21/Jun/2024
As cotações da soja e do milho continuam, em geral, pressionadas, diante das perspectivas de oferta global confortável e dúvidas pelo lado da demanda. Mesmo assim, ainda que a temporada 2024/2025 esteja apenas começando no Hemisfério Norte, o clima já tem movimentado o mercado, situação que deve ganhar mais relevância com o desenvolvimento da safra dos Estados Unidos. O país é o maior produtor mundial de milho e o segundo de soja, e abriga a bolsa de referência para os preços internacionais das duas commodities, a Bolsa de Chicago. O USDA começou a divulgar o seu acompanhamento semanal da safra norte-americana em abril, com o ciclo da oleaginosa sendo algumas semanas mais tardio em comparação ao cereal. No início, a semeadura estava bastante adiantada, com o ritmo acima da média dos últimos anos e do registrado no mesmo período do ano passado.
Contudo, o mês de maio registrou chuvas volumosas em parte do cinturão agrícola norte-americano, atrasando o andamento dos trabalhos no campo. No caso do milho, o progresso do plantio caiu abaixo do ano passado e da média de cinco anos, mas com a redução das chuvas, o percentual plantado voltou a superar levemente a média. Já para a soja, também houve uma desaceleração da semeadura, por causa das chuvas, mas o progresso ainda se manteve acima da média de cinco anos durante todo o período. Esse ritmo mais lento no mês de maio deu suporte aos preços tanto da soja quanto do milho. No entanto, as cotações voltaram a cair à medida que as chuvas diminuíram e o plantio pôde avançar sem maiores problemas, reduzindo as chances de áreas deixarem de ser semeadas, de haver troca de área de última hora, ou de algum impacto negativo no potencial de produtividade, devido a atrasos.
De qualquer forma, o clima vai continuar trazendo movimentações importantes para os preços à medida que a safra norte-americana avança, até entrar nas fases mais críticas de desenvolvimento. Nos últimos dias, as previsões de condições mais secas no leste da região produtora ofereceram suporte aos preços, mas sem grande sustentação, à medida que os modelos climáticos têm variado. Esse clima mais seco em parte do cinturão dos Estados Unidos resultou em alguma piora da qualidade das lavouras na última divulgação do USDA, referente ao dia 16 de junho, mas o percentual bom/excelente das duas culturas se mantém em patamares elevados, acima do ano passado e da média de cinco anos. Destaco que os meses de julho e agosto devem trazer ainda mais atenção para questões climáticas, pois concentram a polinização do milho e o enchimento de grão da soja, que são períodos-chave para a garantia de uma boa produtividade, sendo que o regime de chuvas nesses estágios pode definir uma quebra ou não de safra.
Além da volatilidade relacionada ao clima, o dado de área plantada, que será divulgado no dia 28 de junho, revisando as intenções de plantio de março, também pode trazer movimentações bruscas ao mercado a exemplo do registrado em anos anteriores. Para a soja, a área em 35 milhões de hectares ficou em linha com o esperado. Já em relação ao milho, a área em 36,4 milhões de hectares, no dado de março, ficou abaixo do esperado. Com isso, além das mudanças que sempre podem ocorrer em uma revisão, para o milho há apostas de que a área seja revista para cima. Mesmo assim, por mais que as próximas semanas e meses possam ser movimentados para as cotações da soja e do milho, sob influência da safra norte-americana, os fundamentos prevalecem.
Caso não haja mudanças concretas no equilíbrio entre oferta e demanda, alterando o cenário atual em que não são notadas restrições na disponibilidade de ambas as commodities, os preços teriam pouco espaço para modificações significativas dos padrões que vêm sendo registrados. No caso do milho, as estimativas atuais indicam um balanço mundial mais ajustado que o da soja, mas esse cenário poderia mudar se a área dos Estados Unidos realmente for revisada para cima. Além do mais, reduções da produtividade no país, mesmo que pequenas, podem ter impactos significativos na oferta, considerando a relevância da safra norte-americana para o mundo. Com isso, além de uma maior volatilidade, mudanças do lado da oferta podem sempre ocorrer de maneira mais brusca, já que o clima tem sua imprevisibilidade, o que deve garantir períodos movimentados para os mercados de soja e milho daqui para frente. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.