07/Aug/2024
A adoção de práticas agrícolas regenerativas, de cuidado com a saúde do solo, não é necessariamente uma novidade para o agricultor Charles Peeters. Desde que sua família saiu do interior de São Paulo, em 1985, e começou a cultivar grãos em Montividiu (GO), técnicas como o plantio direto, a integração lavoura-pecuária, o uso de plantas de cobertura e o tratamento biológico das plantações se tornaram rotina nos 1,8 mil hectares em que ele produz soja e milho. A novidade é que agora esse conjunto de ações será chancelado tecnicamente e premiado financeiramente pelos compradores na colheita da soja que os Peeters plantarão na safra 2024/2025. A fazenda fará parte do Reg.Ia, o primeiro consórcio de agricultura regenerativa do país, lançado na semana passada em Rio Verde (GO).
O consórcio uniu Bayer, BRF, Agrivalle, Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (Gapes), pesquisadores de universidades e a agtech Produzindo Certo, que atua com a adequação socioambiental de propriedades rurais no País e já tem a sustentabilidade de quase 8 mil fazendas “digitalizada” em sua plataforma. O objetivo do Reg.Ia é estimular a adoção de práticas regenerativas do solo, a partir de um protocolo “prático e simples” que inclui itens obrigatórios e opcionais aos agricultores. Quem seguir as regras vai receber um valor extra pela soja produzida nessas áreas. Na safra 2024/2025, cerca de 30 fazendas em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais vão adotar o protocolo, com o cultivo de mais de 50 mil hectares e a produção de 200 mil toneladas de soja regenerativa.
O item mandatório é ter neste momento nos talhões elegíveis alguma planta de cobertura. A semeadura do grão deverá ser feita com plantio direto de “qualidade”. O agricultor deverá optar, ao menos, por mais uma outra prática listada no cardápio do Reg.Ia: aplicação de, no mínimo, 20% de adubação orgânica; ao menos uma aplicação de defensivo biológico; redução do uso de pesticidas químicos (abaixo de 20% da média nacional) e rotação de culturas. Todos os talhões serão georreferenciados e acompanhados com mais de 100 visitas técnicas da Produzindo Certo a partir deste mês, sem custos aos produtores. As fazendas estão na base de compliance legal e sustentável da agtech. A produção regenerativa será um diferencial aos produtores.
A soja produzida sob o protocolo será adquirida pela BRF e usada na alimentação animal. A empresa vai pagar aos produtores um prêmio mínimo de 2% sobre o valor da saca de 60 Kg. A quantia será paga de forma separada, para o agricultor ter a percepção do recurso extra recebido. O diferencial do consórcio é a construção conjunta. O principal ponto foi a definição de um protocolo viável de ser aplicado pelos produtores, legitimado pelas empresas e com a transparência técnica e científica necessária para agregar valor às práticas. Haverá um impacto significativo na sustentabilidade agrícola da América Latina nos próximos anos. Quatro protocolos privados foram avaliados para criar o Reg.Ia.
A ideia foi fazer o mais simples, mas com o máximo de entrega de impacto. A Produzindo Certo fará coletas de solo para avaliação do progresso das práticas adotadas, como o estoque de carbono e a evolução da biodiversidade no solo. Não há meta de impacto, mas o trabalho servirá para orientar os próximos passos. Ferramentas desenvolvidas pela Bayer para a mensuração de carbono serão usadas no processo. Para compreender o impacto das práticas regenerativas na agricultura tropical é necessário somar esforços e considerar ferramentas e modelos compatíveis com as particularidades da agricultura brasileira, e que sejam operacionalmente viáveis, com um custo acessível e reconhecido pelo mercado, apontou a Bayer.
Os produtores receberão um laudo técnico ao final do processo com a comprovação da originação da soja regenerativa. A implementação será acompanhada e validada por um comitê formado por cientistas e pesquisadores da academia, representantes e especialistas das empresas do consórcio. Os produtores não têm obrigação de usar produtos das empresas participantes do Reg.Ia. A promoção da agricultura regenerativa é um passo fundamental para alcançar resultados sólidos em prol do meio ambiente e das pessoas, afirmou a Marfrig. Para a Agrivalle, o Reg.Ia casa com tudo que uma empresa voltada a controle biológico tem de fazer.
A intenção é expandir o número de parceiros do consórcio, principalmente de empresas compradoras do produto final, para aumentar os incentivos pagos aos produtores. O foco está em companhias de bens de consumo, como a indústria alimentícia. Já há planos de levar o consórcio a outros Estados brasileiros e até a outros países, como a Argentina. Também haverá inclusão de outras práticas no Reg.Ia. O mercado de sustentabilidade não é limitado em oferta, mas em demanda. O produtor tem condição de fazer milhões de hectares de um ano para outro, mas ele tem que entender se tem mercado interessado em comprar isso”. O Gapes afirmou que a agricultura regenerativa faz parte do DNA do grupo e que quase metade dos protocolos de pesquisa atuais já são direcionados ao tema. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.