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07/Feb/2025

Biodiesel não é responsável por alta no preço da soja

Diante da crescente preocupação do governo com a alta no preço dos alimentos, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscam informações que ajudem a explicar os motivos que levaram o óleo de soja a aumentar quase 30% no ano passado. Querem saber ainda se o aumento da produção de etanol pode estar influenciando os preços do milho. Representantes empresariais estão respondendo a pedidos de informação enviados por emissários de Lula. Em entrevista na semana passada, Lula reclamou que o óleo de soja custava R$ 4,00 por litro quando ele chegou à Presidência e, agora, estava perto de R$ 10,00 por litro. O presidente cogitou se é a soja para o biodiesel que está criando problema; se é o milho para o etanol está criando problema. A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) passou informações ao governo de que está investindo em usinas de etanol de milho e dados que mostram o que está acontecendo no mercado internacional, como o aumento da área plantada e a contribuição do etanol de milho para a segurança alimentar e para a segurança energética.

Os produtores de óleo de soja também foram contatados. Os dois segmentos estão reunindo informações para mostrar, via Frente Parlamentar do Agronegócio, que o aumento da oferta de biocombustíveis não tem culpa na alta dos preços dos alimentos. O motivo de preocupação dos auxiliares de Lula é que a mistura dos biocombustíveis nos combustíveis de origem fóssil vai subir em abril. No caso do biodiesel adicionado ao diesel, por exemplo, o percentual irá de 14% para 15%, em um cronograma que foi acelerado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O biodiesel é majoritariamente fabricado com óleo de soja; no caso do etanol, é crescente o uso do milho como matéria-prima no País. A alta de preço dos alimentos já pesa na popularidade de Lula, segundo pesquisa divulgada pela Quaest na semana passada. Oito em cada dez entrevistados disseram ter percebido o aumento nos preços da alimentação no último mês. No semestre passado, os preços da soja e do óleo de soja no Brasil ficaram acima dos praticados no exterior.

A discrepância disparou em setembro e só passou a dar uma trégua em meados de janeiro deste ano, com a perspectiva de entrada da nova safra. Em resposta aos questionamentos do governo sobre os preços mais altos da soja e do óleo de soja nos últimos meses no País, representantes do setor privado afirmam que o aumento está mais relacionado com a variação do dólar e com a quebra da safra anterior (2023/2024) do que com os biocombustíveis. O primeiro fator eleva o estímulo à exportação, enquanto o segundo cria um cenário interno de menor oferta para o esmagamento para a produção de óleo, com impacto sobre os preços. A MB Agro Consultoria adiciona um terceiro fator. Na safra passada, talvez antevendo problemas comerciais com os Estados Unidos sob Donald Trump, a China ampliou a compra de soja do Brasil em cerca de 10%. O volume vendido para compradores chineses subiu de 66 milhões de toneladas para 79 milhões de toneladas. Já dos Estados Unidos, a China reduziu as compras de soja de 32 milhões de toneladas para 24 milhões de toneladas.

A safra vai ser maior neste ano, a projeção é de uma safra recorde, o que fará com que os prêmios caiam e fiquem negativos, como ocorre todo ano. Agora, o quanto vão cair e ficar negativos neste ano dependerá do efeito Trump. Produtores de óleo de soja relataram ao governo que o preço do óleo refinado caiu 3% na semana passada no atacado e que a tendência é de que siga em queda em razão de um dólar mais baixo neste ano do que o verificado no fim do ano passado (quando chegou ao patamar de R$ 6,30) e do início da safra. Produtores afirmam que a capacidade instalada consegue suprir a demanda por óleo de soja para a produção de biodiesel. No entanto, a previsão é de que a mistura prevista no projeto do Combustível do Futuro fará dobrar a necessidade de esmagamento de soja nos próximos dez anos, o que demandará investimentos e financiamento, via BNDES, para a construção de unidades produtivas. Além do biodiesel, o óleo de soja deverá ser usado na produção de SAF (combustível sustentável para aviação) e no HVO (diesel verde).

No caso do etanol de milho, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) afirma que o aumento da produção do grão para o etanol ocorre em áreas já plantadas de soja, no que se convencionou chamar de “2ª safra” brasileira, feita logo após a colheita da soja. Apenas 15% da produção de milho do País vira etanol. Além de aumentar a produtividade da soja, o plantio de milho e seu esmagamento para a fabricação de etanol também vêm contribuindo para ampliar a oferta de farelo para ração animal, principalmente de bovinos, o que pode ajudar no preço da carne. A produção de etanol de milho não é concorrente e não tem nada a ver com o preço dos alimentos. O desafio é mostrar ao mundo que o Brasil pode produzir muitas coisas ao mesmo tempo, sem substituir uma cultura por outra e sem avançar sobre áreas não produtoras. É um sistema diferente de produção e de uso do solo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.