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22/Sep/2023

Brasil deve se consolidar no mercado global de grãos

A safra 2023/2024 de soja está começando no Brasil, com perspectivas de um crescimento de área bem mais moderado em comparação aos anos recentes. A StoneX estima que a área plantada de soja avançará 2,2% neste ciclo. No caso da safrinha de milho, apesar de ainda indefinida, há possibilidade de recuo de área plantada no comparativo anual. O contexto de preços enfraquecidos em 2023 acabou limitando um crescimento mais amplo da área da oleaginosa e pode se traduzir em queda de área para o milho, mesmo com o Brasil contando com áreas para expansão da agricultura. A baixa dos preços da soja, do milho, e de outras commodities agrícolas, em geral, foi condicionada não somente por situações mais confortáveis de oferta, como os recordes de produção de soja e milho no Brasil na temporada 2022/2023, mas também pelas preocupações pelo lado da demanda, com indicadores econômicos mais tênues ao redor do mundo e a adoção de medidas contracionistas no combate à inflação.

No longo prazo, a oferta e a demanda de commodities tendem a se ajustar, mesmo que de um ano para o outro venham a ocorrer desequilíbrios, com um balanço mais folgado ou mais apertado. O consumo é crescente e costuma desempenhar trajetória mais previsível, enquanto a produção normalmente varia mais de um ano para o outro, uma vez que o clima pode trazer surpresas. A propósito, não podemos nos esquecer de eventos extraordinários e imprevisíveis, como a pandemia de Covid-19 e mesmo a guerra na Ucrânia. Ao olharmos para o histórico das últimas duas décadas, observa-se uma tendência de crescimento significativo do consumo mundial de soja e milho e, consequentemente, da produção, situação que beneficiou o Brasil, que ocupa os primeiros lugares na produção e na exportação das duas commodities. Entre os fatores que colaboraram com esse cenário, destaca-se o crescimento acelerado da economia chinesa desde os anos 2000, com grande impacto na demanda por commodities.

Contudo, além das preocupações atuais quanto ao desempenho das economias ao redor do mundo e dos impactos dessa conjuntura sobre a demanda por grãos, as perspectivas para a próxima década apontam para um avanço bem mais moderado do consumo. A demanda de soja e milho responde a duas variáveis principais, o tamanho da população e seu poder aquisitivo. É importante destacar o papel da renda per capita, uma vez que quanto mais elevada mais diversificados tendem a ser os padrões de consumo. No caso da soja e do milho, uma renda mais elevada tende a favorecer o aumento do consumo per capita de proteínas de origem animal, o que impulsiona a demanda por grãos, cujo principal destino são as rações para a produção de carnes, leite e ovos. Quanto à população mundial, seu crescimento já vem desacelerando, situação que deve se manter nos próximos 10 anos. A OCDE-FAO projeta uma taxa média de crescimento anual de 0,8% entre 2022 e 2032 da população mundial, contra 1,1% na década anterior.

Destaca-se, ainda, que esse crescimento deve ser puxado pela África, em especial pela região subsaariana, onde o consumo de alimentos ainda revela uma dieta média com baixa inserção de proteínas, e o poder aquisitivo da população é considerado baixo. Já outros países, como os do Sul e Sudeste da Ásia, deverão ter um papel mais significativo em estimular a demanda por commodities, por serem populosos e já contarem com uma renda média relativamente mais elevada, caminhando para a diversificação do consumo. Por outro lado, a população chinesa já começou a registrar decrescimento, e deve continuar nessa tendência ao longo da próxima década, com seu consumo de commodities avançando mais lentamente que nos anos anteriores. Dessa forma, como o cenário para o consumo mundial de soja e milho é de um avanço mais lento, a produção também deve crescer a taxas menores nos próximos anos, situação que impacta diretamente o Brasil, maior produtor de soja e terceiro maior de milho. Contudo, mesmo que os desafios sejam maiores, o Brasil ainda deve continuar se destacando no mercado mundial de grãos e ampliando ainda mais sua participação nas exportações.

Destaco que, recentemente, superamos os Estados Unidos nos embarques de milho. Como o Brasil conta com extensas áreas que podem ser convertidas para a agricultura, mesmo que avançando mais lentamente nosso aumento de produção não é limitado pelos ganhos de produtividade, como ocorre em outros grandes produtores, por exemplo os Estados Unidos. No caso norte-americano, ocorrem, sim, aumentos de área de um ano para o outro, mas ocupando o lugar de outras culturas. É tradicional no começo de cada ano termos a discussão se os produtores do país plantarão mais soja ou milho. Já no Brasil, as duas culturas podem registrar aumentos significativos de área num mesmo ano, com o plantio da segunda safra de milho favorecendo esse crescimento. Assim, o cenário de avanço mais lento da demanda está diante de todos os produtores e exportadores de soja e milho, mas o Brasil tem condições favoráveis para enfrentar o momento mais desafiador, continuando a ampliar sua influência e presença no mercado mundial de grãos. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.