10/Dec/2024
Em uma década, a falta de chuvas causou perdas de US$ 80 bilhões nas lavouras de soja nos cinco Estados que dominam a produção da oleaginosa no País. Para fazer o cálculo, a Embrapa Soja analisou o desempenho das lavouras entre as safras 2014/2015 e 2023/2024 em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná, que respondem por 75% da produção nacional do grão. É uma perda monetária grande, que atinge diretamente o bolso do produtor de soja. Mas, o impacto sobre a economia é muito maior, tendo em vista que a cadeia do grão é responsável pelos custos de produção de outras atividades agrícolas, como avicultura, suinocultura e produção de ovos.
Para chegar ao montante, a Embrapa considerou um preço médio de US$ 500,00 por tonelada de soja. Na análise das últimas dez safras, foram usadas as médias móveis de produção de cinco anos, considerando-se dois anos antes e dois depois da safra em análise, e projetando-se as perdas para a área plantada na última safra (2023/2024), estimada em 45,8 milhões de hectares para os cinco Estados. Esses cinco Estados deixaram de colher cerca de 160 milhões de toneladas por causa da seca. Ou seja, a perda corresponde a mais de uma safra brasileira de soja. Na temporada 2023/2024, o Brasil colheu 147,3 milhões de toneladas da oleaginosa.
O Rio Grande do Sul, que tem perdido, praticamente, uma safra a cada quatro, é o Estado mais suscetível a estiagens. O Paraná, o segundo Estado que mais tem tido prejuízos, perde, em média, uma safra a cada seis que colhe. Além de a baixa umidade do solo afetar o desenvolvimento da soja, a seca também favorece o surgimento de doenças que afetam a fertilidade da área. Em períodos de temperaturas acima da média, a escassez de chuva somada à alta radiação solar acentua os danos às lavouras. Chama a atenção, ainda, o fato de que, no Brasil, 95% da área de soja é plantada com a técnica sequeiro, em que não há irrigação.
Tem que haver um volume de chuva ideal, que atenda às necessidades da planta, o que significa chuvas muito bem distribuídas ao longo de todo o ciclo, principalmente no período reprodutivo. Foi justamente a má distribuição da chuva, além do pouco volume, que comprometeu a safra 2021/2022 do produtor paranaense Marcelo Teles, que produz soja em 96,8 hectares em Palotina, no oeste do Paraná. A região, de clima quente, tem sofrido mais nas últimas quatro safras. O índice pluviométrico sempre foi muito bom, mas nos últimos anos tem mudado e gerado muitas perdas na produtividade. Com chuva muito abaixo da média e calor intenso, o ciclo 2021/2022, para ele, foi um “caos”. O resultado da seca foi devastador.
A expectativa era colher uma média de 66,1 sacas de 60 Kg por hectare, mas obteve apenas 2,6 sacas de 60 Kg por hectare. O agricultor conta que até hoje espera a indenização do seguro rural, que segue na etapa de recurso judicial. Para não se endividar, ele precisou direcionar a renda de outras atividades agrícolas da propriedade (piscicultura e avicultura) para cobrir os custos da oleaginosa. O Sindicato Rural de Palotina afirma que a seca tem criado situações de extrema dificuldade. Os produtores estão muito descapitalizados, e isso tem feito cair os investimentos em culturas como a soja. É necessário adotar programas de renegociação de dívidas e de extensão de prazos para pagamento. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.