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24/Jan/2025

Práticas que minimizam as adversidades climáticas

Em Mato Grosso do Sul, especialmente na região sul do Estado, as culturas da safra de verão (1ª safra), especialmente a da soja, estão sofrendo com o veranico, em que a quantidade de chuva não tem sido suficiente durante o período de desenvolvimento das plantas, aliado ao calor intenso. Somado a isso, algumas práticas agrícolas têm sido deixadas de lado, o que intensificou os problemas na agricultura de sequeiro especialmente. Segundo a Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados), agora vai começar o momento da colheita da soja e é a oportunidade ideal para o produtor colocar em prática alguns processos que vão minimizar sobremaneira os efeitos de futuras estiagens e vão proporcionar que a água da chuva não escorra superficialmente, mas sim infiltre e seja armazenada no solo.

Um desses princípios agrícolas não tem sido adotado, que é o terraceamento, prática mecânica de conservação de solo e água que tem como objetivo fundamental evitar o escorrimento da água, ou seja, a prática permite que a água infiltre no solo e seja armazenada para estar disponível posteriormente pela planta. Em um outro momento, o produtor pode utilizar uma série de tecnologias que já foram desenvolvidas, e estão sendo aprimoradas, por exemplo, a época de semeadura. Hoje, o produtor dispõe de uma ferramenta extremamente interessante, que é o Zonamento Agrícola de Risco Climático, conhecido também como ZARC. O ZARC é produto de pesquisa da Embrapa e seus parceiros, que se transformou em uma ferramenta de política pública que está à disposição do produtor. As informações disponibilizadas pelo ZARC, independentemente se o produtor vai financiar e/ou fazer seguro agrícola, trazem sugestões de época de semeadura em que os riscos são menores, especialmente riscos decorrentes de déficit hídrico.

Outro fator importante é o manejo adequado do solo para que esteja estruturado e, assim, permita que a água permaneça no solo e chegue às camadas mais profundas. Para isso, o solo não deve estar compactado. Hoje, infelizmente, muitos agricultores usam uma prática mecânica para romper camada compactada, que é o escarificador. O escarificador sozinho não resolve o problema de compactação. Há necessidade de associar a prática mecânica que é o escarificador com práticas culturais ou vegetativas que é o cultivo de plantas de cobertura. O sistema radicular das plantas de cobertura forma canalículos que permitirão uma boa estruturação do solo que se torna mais poroso, permitindo que a água penetre no solo e forme uma reserva na área onde estão as culturas. As plantas de cobertura também formam uma barreira na superfície do solo por meio da palhada, o que evita o aquecimento do solo, consequentemente, diminui a perda de água por evaporação.

Além disso, as plantas de cobertura auxiliam o controle de plantas daninhas. As questões de mudanças climáticas não são mais uma hipótese. É algo que está acontecendo no mundo. E o produtor precisa utilizar essas práticas que estão à sua disposição. Somando tudo, o produtor deixa de perder, e mais importante que deixar de perder, ele ganha. Quando o produtor rural não adota nada disso, dependendo do estágio vegetativo da planta, as plantas vão morrer depois de uma semana a dez dias sem chuva. Adotando essas práticas, o efeito do estresse hídrico diminui, e o teor de matéria orgânica e a disponibilidade de nutrientes melhoram. A principal espécie de planta de cobertura são as braquiárias, como a Brachiaria ruzizienses para produção de forragem ou a Brachiaria brizantha por exemplo, a BRS Piatã, para uso na Integração Lavoura-Pecuária (ILP).

Em alguns casos, podem ser utilizadas plantas do gênero Panicum, porém, esta exige mais cuidado no manejo para não haver problema como entouceiramento que dificulta a semeadura. As plantas de cobertura podem ser cultivadas isoladamente ou em consórcio com leguminosas, a exemplo do feijão guandu e das crotalárias, que têm a capacidade de fixar nitrogênio no solo. O produtor também pode escolher pelo cultivo isolado das leguminosas, como Crotalaria ochroleuca, Crotolaria spectabillis e Crotalaria juncea, guandu e estilosantes, sendo que para cada situação haverá uma melhor indicação. Na 2ª safra, estas leguminosas podem ser cultivadas junto ao milho, no caso das crotalárias, se o foco for os ruminates, não utilizar a C. spectabilis por ser tóxica aos animais. A Embrapa possui variedades de guandu (BRS Guatã e BRS Mandarim) adequadas ao consórcio devido a seu porte e a rapidez de crescimento.

Agora, é o momento adequado para os produtores plantarem milho 2ª safra de 2025 de forma consorciada. E, se não quiserem plantar milho 2ª safra, podem cultivarem somente a espécie de planta de cobertura, seja uma leguminosa ou uma gramínea e colher as melhorias no sistema de produção. Aliado às práticas agrícolas recomendadas acima para convivência da agricultura em períodos de intenso calor e pouca oferta de chuvas, a irrigação é uma estratégia para superar o problema de déficit hídrico. A irrigação vem para satisfazer a necessidade hídrica da cultura. Assim, é possível fazer frente ao problema e superá-lo. É um erro achar que somente o fator água da irrigação vai resolver o problema. Na agricultura irrigada, tem que se considerar que as outras estratégias para a convivência com a seca já estão sendo bem aplicadas pelo produtor.

Os produtores irrigantes conseguem monitorar a ocorrência dos problemas causados por eventos de deficiência hídrica e, a partir de então, tomar a decisão de quando irrigar e quanto de água aplicar, a fim de satisfazer as necessidades hídricas da cultura. O momento no estado de Mato Grosso do Sul está muito favorável para essa temática de agricultura irrigada. O governo do Estado lançou recentemente, em 2024, um programa estadual de irrigação (MS Irriga) como estímulo aos produtores rurais. Além disso, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional instituiu o Polo de Agricultura Irrigada do Centro-Sul de Mato Grosso do Sul, que engloba 26 municípios. Estes são sinais claros de que a Federação e o Estado entendem que esta prática precisa e pode ser induzida. Para dar suporte à tomada de decisão dos produtores, inclusive os produtores irrigantes, a Embrapa Agropecuária Oeste possui estações de monitoramento climático que fornecem diariamente dados de chuva, temperatura, radiação solar, vento, umidade e, principalmente, o dado da evapotranspiração de referência.

A Embrapa fornece os dados e os produtores podem se apropriar deles para tomada de decisão. Isso é uma boa prática na agricultura irrigada. O Centro de Pesquisa da Embrapa está realizando pesquisa, ainda em fase de experimentação, que está no quarto ano, com competição de cultivares de soja e de híbridos de milho em área irrigada e de sequeiro a fim de identificar padrões nestes materiais genéticos que agreguem valor na água que é aplicada. Foram realizadas simulações computacionais para estudar diferentes estratégias de manejo de irrigação e selecionar a melhor, amparadas em vários anos de pesquisa em lisímetros de pesagem e na série histórica de mais de 40 anos dados da estação meteorológica da Embrapa Agropecuária Oeste. A melhor estratégia de irrigação, via de regra, tem resultado para a soja e para milho (comparado ao sequeiro, que é a referência) em aumentos de produtividade significativos e redução no consumo de água comparada a estratégias convencionais de irrigação.

Em números, somando os últimos três anos de safra, a cultura da soja irrigada rendeu 172 sacas de 60 Kg por hectare, enquanto a soja no sequeiro resultou em 134 sacas de 60 Kg por hectare. A preocupação é obter produção máxima utilizando o mínimo do recurso natural, assegurando que esse recurso esteja disponível para outros usos também. A gestão dos recursos hídricos é feita pelo Imasul em Mato Grosso do Sul, que é responsável por gerenciar o potencial de cada corpo hídrico para fornecer água a diferentes usuários (restaurantes, indústrias, comércio, casas, irrigação, etc.). A gestão hídrica assegura que a água para irrigação seja captada sem ferir os direitos de outros usuários nem da segurança ambiental. Mato Grosso do Sul tem grande potencial para agricultura irrigada, pois é rico em águas superficiais. Fonte: Embrapa. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.