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28/Nov/2023

Clima no Brasil e o balanço mundial de soja e milho

As safras de soja e milho do Brasil alcançaram recordes no ciclo 2022/2023, resultados de avanços de área e produtividade. No caso do rendimento das lavouras, vários estados registraram seus maiores níveis médios, o que acabou "compensando" as perdas no Rio Grande do Sul para a soja e levando a safrinha a também alcançar as maiores produtividades já registradas, após a ocorrência de chuvas até o mês de junho em algumas regiões. A safra 2023/2024 começou com um cenário de preços mais baixos e margens mais apertadas para o produtor, o que condicionou uma perspectiva de menor crescimento de área para a soja e de recuo da safra de milho, uma vez que a 2ª safra já é um cultivo mais arriscado, pois as lavouras se desenvolvem logo antes da estação seca que predomina em grande parte do país entre maio e setembro. De qualquer forma, mesmo que os desafios pudessem ser maiores, as estimativas iniciais para a soja 2023/2024 ainda apontavam um resultado recorde, com destaque para a esperada recuperação da produção gaúcha, muito afetada pelo La Niña no último ano.

No caso do milho, os primeiros números para o ciclo 2023/2024 indicaram uma produção menor no comparativo anual, com um recuo da área na safrinha e com as produtividades no inverno não devendo repetir os excelentes resultados deste ano. Contudo, as condições climáticas no Brasil têm levado a questionamentos quanto ao tamanho das safras de soja e milho. O fenômeno El Niño está presente, o que historicamente tem sido relacionado a bons resultados para os grãos brasileiros, por trazer mais chuva para Região Sul, apesar de o Norte/Nordeste poder ficar mais seco. Entretanto, os volumes de chuva estiveram muito elevados no Rio Grande do Sul, afetando o andamento do plantio e trazendo questionamentos quanto à sanidade das plantas. Já em outras regiões do País, com destaque para o Centro-Oeste, as precipitações ainda irregulares trouxeram preocupações, resultando, além de atrasos, em necessidade de replantio em algumas áreas.

Com isso, já se espera alguma perda de potencial produtivo para a soja, apesar de ainda não se poder falar em uma quebra de safra expressiva. Cabe destacar que, no geral, anos de El Niño não tendem a trazer seca importante para Estados do Centro-Oeste, que usualmente são pouco afetados pelo fenômeno. Mesmo assim, o ciclo 2015/2016 é um exemplo de perdas de produtividade significativas para a soja em Mato Grosso, num ano de El Niño forte. Usualmente Mato Grosso tem pouca variabilidade da produtividade ao longo do tempo, para além da tendência de crescimento. Nessa última semana de novembro e começo de dezembro são esperadas chuvas mais abundantes nas regiões produtoras de soja do Centro-Oeste, inclusive com precipitações mais significativas já tendo ocorrido nos últimos dias, em várias áreas da região. Assim, não se pode afirmar que a safra de soja 2023/2024 não alcançará um resultado recorde, mesmo que haja perdas de potencial produtivo. Se o clima daqui para a frente registrar uma maior regularidade das precipitações, a produção nacional da oleaginosa ainda poderia ser favorável, apesar de abaixo do previsto inicialmente.

Para o milho a incerteza é ainda maior. Além das perspectivas de queda de área e menores investimentos na safra, diante do cenário de preços e margens mais pressionadas, a janela de plantio mais apertada no começo de 2024 ainda pode condicionar mudanças nessa intenção de plantio. Teremos uma ideia mais próxima da realidade de qual será o tamanho da safra de inverno somente por volta de abril, dependendo do regime de chuvas. Ademais, o plantio mais atrasado da segunda safra também aumenta o risco de as lavouras enfrentarem a ocorrência de geadas. O ano de 2016, por exemplo, foi de registro de seca e de geadas durante o desenvolvimento da safrinha. Com isso, a depender do clima no Brasil nos próximos meses e no primeiro semestre de 2024, os balanços mundiais de oferta e demanda de soja e milho, atualmente mais folgados, podem enfrentar uma dinâmica diferente, com possibilidade de uma situação mais restrita. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.