08/Jan/2024
A tendência é baixista para os preços da soja no mercado brasileiro. Há uma pressão baixista sobre os preços no mercado interno, com o avanço da colheita, a melhora das condições climáticas sobre a safra 2023/2024 e o recuo das cotações futuras na Bolsa de Chicago. As cotações futuras em Chicago estão em baixa e o contrato Março/2024 recuou 10,1% nos últimos 45 dias, caindo de US$ 14,02 por bushel para US$ 12,60 por bushel. As cotações futuras com vencimentos em 2024 recuaram para a faixa entre US$ 12,10 a US$ 12,80 por bushel. Por outro lado, a pressão sobre os prêmios nos portos brasileiros perdeu força com o clima adverso e as quebras já confirmadas na safra atual. Apesar da perspectiva de uma menor safra no Brasil, o balanço global entre oferta e demanda de soja da safra 2023/2024 deverá seguir folgado. Mesmo com a redução para a safra do Brasil, o balanço global ainda sinaliza maior conforto em relação ao apresentado na safra 2022/2023.
O tamanho da produção do Brasil ainda depende muito de como serão as chuvas nos próximos meses. Com uma safra de até 153 milhões de toneladas no Brasil, é possível atender ao crescimento da demanda interna e exportar algo ao redor de 95 milhões de toneladas, atendendo também à demanda externa. Entretanto, o clima segue no centro das atenções na Bolsa de Chicago. Apesar da perspectiva de uma colheita abaixo das estimativas iniciais no Brasil, muitos analistas acreditam que a produção na Argentina deva se recuperar, compensando as perdas na safra brasileira. Os cortes recentes nas estimativas de safra do Brasil tendem a ser compensados pelo aumento da produção em outros países da América do Sul e isso parece ser o suficiente para segurar grandes escaladas de preços dos futuros da soja na Bolsa de Chicago. A área mundial semeada com soja cresceu pela quarta temporada seguida, gerando expectativas de que a oferta recorde na safra 2023/2024 seja renovada.
Desde a temporada 2019/2020, a área global cresceu 12,6% e a produtividade, 4%, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Com isso, a produção mundial deu um salto de 16,8%. A demanda também segue avançando, mas em ritmo inferior à oferta: em quatro anos-safras, o consumo total de soja cresceu 6,7%, sendo que o esmagamento aumentou 5,4%. Com isso, os estoques de passagens vêm aumentando. Por enquanto, a relação estoque/consumo da temporada 2023/2024 está estimada para ficar em 29,7%, a maior em cinco anos. Em 2018/2019, esteve em 33%. Esse cenário pode limitar variações positivas de preços no curto prazo. Vale lembrar que as estimativas do USDA para a temporada 2023/2024 ainda devem passar por ajustes e que os dados apontados pelo Departamento estão acima dos estimados por consultorias privadas. No Brasil, a colheita já está em andamento, mesmo que em ritmo lento, mas os impactos do El Niño sobre a produção começam a ser evidenciados.
Diante disso, deverão ocorrer reajustes negativos nos dados de produção do USDA nos próximos relatórios. Na Bolsa de Chicago, os contratos operam mais próximos dos US$ 12,00 por bushel para os contratos para 2024, os menores patamares, para este período, desde 2020, quando os vencimentos futuros estiveram abaixo de US$ 10,00 por bushel. Vale lembrar que, em janeiro/2023, os contratos eram negociados entre US$ 14,00 e US$ 15,00 por bushel. Além da desvalorização externa, os prêmios de exportação de soja no Brasil também estão enfraquecidos. Com base no porto de Paranaguá (PR), o embarque em fevereiro/2024 teve oferta de compra em –US$ 0,15 por bushel. Para embarque em março/2023, as ofertas são de –US$ 0,43 por bushel. Considerando-se as ofertas dos primeiros de janeiro de cada ano, esses são os menores valores da série histórica do Cepea, iniciada em 2004. No início de janeiro de 2023, por exemplo, o prêmio de exportação para embarque em fevereiro/2023 era ofertado em +US$ 0,60 por bushel na compra.
Ainda com base em Paranaguá (PR), o preço FOB da soja é negociado abaixo de US$ 500,00 a tonelada para 2024. Esses são os menores patamares desde 2020, período em que os preços futuros na CME estavam inferiores a US$ 10,00 por bushel, o que refletiu em preço FOB no Brasil em torno de US$ 300,00 por tonelada. Para contrabalancear, dados da Equipe de Custo de Produção do Cepea apontam redução nos gastos com soja na safra 2023/2024 em relação à anterior. Dentre as regiões analisadas pelo Cepea, a queda sobre o custo total foi de 32,8% em Sorriso (MT); de 27,4% em Primavera do Leste (MT); de 17,2% em Cascavel (PR); de 19,6% em Londrina (PR); de 16% em Passo Fundo (RS); de 26,9% em Xanxerê (SC); de 27,5% em Rio Verde (GO); de 26,3% em Triângulo Mineiro (MG); de 19,8% em Luís Eduardo Magalhães (BA) e de 29,3% em Balsas (MA). A receita do vendedor brasileiro também dependerá da taxa cambial (US$/R$), já que isso influencia a paridade de exportação.
O dólar futuro para o primeiro semestre de 2024 na B3 está na casa de R$ 4,90, próximo do praticado em 2023. Para o segundo semestre de 2024, por sua vez, o dólar futuro está acima dos R$ 5,00. Por enquanto, a oferta mundial é projetada pelo USDA em volume recorde, de 398,8 milhões de toneladas. Embora os Estados Unidos tenham colhido 112,3 milhões de toneladas de soja, o menor volume desde a safra 2019/2020, as estimativas da produção na América do Sul ainda mais que compensam a queda na produção norte-americana. Por enquanto, a projeção do USDA para a safra brasileira é de 161 milhões de toneladas, um recorde. Para a Argentina, a estimativa do USDA é de produção de 48 milhões de toneladas, 92% a mais que o volume produzido na safra passada, o que deverá favorecer a retomada das exportações de derivados, podendo retirar mercados ganhos pelo Brasil e Estados Unidos em 2023. Vale lembrar que as negociações no Brasil envolvendo contrato a termo da safra 2023/2024 estão abaixo do ritmo observado nos últimos anos.
Este será um desafio aos vendedores, sobretudo em período de vencimento de custeio, quando a necessidade de fazer caixa pode reforçar uma pressão sobre as cotações no spot nacional. Do lado da demanda, o USDA estima que a China deve importar volume recorde de 102 milhões de toneladas de soja (+1%); a União Europeia, de 13,8 milhões de toneladas (+4,5%); e o México, de 6,4 milhões de toneladas de soja (-0,7%). O Brasil deve abastecer o mercado global com quantidade recorde de 99,5 milhões de toneladas de soja. Já os Estados Unidos devem embarcar 47,76 milhões de toneladas, o volume mais baixo desde a safra 2019/20. O Paraguai deve exportar 6 milhões de toneladas de soja (+3,45%); e a Argentina, 4,6 milhões de toneladas (+9,9%), de acordo com o USDA. Os consumos globais de farelo e de óleo de soja são estimados em volumes recordes, de 253,55 milhões de toneladas e de 60,79 milhões de toneladas, respectivamente. Esse cenário pode limitar ou até mesmo impedir quedas acentuadas nos preços da matéria-prima em 2024. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.