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27/Oct/2023

Balanço mundial da soja e milho depende do Brasil

Desde o início de 2023, as cotações da soja e do milho na Bolsa de Chicago registraram baixa, tendência que também foi observada no terceiro trimestre do ano, entre os meses de julho e setembro, mesmo com as preocupações climáticas durante o desenvolvimento da safra dos Estados Unidos. Além da colheita de uma safra recorde de soja no Brasil no ciclo 2022/2023, receios pelo lado da demanda também pesaram sobre os preços. Um desempenho econômico mais lento ao redor do mundo impactou o ritmo do consumo global da oleaginosa. Ao se considerar a última atualização dos dados de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a estimativa aponta para uma leve queda do consumo mundial de soja no ciclo 2022/2023, no comparativo anual. Essa tendência de baixa dos preços foi interrompida em alguns períodos, diante do registro de um clima seco e quente em áreas produtoras dos Estados Unidos em fases importantes para a soja, como o enchimento de grão, mas manteve uma grande volatilidade.

Passadas as fases mais críticas da safra norte-americana, as cotações da soja voltaram a cair, mesmo com o USDA tendo reduzido a produtividade e a produção do país e com o balanço estando mais restrito. Há dúvidas sobre quanto os Estados Unidos vão conseguir exportar no ciclo 2023/2024. As vendas de exportação estão mais fracas que em anos anteriores e o mercado acompanha como serão os embarques de soja no quarto trimestre do ano, que sazonalmente é o melhor período de exportações do país. Como as exportações brasileiras ainda se mantêm aquecidas, há preocupações com possíveis impactos negativos sobre os embarques norte-americanos. Por outro lado, as perspectivas para o consumo doméstico nos Estados Unidos se mantêm positivas, com a demanda de óleo de soja para diesel renovável puxando o esmagamento de soja. Ademais, o cenário para safra de soja na América do Sul continua favorável, mesmo com preocupações com o clima, em um ano de El Niño.

Por enquanto, espera-se que o Brasil poderá renovar o recorde de produção deste ano e as estimativas apontam recuperação da safra argentina, que registrou uma quebra em torno de 60% no último ano. Dessa forma, por mais que a safra norte-americana tenha perdido um pouco do potencial produtivo, as estimativas iniciais apontam para um balanço mundial mais folgado no ciclo 2023/2024, com a produção de soja superando o consumo em mais de 15 milhões de toneladas, o que resultaria em aumento dos estoques globais, situação que tem pesado sobre os preços. De qualquer maneira, destaca-se que a queda de preços internacionais da soja foi menos acentuada que a do milho em 2023. No caso do cereal, além das perspectivas de um balanço mundial também mais folgado, os Estados Unidos recuperaram seus estoques no ciclo 2022/2023, mesmo com alguma perda de produtividade devido ao clima, cenário que pesou ainda mais sobre as cotações, já que a Bolsa de Chicago fica no país e tende a refletir em maior medida os fundamentos da safra norte-americana na formação dos preços.

Além disso, o Brasil colheu uma 2ª safra de milho 2023 recorde, aumentando a competição com o grão norte-americano no mercado exportador e, inclusive, se tornando o maior exportador mundial de milho. Pelo lado da demanda do cereal, as estimativas do USDA para o consumo mundial também apontaram um recuo na safra 2022/2023 em comparação à anterior, e há preocupações com o ritmo de vendas e embarques dos Estados Unidos, num momento em que questões logísticas, com a baixa do Rio Mississippi, afetam o escoamento dos grãos do país. Diante desse cenário, há muitas dúvidas sobre a 2ª safra de 2024 no Brasil, destacando que as estimativas atuais de um aumento da oferta mundial de milho 2023/2024 consideram uma produção da safrinha brasileira similar ao que foi alcançado neste ano.

Contudo, com a queda importante dos preços domésticos do milho, a margem do produtor está muito apertada e há estimativas que apontam redução de área, além das perspectivas de investimentos menores, o que poderia afetar negativamente a produtividade, mesmo que a área da safrinha se mantenha ou caia pouco. Além disso, é importante lembrar que o plantio de milho no ciclo de inverno é naturalmente mais arriscado, já que as lavouras precisam se desenvolver antes da estação seca que predomina em grande parte do Brasil a partir de maio. Assim, principalmente pelo lado da oferta, há o potencial de mudanças importantes no ciclo 2023/2024. No caso da soja, estima-se um novo recorde, mas ainda há irregularidades de chuvas no Brasil e o El Niño pode resultar em um clima mais seco e quente nas Regiões Norte e Nordeste. Para o milho, além das dúvidas sobre o tamanho da área, uma ideia melhor de qual será o volume produzido só será possível por volta de abril/maio do próximo ano, quando as lavouras de inverno estiverem se desenvolvendo. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.