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23/Jun/2023

Soja deve responder por 22% da alta do PIB de 2023

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o crescimento maior que o previsto inicialmente para a atividade econômica neste ano não deve se traduzir em bem-estar disseminado pelo território brasileiro. Apenas o cultivo de soja deve responder por 22% de todo o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, sinalizando uma concentração de parte expressiva da riqueza gerada no País em alguns poucos Estados produtores do grão. As regiões mais pobres são as que menos se beneficiam. As que mais se beneficiam são as regiões mais ricas. A agropecuária vai puxar o PIB do ano, mas não vai contribuir com a Região Nordeste. Isso amplia a questão da desigualdade regional. Não é tão bom quanto parece, pois não está puxando o PIB da mesma forma em todos os lugares. Com um avanço de 18,8%, a agropecuária respondeu por mais de 30% do expressivo crescimento de 4,0% visto no PIB no primeiro trimestre de 2023 ante o mesmo período de 2022, de acordo com os dados divulgados no início deste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Se excluído o valor adicionado da atividade agropecuária, a expansão da economia brasileira teria sido de 2,7% no período. O desempenho extraordinário do agro é explicado, principalmente, pelo cultivo de soja, o que destaca a relevância das Regiões Sul e Centro-Oeste nesse resultado. O estudo mostra que essa aparente pujança não apenas está muito focada na atividade agropecuária, como também há alta concentração do cultivo da soja nessas duas regiões. Tal resultado acende o alerta para a fragilidade do crescimento da economia em 2023; com forte influência da agropecuária concentrada em duas regiões. Os pesquisadores estimam que o valor adicionado da atividade agropecuária suba 10,3% em 2023 em relação a 2022. Mais de 80% desse resultado será decorrente do cultivo de soja. A projeção tem como base a expectativa de uma produção nacional recorde de soja, 24% maior que a do ano anterior, apontada pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, do IBGE, entre outras fontes de informações sobre o setor.

A previsão dos pesquisadores indica que a agropecuária deva contribuir com cerca de 0,7% para o crescimento do PIB de 2023, sendo que o valor adicionado apenas do cultivo de soja deva gerar uma contribuição em torno de 0,5%. O último Boletim Focus do Banco Central aumentou a expectativa mediana de alta para a atividade econômica neste ano de 1,84% na leitura anterior para 2,14% na leitura do dia 19 de junho. Caso a atual expectativa de PIB para 2023 seja confirmada (2,1%), estima-se que a atividade de cultivo de soja represente 22% desse crescimento (0,5%). A produção nacional de soja é bastante concentrada nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Após uma quebra de safra provocada pela estiagem em 2022, a Região Sul tem forte recuperação prevista na produção em 2023, alta de 61,8%. A Região Centro-Oeste, grande produtora, tem alta projetada de 19,7% na colheita do grão.

Na Região Norte, o avanço deve ser de 13,5%; na Região Sudeste, de 3,8%; e na Região Nordeste, de 2,3%. Embora seja esperado aumento da produção de soja em todas as regiões do País, as magnitudes são muito distintas. Por esta razão, a estimativa de crescimento do valor adicionado da agropecuária é tão discrepante entre as regiões brasileiras. A Região Nordeste deve ter crescimento de apenas 0,6% no valor adicionado da agropecuária em 2023. Na Região Sudeste, essa alta será de 3,3%, enquanto na Região Norte será de 4,4%. Por outro lado, o valor adicionado da agropecuária na Região Sul deve subir 27,1% este ano, sendo 25,9% desse crescimento uma contribuição exclusiva da soja. Na Região Centro-Oeste, a alta esperada é de 11,9%, com participação de 9,5%. O forte crescimento de 10,3% esperado para a agropecuária nacional tende a mascarar essas diferenças regionais e dar a impressão que a agropecuária está contribuindo fortemente para o desempenho econômico de todo o País da mesma forma; o que não é verdade.

Considerando toda a alta esperada no valor adicionado da agropecuária nacional em 2023, aproximadamente 90% desse crescimento é explicado pelas contribuições somadas das Regiões Sul (6,5%) e Centro-Oeste (2,6%). Como o bom desempenho do PIB agropecuário foi bastante impulsionado pela soja, que é colhida nos primeiros meses do ano, a tendência é de perda de fôlego no segundo semestre. Após a alta de 18,8% no PIB agropecuário no primeiro trimestre de 2023 ante o mesmo trimestre do ano anterior, o avanço deve ser de 14,4% no segundo trimestre, seguido por quedas de 3,8% no terceiro trimestre e 0,9% no quarto trimestre. Tem algumas colheitas ainda para serem realizadas, como trigo e milho, mas não tem nada como a soja. O primeiro trimestre é espetacular, o segundo já é menos, e o terceiro e quarto já são negativos.

Assim, pode haver sensação de piora do bem-estar econômico no segundo semestre de 2023 nas regiões beneficiadas pela colheita de soja no primeiro semestre do ano. Embora o Rio Grande do Sul enfrente no momento as consequências da passagem de um ciclone, e que especialistas alertem sobre eventuais problemas climáticos derivados do fenômeno El Niño em outras regiões do País, a colheita da soja, principal produto agrícola brasileiro, costuma ser 93% realizada entre os meses de janeiro a abril, o que indica poucas alterações nas projeções futuras para a safra de grãos do ano. Mesmo que haja problema em outras colheitas, a soja é tão relevante que o número do PIB agropecuário vai ser expressivo. Os resultados evidenciam que a agropecuária terá um desempenho relevante para a economia em 2023, mas que o forte crescimento da geração de riqueza no setor não é observado da mesma forma dentro da própria atividade, nem nas regiões do País e nem mesmo em todos os trimestres do ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.