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13/Dec/2023

Entrevista: Luciano Souza - diretor de grãos da ADM

A ADM, uma das maiores processadoras de oleaginosas do mundo, espera aumentar sua participação no mercado brasileiro em 2024. A ideia é crescer 20% em volume de soja originada e processada para atender tanto o mercado interno como a exportação a partir do Brasil. Esse crescimento deve permitir à empresa avançar até 1,5% no market share no País, hoje de 11%. Na semana passada, a ADM anunciou ampliação das unidades em Campo Grande (MS), Porto Franco (MA) e Uberlândia (MG), o que lhe permitirá esmagar mais 400 mil toneladas por ano.

Em entrevista, o diretor de grãos da ADM para a América do Sul, Luciano Souza, destaca o ano "excepcional", sobretudo em relação às exportações de milho, cujo resultado deve ser recorde. Ele conta que a empresa identificou oportunidades no mercado com a prática da agricultura regenerativa. "Não por pressão, mas porque ela agrega valor", enfatiza. Diz que a safra 2023/2024 é marcada pela irregularidade das chuvas sobretudo na principal área produtora, o Centro-Oeste do Brasil, mas que possíveis perdas no campo ainda estão sendo avaliadas pela empresa.

Ele admite que a situação preocupa, mas afirma esperar ainda uma safra brasileira recorde, de 165 milhões de toneladas, volume que considera extremamente factível. Para ele, o atraso no plantio da soja vai afetar mesmo é a 2ª safra. No Maranhão e no Piauí, segundo estimativas de inteligência de mercado e originação da ADM, a semeadura da soja está atrasada em até 20% ante a temporada anterior. Quanto à Argentina, concorrente do Brasil no mercado de grãos, Souza diz que o país vai virar "o jogo" no mercado da soja em 2024. Também enfatizou a importância do consumo chinês, diferencial de mercado tanto para Brasil quanto para a Argentina nessa competição, mas que não deve crescer muito. Segue a entrevista:

Quais são as perspectivas da ADM para a safra 2023/2024?

Luciano Souza: É uma safra diferente. Temos de olhar mais pontos, analisar e visitar mais o campo porque há muita irregularidade no perfil de chuvas, com exceção do Sul. Nas demais regiões as chuvas têm sido esparsas e irregulares. Muitas vezes temos muita diferença de um talhão para o outro na mesma propriedade. Dito isso, sabemos que em algumas regiões existe uma perda de potencial produtivo por conta de alguns períodos, pela fase de desenvolvimento da planta, com a temperatura muito alta e pouca umidade. Existe uma perda de potencial e estamos ajustando os números, mas ainda vemos uma safra recorde. A situação preocupa, tem que ser analisada com muito cuidado, mas temos o potencial de ter uma safra recorde.

Qual é o volume esperado pela ADM?

Luciano Souza: Trabalhamos com um número acima de 165 milhões de toneladas. Embora muita gente fale de 10 a 15 milhões a menos, não vemos esse desastre que algumas consultorias estão colocando. Estamos no campo. Claro que precisamos acompanhar as próximas chuvas e o desenvolvimento (das lavouras) para revisar a estimativa para cima ou para baixo. Mas, analisando região por região, corredor por corredor onde nos preparamos para crescer em termos absolutos e de share, acreditamos que, dadas as condições atuais, o número é extremamente factível.

O que a ADM espera para 2024?

Luciano Souza: Na soja, nós nos preparamos para ganhar 1,5% de participação, alcançando 12,5% de market share. Estamos falando em crescer quase 20% em volume absoluto (soja originada, captada e processada no programa de esmagamento e de exportação).

Na semana passada a ADM anunciou expansão da capacidade de esmagamento em três Estados. Esse movimento deve continuar?

Luciano Souza: Estamos alinhados com nossa estratégia de agregação de valor e de geração de emprego local. Nós conseguimos, através de plantas localizadas em pontos estratégicos, atender um cliente que já vem demandando mais óleo, farelo e biodiesel. Além do crescimento regional, a expansão com agregação de valor nos permite crescer estrategicamente tanto no programa de originação quanto no programa de comercialização de farelo e óleo e biodiesel.

Fechando o ano, qual é o balanço que a empresa faz?

Luciano Souza: O balanço do ano é extremamente positivo. Tivemos problemas no Rio Grande do Sul, que sofreu pelo segundo ano uma perda significativa. Já nos outros Estados a safra foi excepcional. Conseguimos crescer em share, aumentando nosso programa de comercialização e melhoramos muito a execução. Em termos de comercialização e execução, tivemos um resultado excepcional, com o time conseguindo capturar as oportunidades com muita disciplina, trabalhando todos os gargalos e desafios que foram apresentados. Quando vemos um crescimento tão grande de um ano para o outro, o frete é sempre um desafio. Há uma série de variáveis logísticas e o nosso time conseguiu superar isso muito bem.

A seca no Norte do País, que afetou a logística no Arco Norte, foi um desses gargalos?

Luciano Souza: Sim, principalmente durante outubro e novembro, quando tivemos uma redução no programa de exportação naquele corredor devido a atrasos. Tivemos que desviar para outros terminais mercadorias tributadas exclusivamente para o terminal do Rio Madeira. Foi preciso reduzir e postergar. Esperamos que, entre a segunda quinzena de dezembro e a primeira quinzena de janeiro, a gente consiga concluir as exportações dessa mercadoria que já estava originada, já estava comprometida. Mas realmente (a seca) impactou, foi uma queda significativa. Os mais experientes falam que é a maior (seca) da história. Nós temos as medições naquele corredor e constatamos que realmente travou a exportação de uma região do terminal, do negócio onde a gente trabalha.

O que esperar para este quarto trimestre?

Luciano Souza: Outubro e novembro foram meses bastante fortes de conclusão das exportações de soja. Nós continuamos muito fortes no nosso programa de milho e dezembro ainda é um mês importante (para o cereal). Temos muito milho para executar em dezembro e parte de janeiro. Eu diria que seguimos para fechar 2023 com recorde, com um resultado bastante robusto em termos de comercialização e execução. A atenção toda realmente vem para a safra 2024: há atraso em algumas regiões. Quando olhamos para o plantio, temos atraso acima de 10% no Maranhão e de quase 20% no Piauí. Isso vai se refletir na área de safrinha de milho, mas entendemos que na soja ainda podemos ter uma safra regular nesses Estados.

E a Argentina? Com a posse do novo governo, o país volta forte para o mercado mundial?

Luciano Souza: A demanda global está totalmente conectada. Quando a Argentina volta para o jogo colocando, principalmente, muito farelo no mundo, isso tem impacto em todo o processo de esmagamento. No nosso planejamento consideramos, sim, o retorno da Argentina com uma produção normal, e com isso ela volta a ser bastante competitiva no fornecimento, principalmente de farelo, para o mundo. A nossa estratégia de comercialização de farelo já considera esse retorno da Argentina. Cada região tem suas características, tem sua aptidão para atender determinados mercados e a Argentina vem muito forte no farelo. Ela voltando para o mercado, muda o mapa do fornecimento global de farelo.

E a China? O consumo do país tende a crescer?

Luciano Souza: Esperamos que a China venha com um consumo estável ou com um leve crescimento em relação ao último ano, então acaba sendo positivo. Vemos um pequeno viés de crescimento na demanda chinesa. Há ainda muitas situações para serem analisadas. O mercado de suínos na China é desafiador, há uma série de alertas, mas no momento nós trabalhamos com um leve crescimento da demanda em relação a este ano.

O que o programa de agricultura regenerativa lançado pela ADM este ano melhora os resultados da empresa em uma temporada marcada pela seca, como a atual?

Luciano Souza: Olhando fazenda por fazenda, temos visto propriedades sofrendo menos com estresse hídrico com esse trabalho de melhora de perfil de solo, com plantas de cobertura, palhada e plantio direto intensificado. Isso confirma que nosso programa soma e vai ajudar bastante muitas propriedades que já trabalham nessa linha. O que vamos fazer agora é tentar melhorar o perfil de solo para que os campos possam passar por um momento como este sem tanto estresse, sem tanta perda de potencial.

O modelo tende a crescer? Com esse apelo pode conquistar mais e mais produtores?

Luciano Souza: Esse modelo com certeza tende a se multiplicar. Muitas propriedades que já o adotam têm obtido resultados muito rápidos. É um programa economicamente viável. Com determinados cuidados, práticas que já estão no campo, o agricultor passa a fazer uma agricultura regenerativa. Temos bons exemplos em todos os Estados brasileiros e os resultados são fantásticos. Em um ano em que o clima é perfeito, é bom para todo mundo, mas em um ano com essa irregularidade climática, com chuvas esparsas, fica muito evidente que a agricultura regenerativa faz toda a diferença.

Na sua opinião, o mercado pode vir a pagar mais por uma produção que adota esses preceitos?

Luciano Souza: Sim, e nós estamos fazendo não por pressão, mas porque realmente ela agrega valor, estamos fazendo um elo entre o agricultor e a gôndola. Conseguimos entregar esse produto diferenciado e ele precisa ser valorizado. Claro que, ao fazer isso, o agricultor tem um retorno imediato de produtividade, melhora o perfil de solo, mas é importante que a gente diferencie as melhores práticas.

Fonte: Broadcast Agro.