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10/Jan/2024

Entrevista: Júlio Cesar da Costa - CEO da Caramuru

A Caramuru Alimentos prevê investimentos de R$ 600 milhões entre 2024 e 2025. Para este ano, já espera colher frutos de aportes estratégicos realizados nos últimos anos. A empresa, dedicada à armazenagem, logística e industrialização de grãos para exportação e ao refino e produção de óleos e biocombustíveis, será beneficiada pela decisão do governo de antecipar para março o aumento da mistura de biodiesel ao óleo diesel de 12% para 14% (B14). "Certamente irá contribuir para diluir custos fixos e melhorar as margens do segmento”, diz o CEO da Caramuru, Júlio Cesar da Costa. A ampliação do portfólio e a identificação de tendências pela empresa marcaram o ano de 2023.

Entre os destaques está a parceria com a 3tentos para a constituir uma joint venture em participação igualitária para desenvolver a estrutura de logística e armazenagem no Arco Norte. Somados, os investimentos devem ser de R$ 400 milhões, com capacidade de movimentação de 2 milhões de toneladas de grãos e farelo ao ano, chegando a 5 milhões de toneladas a partir de 2028. Hoje, 100% das exportações do farelo SPC (soy protein concentrate, concentrado proteico de soja, usado sobretudo na aquicultura) da companhia saem pelo Arco Norte, o caminho natural e o mais curto e competitivo para o mercado europeu. A empresa não enfrentou problemas com a seca no modal em 2023. Segue a entrevista:

Como o senhor avalia o ano de 2023 para os negócios da Caramuru?

Júlio Cesar da Costa: O ano foi muito positivo para a empresa. Tivemos marcos importantes, como a inauguração da fábrica de SPC em Itumbiara (GO), o anúncio do início da comercialização do etanol hidratado de soja e, mais recentemente, a joint venture com a 3tentos. Foi um ano em que demonstramos a nossa capacidade de ampliação de portfólio e de ser uma empresa com um olhar sempre atento ao mercado e suas tendências.

O que a parceria com a 3tentos vai trazer para a Caramuru?

Júlio Cesar da Costa: A parceria foi uma oportunidade para acelerarmos nossa política de priorização dos investimentos. Ao longo do tempo vamos priorizando investimentos e apareceu essa oportunidade. Entendemos que a sinergia é muito grande, apesar de ser (a 3tentos) uma empresa de capital aberto. A 3tentos tem características em comum com a Caramuru. Começou com a família e tem uma cultura muito bacana com a qual nos identificamos. Isso foi um dos pontos relevantes para a nossa decisão e vem reforçar nossa presença no Arco Norte. Nós já operamos ali com o farelo SPC através da planta de Sorriso (MT). Levamos esse produto até o porto de Itaituba (PA) e depois, por barcaça, até o porto de Santana (AP). É uma oportunidade que estamos abrindo para fortalecer ainda mais nosso pilar da logística e criar novos horizontes.

Vocês têm outras perspectivas de parcerias e investimentos para este ano?

Júlio Cesar da Costa: Em termos de parceria é essa com a 3tentos. Estamos sempre muito abertos a ouvir, mas temos outros projetos já direcionados, como a duplicação da planta de Ipameri (GO), com investimentos em torno de R$ 210 milhões, com a duplicação de processamento de soja de 1,5 milhão para 3 milhões de toneladas por dia. Temos também um ship loader em Santana (AP) com investimentos em torno de R$ 80 milhões e uma planta de glicerina refinada em Sorriso (MT), também em torno de 80 milhões. Quando somamos tudo vamos chegar a praticamente R$ 600 milhões de investimentos entre 2024 e 2025.

Qual é a importância do Arco Norte para vocês? O senhor acredita que o modal será o grande polo de exportação do grão do Brasil?

Júlio Cesar da Costa: Hoje, nossa produção de SPC sai 100% pelo Arco Norte. Quando você olha o crescimento da produção nota que está mais destinada para o Arco Norte. Não só Santana, onde a gente opera, mas também tem Itaqui (MA) e outros portos que fazem parte do Arco Norte. Quando você fala de commodities, é fundamental ter uma boa logística. O País é muito grande, então vai ser dividido. Tem uma produção que vai continuar descendo para Santos (SP) e Paranaguá (PR) e outra que vai subir. Isso é uma coisa natural que vai acontecer. Agora, quando você fala sobre a expectativa de aumento de produção, acredito que está mais destinada para o Arco Norte do que para o Sul. Nós operamos o Porto de Santos, onde esperamos aumentar nossa capacidade.

O Arco Norte enfrentou problemas com a seca no ano passado. Como o senhor vê essa situação? Houve prejuízos para a Caramuru?

Júlio Cesar da Costa: Essa é uma questão que foge totalmente do nosso controle. É uma questão climática, mas não houve impactos negativos para a Caramuru. Nosso escoamento é pelo Rio Tapajós-Amazonas. Saímos de Itaituba (PA) pelo Rio Tapajós e seguimos até o Porto de Santana e depois pelo Rio Amazonas. Devido à nossa capacidade de armazenagem e escoamento, nossas operações não sofreram nenhuma interrupção nesse trecho. Diretamente nós não fomos afetados, mas acreditamos que é uma coisa que será resolvida porque o Arco Norte é o caminho natural e o mais curto e competitivo para o mercado europeu.

Quais são as perspectivas da Caramuru para 2024?

Júlio Cesar da Costa: A todo ano são novos desafios. Neste estamos tendo um início com o produtor esperando preços melhores para fixar a soja. No entanto, a Caramuru tem uma política de hedge bastante conservadora, com o intuito sempre de preservar margens. Em 2024, iremos colher os frutos de investimentos estratégicos que fizemos no passado, com a contribuição no ano todo das vendas de SPC produzido a partir de Itumbiara (GO) e do etanol a partir de soja de nossa planta de Sorriso (MT). O aumento do biodiesel para B14 certamente irá contribuir para diluir custos fixos e melhorar as margens do segmento também.

A Caramuru já calculou o impacto da antecipação da mistura?

Júlio Cesar da Costa: É sempre muito bom aumentar a demanda, eu acho que é um sinal muito positivo do governo, que acredita nas questões ambientais e está apoiando o setor. Para nós é importante porque nossa operação logística é muito competitiva em termos de localização, então a antecipação vem contribuir de forma bastante positiva. Em 2023, faturamos 436.000 m³ de biodiesel. Considerando a antecipação do B14, estamos prevendo atingir uma meta próxima a 510.000 m³, ou seja, cerca de 17% acima do ano anterior.

O atraso no plantio da soja em Mato Grosso foi prejudicial? De que maneira?

Júlio Cesar da Costa: Até o momento não nos prejudicou. A colheita da soja está iniciando em algumas regiões. Pode acontecer redução da produtividade devido ao excesso de calor e atraso nas chuvas, o que causa antecipação do ciclo natural da planta, porém nada efetivo até aqui que indique perdas.

Mas vocês trabalhavam com alguma previsão? Se houver redução no volume, o que pode significar para vocês?

Júlio Cesar da Costa: Temos uma equipe de campo acompanhando. Até agora, nas lavouras onde a gente opera nós não vemos grandes perdas. Logicamente que o atraso vai prejudicar a safrinha do milho e do girassol, mas na soja a Caramuru tem uma originação bastante pulverizada. São mais de 60 pontos de recebimento. Nós nos relacionamos com mais de 5 mil produtos rurais e o nosso volume é pequeno. São 2 milhões de toneladas por ano. Você pode ter problema, mas não vai ser um problema sério, acho que vai ter nenhum prejuízo de grande proporção.

Quais são as preocupações com o milho e o girassol?

Júlio Cesar da Costa: O atraso das chuvas e consequente plantio tardio da soja empurra a colheita para mais os meses seguintes, atrasando também o plantio do milho e girassol. Até o momento, qualquer número pode ser precipitado. Somente após o encaminhando da colheita da soja poderemos falar com mais propriedade sobre os possíveis riscos. Pode ocorrer redução de área de plantio do milho, mas de uma maneira não tão significativa para o mercado.

Fonte: Broadcast Agro.