08/Jan/2024
Em 2023, o mercado de soja foi marcado por tendência de queda das cotações na Bolsa de Chicago (CBOT), após a colheita de uma safra recorde no Brasil e em meio a preocupações com o ritmo da demanda ao redor do mundo. Mesmo as questões climáticas nos EUA, com falta de chuvas durante o desenvolvimento da safra 2023/2024 em algumas regiões e o registro de ondas de calor, apenas interromperam esse movimento de baixa das cotações momentaneamente. O país ainda colheu uma safra robusta, o que contribuiu para a manutenção das perspectivas de um balanço mundial mais folgado. Com a demanda caminhando sem maiores surpresas que pudessem mudar o equilíbrio do mercado global da oleaginosa, as atenções encontram-se voltadas para a safra da América do Sul, em um ano sob influência do El Niño. Para a Argentina, após um início de ciclo mais seco, que atrasou o começo do plantio da soja, as perspectivas estão favoráveis.
O país deve se recuperar da quebra expressiva do ciclo anterior, colhendo uma safra de 50 milhões de toneladas. Já no Brasil, o clima está se comportando fora do usual há alguns meses, com chuvas aquém do esperado em grande parte do território nacional, enquanto os volumes de precipitação na região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, foram excessivos. Ainda que umidade demais também traga prejuízos, aumentando, por exemplo, a incidência de doenças, a seca tende a condicionar os maiores ajustes de produção, com as estimativas de safra já trazendo cortes nos números esperados para o Brasil, em especial para o Centro-Oeste. Contudo, por mais que se espere que haja perdas por aqui, lembrando que o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja, os preços internacionais da commodity têm reagido pouco.
Alguns fatores ajudam a explicar esse comportamento. Primeiro, como já citado, as estimativas atuais para o balanço mundial indicam uma folga maior. O último relatório do USDA apontou para um consumo global da oleaginosa 15 milhões de toneladas abaixo da produção, contribuindo para aumento dos estoques. Além do mais, há muitas dúvidas sobre qual será o real tamanho da safra brasileira, que só será conhecido com o avanço da colheita. Há que se destacar, ainda, que por mais que se espere uma produção menor no Brasil, a Bolsa de Chicago acaba sofrendo uma influência mais significativa do que acontece no mercado do próprio país, os EUA. Assim, é preciso entender como a menor oferta brasileira pode causar impacto no balanço norte-americano de soja. Atualmente, as perspectivas apontam para um balanço de oferta e demanda bastante ajustado nos EUA, com um consumo interno aquecido, em meio ao avanço da produção de diesel renovável no país, que incentiva o esmagamento de soja.
Dessa forma, uma queda da produção brasileira, que tende a ter impacto direto nas exportações da soja em grão, reforçaria a busca pela oleaginosa norte-americana, já que o país é o segundo maior exportador, e alterna com o Brasil nos embarques globais do grão. Assim, quando se tiver uma ideia melhor do volume que o Brasil conseguirá embarcar em 2024 e dos impactos na busca pela soja dos EUA, os preços futuros em Chicago devem reagir de forma mais contundente ao que está acontecendo com a safra por aqui. Até lá, as discussões sobre o tamanho da safra brasileira vão continuar, havendo bastante divergência entre as várias estimativas que chegam ao mercado. Autor: Ana Luiza Lodi - mestra em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em Inteligência de Mercado em Grãos e Oleaginosas da consultoria StoneX. Fonte: Broadcast Agro.