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06/Jan/2025

Trump pode favorecer exportações de soja do Brasil

A expectativa de retomada da guerra comercial entre Estados Unidos e China com o retorno de Donald Trump à presidência americana no dia 20 de janeiro deve reforçar a posição do Brasil como principal fornecedor global de soja. Com a ameaça de imposição de tarifas de até 60% sobre produtos chineses pelo novo governo americano, a China já articula contratos de fornecimento com o Brasil para entregas no primeiro semestre deste ano, repetindo a estratégia adotada durante o primeiro mandato de Trump. O cenário, contudo, é diferente do de 2018. A China não possui hoje a mesma dependência. O contexto é mais controlado, o que reduz o impacto direto de uma eventual ruptura comercial com os Estados Unidos. No primeiro governo Trump, o Brasil se consolidou como principal origem da soja importada pela China. Em safras com produção favorável, o Brasil é responsável por mais de 60% das importações chinesas. Caso essa taxação se confirme e o Brasil obtenha safras sem quebras, a tendência é ampliarmos ligeiramente essa participação no mercado chinês.

Hoje, o Brasil, maior produtor de soja do mundo, exporta aproximadamente dois terços de sua safra e a China é principal destino, com cerca de 70% das exportações brasileiras do grão. Na temporada 2023/2024, das 147 milhões de toneladas produzidas, 92 milhões foram destinadas ao mercado externo, das quais 69 milhões de toneladas para a China. A perspectiva de safra recorde no Brasil em 2024/2025, estimada em até 170 milhões de toneladas, coincide com produções gigantes nos maiores produtores e exportadores mundiais - Estados Unidos, Argentina e Paraguai -, pressionando os preços globais. Se a oferta mundial de soja aumentar, a tendência é de que os preços caiam na Bolsa de Chicago. O quão significativo seria essa redução dependerá de outros fatores, como evolução da demanda e ações do governo Trump. Na guerra comercial anterior os preços da soja em Chicago despencaram 18% - de mais de US$ 10 por bushel para US$ 8,40 por bushel - após o anúncio da China de uma tarifa de 25% sobre importações de soja americana.

Se a China responder com contra tarifas sobre importações de soja dos EUA, como fez na disputa anterior, isso colocará pressão adicional sobre os preços mundiais e prejudicará ainda mais uma projeção já baixa de renda líquida para os agricultores americanos. A experiência da guerra comercial anterior mostrou impactos severos para os produtores americanos. As exportações americanas de soja para a China caíram 76% em 2018 e 38% em 2019 na comparação com o ciclo anterior, 2016/2017. Embora os EUA tenham redirecionado parte da produção para outros mercados, as perdas foram significativas. No nível mundial, as exportações americanas caíram 22% em 2018 e 15% em 2019. Não há garantias de que os mesmos produtos serão alvo de retaliação desta vez. Para muitas commodities agrícolas, o impacto dependerá dos estoques dos países importadores e da facilidade de substituição entre fornecedores. Fatores geopolíticos terão peso crescente no comércio global. O mercado de soja é muito resiliente. Grãos dos EUA podem chegar à China via mercados intermediários, como Oriente Médio e Sudeste Asiático.

Há, também, a possibilidade de um novo acordo comercial entre China e Estados Unidos. Isso não pode ser descartado, já que Trump não terá a pressão da reeleição. A desaceleração da economia chinesa é outro fator que pode afetar a dinâmica do mercado. As importações chinesas de soja dos Estados Unidos já diminuíram significativamente ao longo do último ano devido à desaceleração econômica. Há muita antecipação no mercado, desde a apreciação do dólar até a maior contratação de soja americana nos últimos meses, buscando garantir embarques antes de possíveis retaliações. Para o Brasil, o momento exige cautela apesar das oportunidades. A sobre dependência de qualquer mercado único traz riscos e vulnerabilidades a choques externos, como um possível grande acordo entre Estados Unidos e China. Embora os exportadores possam redirecionar soja para outros mercados não chineses, isso raramente é suficiente para compensar as perdas em um mercado do tamanho da China. O Brasil tem desafios estruturais que podem limitar sua capacidade de aproveitamento de mercado na China em 2025 se houver nova guerra comercial entre Estados Unidos e o país asiático que atinja a soja.

Ainda dependemos fortemente do modal rodoviário, embora os transportes hidroviário e ferroviário estejam avançando gradualmente. O asfaltamento da BR-163 até Miritituba (PA) tornou o corredor de exportação pelo Arco Norte mais eficiente. Ainda assim, o setor busca soluções para problemas históricos de logística e armazenagem. A armazenagem é um ponto crítico. Nosso déficit de capacidade é estrutural. Apesar dos investimentos em andamento, ainda estamos longe de atingir o ideal de armazenar 100% da safra nacional. A China está mais preparada desta vez e não deve concentrar a demanda em determinadas épocas do ano. Em 2018, a resposta aos EUA foi mais reativa. Agora, o país reforçou seus estoques e diversificou fornecedores, o que reduz a vulnerabilidade. Além disso, a desaceleração econômica chinesa também pode afetar a demanda por soja. A China perdeu o protagonismo como motor do crescimento global. Isso pode limitar os impactos de uma nova guerra comercial sobre a demanda por soja. A China busca reduzir sua dependência do exterior.

A China montou o maior laboratório de agricultura tropical do mundo na ilha de Hainan. Lá, desenvolvem variedades com alta tecnologia, usando edição genética, transgenia e seleção assistida para criar materiais mais produtivos e adaptados a diferentes climas. Os chineses estão adaptando variedades brasileiras para cultivo em Moçambique e Zâmbia. Esse movimento, no médio prazo, pode mudar a dinâmica das exportações para a China. Se olharmos as condições geológicas e climáticas, são muito semelhantes às do Brasil. Cerca de 50% dos empréstimos chineses já são direcionados ao continente africano. Apesar dos desafios, o Brasil mantém vantagens competitivas. Nos tornamos o maior produtor mundial de soja graças à tecnologia, que permite o cultivo em todas as regiões do País. Entre os grandes produtores, apenas os Estados Unidos possuem produtividade comparável. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.