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25/Jul/2024

EUA: temores sobre guerra comercial com a China

As cotações da soja continuam mais pressionadas, em um contexto de falta de ameaças pelo lado da oferta e sem surpresas em relação à demanda, com a China registrando crescimento mais lento em comparação às duas décadas anteriores, quando o país teve papel central na expansão do mercado global de soja. Atualmente, o mercado está muito focado no andamento da safra norte-americana 2024/2025, que tem mostrado condições favoráveis para as lavouras. O acompanhamento semanal do USDA continua indicando um percentual bom/excelente acima da média para o período, situação que, se persistir até agosto, pode resultar, inclusive, em rendimentos acima da tendência. Já quanto à safra nova da América do Sul, que começa a ser plantada em setembro, ainda é cedo para fazer qualquer afirmação quanto ao seu potencial, apesar de as chances de La Niña nos últimos meses do ano serem relevantes.

O fenômeno tende a resultar em um clima mais seco no Sul do Brasil e na Argentina e foi responsável por perdas muito grandes de safra no passado recente. Assim, considerando os fundamentos que temos hoje, as perspectivas de uma ampliação da diferença entre a produção e o consumo mundiais, como indicado pelo USDA, são plausíveis e têm pesado sobre as cotações da oleaginosa, evitando que momentos de alta sejam sustentados. Por mais que sejam os fundamentos de oferta e demanda que prevaleçam, com a possibilidade de grandes movimentações de preço em função da evolução das condições e perspectivas climáticas, por exemplo, o cenário político americano e a corrida eleitoral pela Casa Branca também estão sendo acompanhados de perto pelos agentes.

Após o atentado sofrido por Donald Trump, no dia 13 de julho, a candidatura do republicano ficou ainda mais consolidada e reacendeu lembranças relacionadas ao mercado de soja, que contribuíram para a queda de preços acentuada na segunda-feira seguinte. No primeiro mandato de Trump, a guerra comercial com a China pesou muito sobre os preços da soja em Chicago, com o maior importador mundial da oleaginosa evitando, o máximo possível, comprar soja norte-americana, aplicando uma taxa de 25% sobre o grão dos Estados Unidos. Houve uma “distorção” na precificação da oleaginosa, cuja referência é a cotação na Bolsa de Chicago, com as cotações caindo significativamente, enquanto os preços no Brasil foram fortalecidos, diante da maior procura chinesa pelo produto nacional.

A especulação sobre as chances de alguma medida similar ser adotada num possível futuro governo Trump resultou em mais pressão sobre os preços, mesmo que os Estados Unidos estejam investindo em consumir mais soja internamente, diante da competição com o Brasil nas exportações. Nos últimos anos, o esmagamento de soja nos Estados Unidos tem subido, puxado pela demanda por óleo para diesel renovável, enquanto as exportações estão mais fracas, com perspectivas de mais um ano abaixo de 50 milhões de toneladas. Já o processamento da oleaginosa no país pode atingir 66 milhões de toneladas no ciclo 2024/2025, segundo o USDA. A conversão de plantas de diesel fóssil em renovável e a construção de novas usinas para a produção do biocombustível resultaram em necessidade de investimento também em esmagamento de soja no país, uma vez que a capacidade estava chegando no limite.

Mesmo assim, por mais que o consumo doméstico de soja deva continuar crescendo nos Estados Unidos, caso haja algum conflito comercial que afete as exportações norte-americanas de soja para a China, os impactos no balanço dos Estados Unidos podem ser significativos, ressaltando que a safra brasileira de soja tem grande espaço para continuar crescendo, por contar não somente com ganhos de produtividade, mas também com área disponível. Dessa forma, por mais que ainda seja muito cedo, uma mudança de governo nos Estados Unidos deve continuar no radar, podendo configurar, inclusive, um incentivo para a continuidade da expansão de área de soja no Brasil. Por outro lado, como questões geopolíticas podem ser alteradas a depender dos interesses envolvidos, um reforço da demanda chinesa pela soja brasileira por esse motivo também está associado a riscos importantes. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.