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25/Jan/2024

Conab e USDA: agilidade nos dados é fundamental

Por que mesmo com uma grande quebra de safra no Brasil os preços na Bolsa de Chicago caíram vertiginosamente? Por que fundos de investimento antes mesmo de confirmado o tamanho da safra sul-americana já estão vendidos em soja? Estas são algumas das perguntas que mais recebo ao final de palestras, em reuniões, pelo WhatsApp ou quando abro caixinhas em minhas redes sociais. Certamente que cada safra tem suas particularidades e a atual segue repleta delas. Carregando e honrando o título de maior produtor e exportador de soja mundial, seria normal que os holofotes se voltassem à realidade do que acontece aqui, especialmente com uma mídia tão globalizada assim. Será? Nem sempre. O que se processou lá nos corredores da Bolsa de Chicago foi uma fração disso.

Uma grande intenção de plantio, com alta tecnologia a ser empregada em um ano de El Niño. Desdobramentos de um plantio atrasado pelos excessos de chuva em alguns Estados e replantios seguidos e até troca de cultura devido à seca em outros Estados foram sendo absorvidos de forma lenta e confusa no mercado internacional. Peso extra ao mercado foi a leitura de uma competitividade extra com a Argentina. Além de condições de clima melhor, as eleições favoreciam uma retomada de área maior já nesta safra. O mercado processou de forma míope que o que Brasil perdia a Argentina compensava. Para intensificar as perdas, o mercado fomentava dúvidas sobre o apetite da China por soja. Certamente que remédio para preço baixo muitas vezes é o próprio preço baixo.

São nestes momentos em que oportunidades acontecem, demandas são retomadas, margens positivam, acordos são firmados e foi isso que aconteceu. China e Estados Unidos voltaram a conversar e a demanda por soja norte-americana fluiu e mais uma vez os brasileiros não participaram deste momento. Depois disso virou o ano, preços caíram, prêmios caíram e estamos aqui, com desafios anuais de cada safra mais os atuais. Altos custos de produção, logística cara, baixo índice de comercialização, quebra de safra, renegociação e preços em queda. Nos últimos dois meses venho sendo insistente em minha fala para que a Conab fosse ágil em seus levantamentos das quebras de safra e que promovesse os ajustes necessários antes mesmo que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Isso para que o mercado pudesse ter clareza do que estava acontecendo.

Pela relevância brasileira no quadro de oferta mundial de alimentos é preciso que a Conab promova os ajustes necessários para nortear e direcionar o mercado internacional, que até poucos dias estava ausente de liderança na condução da informação sobre as quebras. O Brasil precisa também ser liderança e referência através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como central de informações agro da mesma forma que é excelência em produção, tecnologia, sustentabilidade, boas práticas. Enquanto Conab e USDA projetaram no início de janeiro a safra brasileira em 155,3 milhões de toneladas e 157 milhões de toneladas, a Aprosoja Brasil divulgou no dia 15 de janeiro levantamento realizado em 15 Estados produtores apontando para uma safra de 135 milhões de toneladas e, ao longo da última semana, várias casas de consultoria têm revisado seus números para baixo à medida que a colheita no Estado de Mato Grosso avança.

O levantamento foi divulgado após o do USDA e isso foi importantíssimo para o mercado pois mostrou que as perdas são maiores do que se comentam nos corredores de Chicago, nas tradicionais casas de consultoria. Minha projeção de safra levantada na última semana de dezembro e divulgada no início de janeiro é de 143 milhões de toneladas. Depois da divulgação da estimativa da Aprosoja, o mercado deve monitorar junto com os fundamentos demanda e os aspectos domésticos norte-americanos os fundamentos que chegam da América do Sul, afinal a Argentina tem uma safra inteira para definir e qualquer janela de estiagem pode ser determinante para os fundos mudarem de estratégia e os mapas já há alguns dias começaram a mostrar diminuição do volume das chuvas.

Além disso, temos chuvas sazonais na colheita em Mato Grosso que são sempre ponto de alerta no front. Podem atrasar entregas e consequentemente embarques. Apenas como complemento, sobre a América do Sul, aproveitando a atualização de comentários do consultor agro Marco Antônio Cordeiro, que há poucos dias esteve fazendo um road show no Paraguai, a safra de soja do país mantendo as condições atuais deve performar uma safra de pelo menos 11 milhões de toneladas, garantindo entregas de contratos renegociados do ciclo anterior. E mês que vem certamente falaremos aqui já sobre intenção de plantio nos Estados Unidos. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.