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05/Mai/2023

Perdas com prêmios negativos na safra 2022/2023

Descontos nos preços pagos por compradores de soja e milho na safra 2022/2023, decorrentes de prêmios negativos, devem resultar em perdas para produtores rurais da ordem de R$ 30,5 bilhões em 2023. É o que aponta levantamento feito pelo consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio. Deste montante, R$ 19 bilhões são as perdas estimadas nas vendas de soja, considerando os descontos referentes a prêmios negativos aplicados à oleaginosa, e R$ 11,5 bilhões referentes às perdas esperadas para o milho.

Em apresentação a jornalistas promovida pela Kepler Weber, indústria do setor de armazenagem, Cogo explicou que a "gênese" dos prêmios negativos é o déficit de armazenagem, que em 2023 deve chegar a 124,4 milhões de toneladas. Isso porque a falta de silos e armazéns no interior do País, nas fazendas, influencia a decisão de produtores sobre o momento de vender seu produto, gerando gargalos de escoamento em alguns períodos, maior tempo e custo de transporte das regiões produtoras aos portos, atrasos no carregamento de navios e demurrage (taxa paga quando o navio extrapola o prazo de carga ou descarga de produtos nos portos).

Segundo o consultor, a média dos prêmios pagos pela soja em abril foi de menos US$ 1,90 por bushel. Em maio, o prêmio está em menos US$ 1,50. "Estamos com prêmios negativos (para a soja) até agosto, o que é muito raro." De acordo com dados apresentados pelo consultor, os prêmios para a soja a ser embarcada em julho deste ano são de menos US$ 0,70 por bushel; para agosto, menos US$ 0,10 por bushel. "O prêmio reflete a falta de armazenagem, porque os agentes acabam contratando frete na hora errada, entram com a carga no porto na hora errada. A armazenagem é a gênese do problema; o prêmio reflete o todo, a infraestrutura e a logística ineficientes", afirmou.

"A Ucrânia está exportando pouco no momento, Estados Unidos também. Não haveria uma perda no Brasil se não houvesse um problema estrutural", continuou. O menor percentual de produção da safra 2022/2023 vendida de forma antecipada também contribuiu para o cenário atual, até 31 de outubro do ano passado, apenas 27% da produção de soja de 2022/2023 havia sido vendida, contra 40,9% um ano antes e 54,9% dois anos antes. Para o milho 2ª safra de 2023, os prêmios cotados pelo mercado também são negativos até setembro, com previsão de atingir o pico em julho, com menos US$ 50,00 por tonelada. Em maio, o prêmio é negativo em US$ 37,19 por tonelada. Para setembro, a previsão é de prêmio negativo em US$ 30,00 por tonelada.

Cogo alertou que, com a perspectiva de aumento da área plantada com soja no Brasil na temporada 2023/2024, o que pode elevar a produção nacional de grãos de cerca de 315 milhões de toneladas em 2022/2023 para algo em torno de 330 milhões de toneladas, o mercado já projeta prêmios negativos para a soja em março de 2024, de menos US$ 0,05 por bushel. "Já estamos vendo o primeiro sinal de prêmio negativo para março de 2024. O prêmio negativo deve se estender ao longo do ano que vem, durante embarques de soja e de milho", comentou ele. Por ora, os prêmios estimados para a soja nos meses a partir de maio ainda são positivos.

O consultor pondera que, mesmo que portos brasileiros adotem medidas para reduzir filas de caminhões e demora nos embarques dos grãos ao exterior, não serão suficientes para absorver a produção extra esperada para este ano. "Cento e vinte e quatro milhões de toneladas de déficit não é qualquer coisa, é uma safra normal da Argentina", enfatizou o consultor. O diretor comercial da Kepler Weber, Bernardo Nogueira, que participou do evento, lembrou que o Brasil deve produzir em 2022/2023 ao redor de 40 milhões de toneladas de grãos a mais. "É o equivalente a toda a produção de trigo da Ucrânia", disse Nogueira. Fonte: Broadcast Agro.