percentual mínimo obrigatório de mistura de biodiesel ao óleo diesel com progressão para 15% a partir de 1º de março foi estabelecido em resolução pelo CNPE em dezembro de 2023, quando o cronograma da mistura para 2024 e 2025 foi definido. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.