04/Jul/2024
O Brasil recebeu uma delegação de negócios da indústria de óleos vegetais da Índia entre os dias 16 e 22 de junho. A Abiove os recepcionou e organizou as visitas. Foram reuniões com associadas da entidade, visitas a terminais portuários e a fábricas de esmagamento de oleaginosas e produção de farelo, óleo e biodiesel, visita à Febrasem (Feira Brasileira de Sementes) e agendas em Brasília com a Embaixada da Índia, Embrapa Sede, Ministério da Agricultura e Ministério das Relações Exteriores. A delegação indiana ficou impressionada com a estrutura do nosso setor e com a tecnologia empregada na produção de soja. Embora o Brasil não possua a escala nas plantas de esmagamento do tamanho das da Argentina - lá elas são, em média, 2,8 maiores, e eles conhecem a Argentina, a visita às unidades produtivas mostrou a alta tecnologia e altos controles fitossanitários que praticamos no Brasil. Do lado da produção, a Índia produz 1.000 Kg/ha, em média, de soja, e o Brasil 3.500 Kg/ha. Eles saíram daqui convictos pela necessidade de conhecer as tecnologias em tratamento de sementes e manejo para aumentar a produtividade do país.
O mais importante da visita é a agenda de trabalho que estabelecemos com os indianos. Ela foi sendo construída à medida que eles aprendiam sobre o Brasil, e nós sobre a Índia, um país que importa 15 milhões de toneladas de óleos vegetais, a totalidade para consumo alimentício. Óleo de palma representa 61%, soja 23% e girassol 15%. A maioria do óleo de palma provém de Indonésia e Malásia. O de soja, Argentina e Brasil. E girassol da Ucrânia e Rússia. Os indianos nos afirmaram que o consumo doméstico de óleos vegetais vai crescer 1 milhão de toneladas por ano nos próximos 10 anos, e que a maioria desse crescimento virá das importações. Hoje, eles consomem 25 milhões de toneladas, ou seja, as importações já representam 59% do total consumido. Eles enfatizaram que há grande preocupação com a oferta de óleos vegetais para atender à crescente demanda do país, utilizando o discurso de que o país precisa de mais oferta internacional porque a produção doméstica tem limitação para acompanhar esse crescimento. Afirmaram que o fornecimento de óleo de girassol é proveniente de regiões de alto risco devido a guerra.
Por outro lado, as regiões mais estáveis politicamente, como óleo de palma da Ásia e óleo de soja da América Latina, estão com restrição de oferta devido à crescente demanda por biodiesel. Esse é o caso específico da Indonésia e do Brasil. Mostramos para os indianos o desenvolvimento do mercado de óleos vegetais no Brasil. Eles já tinham bom conhecimento, mas puderam ouvir diretamente dos representantes do nosso setor, o que aumentou muito o entendimento sobre o assunto. Eles aprenderam como funciona o mercado de biodiesel no Brasil e as perspectivas de crescimento caso o projeto de lei do combustível do futuro seja aprovado. Eles aprenderam que a prioridade do nosso setor na produção de óleo vegetal é o atendimento do mercado interno, tanto do biodiesel, quanto para fins alimentícios. Em 2023, o Brasil exportou 2,4 milhões de toneladas de óleo de soja e este ano estamos projetando 1,1 milhão de toneladas, justamente por conta do crescimento da demanda por biodiesel. A principal mensagem que eles queriam nos passar é que é preciso aumentar o esmagamento de soja no Brasil, porque há mercado na Índia para o óleo vegetal.
Eles querem nos estimular para crescer o esmagamento além do que será necessário para atender a demanda de biodiesel, de forma a manter um fornecimento firme do produto para a Índia. Entendidas as prioridades de cada lado, entramos na discussão de como superar os obstáculos. O primeiro é que crescer o esmagamento para atender o incremento de três mercados, biodiesel e alimentício domésticos e exportações para Índia, no lugar dos dois (biodiesel e alimentício domésticos), requer criar mercados para o farelo de soja. A visão da Abiove, transmitida a eles, é viabilizar exportações de farelo de soja brasileiro para a Índia. O país asiático possui uma restrição legal ao plantio de lavouras geneticamente modificadas e, com isso, não há permissão de importação de oleaginosas GMO e de farelos GMO produzidos a partir delas. A única exceção é o algodão, por não ser uma lavoura para alimentos. A próxima exceção pode ser a mostarda, importante matéria-prima para produção de óleo vegetal no país. A Índia consome 19 milhões de toneladas de farelos vegetais proteicos por ano e produz 21,5 milhões. Ou seja, tem excedente.
O Brasil, com uma população que representa 15% da indiana, consome a mesma quantidade. O consumo de farelos na Índia, certamente, vai crescer e chegará o momento que a produção local vai ficar para trás. Quando isso acontecer, eles precisarão importar. Os indianos dizem que esse momento ainda não chegou. Afirmam que quando for preciso importar farelo proteico vão autorizar importação de farelo GMO, como fizeram em 2021 e 22 por meio de cotas de importação. Os indianos entenderam e concordaram que, se quiserem mais óleo vegetal do Brasil, é preciso desenvolver mais mercados para o farelo produzido. Compreenderam que menores preços de farelo de soja fruto de maior esmagamento de soja não criam mais demanda e, portanto, novos mercados são necessários. A linha de raciocínio deles é a seguinte: Há demanda garantida pelo óleo brasileiro na Índia. Haverá demanda por farelo de soja importado no futuro, mas não há no presente. A proibição de plantio e importação de soja e farelo GMO não deve mudar no curto prazo na Índia.
Na visão deles o Brasil precisa estimular o plantio de matérias-primas que possuam maior conteúdo de óleo e menos de farelo do que a soja; estimular o plantio de soja não geneticamente modificada na expansão futura das áreas visando o mercado indiano de tudo (soja, farelo e óleo) e estimular o uso de farelo de soja em alimentos para consumo humano diversificando o uso e adicionando valor à proteína do farelo de soja. Ao final da viagem chegamos a algumas conclusões. A primeira é que temos um diagnóstico compartilhado das oportunidades e desafios entre indústria de óleos vegetais do Brasil e da Índia. A segunda é que ainda não temos a solução para estimular mais esmagamento de soja por aqui. Nós vemos as exportações de farelo para a Índia como solução. Os indianos vêm uma cesta de opções: diversificação de matérias-primas, plantio de não GMO e aumento do consumo em alimentos. Não podemos descartar nenhuma das opções. O mais importante é manter a cooperação com a Índia forte e dinâmica, e a indústria de óleos vegetais será um vetor promotor dessa cooperação. Fonte: André Meloni Nassar. Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Broadcast Agro.