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26/Abr/2023

Possível El Niño contribui para pressionar os preços

A colheita da safra brasileira de soja 2022/2023 está chegando ao fim, com um volume ao redor de 155 milhões de toneladas já consolidado. Com isso, o Brasil driblou um ano de La Niña e registrou produtividades recordes em vários estados, com exceção do Rio Grande do Sul, onde o clima seco reduziu o potencial produtivo das lavouras. Não fossem as perdas gaúchas, a produção nacional poderia até ultrapassar as 160 milhões de toneladas. Já a safra argentina foi fortemente afetada pelo La Niña, resultando em perdas acima de 50% de sua produção. Mesmo assim, ao se considerar o recorde absoluto do Brasil, os grandes volumes acabaram compensando a menor safra do nosso vizinho, com expectativas de que a Argentina importe volumes significativos de soja brasileira. Olhando para o balanço mundial, a estimativa de estoques finais mundiais 2022/2023 do USDA não indica um cenário de folga, com o volume em linha com o registrado nos dois últimos ciclos.

Destaco que o balanço de oferta e demanda dos Estados Unidos está bastante restrito, com uma relação estoque/uso estimada em 4,8%. Mesmo assim, os preços da soja têm ficado pressionados, com quedas significativas dos prêmios no Brasil, em meio à entrada da safra brasileira gigante no mercado, e de um contexto de dificuldades logísticas, como a falta de armazenamento. Outro ponto de atenção é a demanda. O mundo enfrenta perspectivas de uma economia mais fraca, com juros mais altos, e a China, maior consumidora e importadora de soja, tem registrado margens de esmagamento negativas, além de surtos recentes de peste suína africana (PSA), com potencial de afetar a oferta de carne no segundo semestre. Soma-se a esses fatores a expectativa de transição para condições climáticas regidas pelo fenômeno El Niño, que pode estar presente no verão do Hemisfério Norte, quando a safra dos Estados Unidos está se desenvolvendo.

O país ocupa o segundo lugar na produção mundial de soja, dividindo com o Brasil o protagonismo nas exportações. Com a provável ocorrência do El Niño, a produtividade média da soja nos Estados Unidos pode ser favorecida, resultando em uma safra grande, mesmo com as perspectivas iniciais de estabilidade da área plantada. Isso porque o fenômeno climático diminui o risco de secas prolongadas durante os meses de verão na maior parte do cinturão de grãos, garantindo um volume de precipitações adequado ao desenvolvimento da safra. Com isso, o mercado aposta que o ciclo 2023/2024 pode começar com uma produção muito favorável nos Estados Unidos, num momento em que a enorme oferta brasileira tem capacidade de fazer frente a uma demanda que ainda pode ser impactada negativamente. Reforço, também, que o El Niño tende a favorecer as safras brasileira e argentina. No geral, o fenômeno resulta em mais chuvas nas regiões do Brasil que são as maiores produtoras de soja (em parte do Centro-Oeste e no Sul) ao longo do ciclo de verão, garantindo umidade suficiente e evitando secas localizadas.

Entretanto, dependendo da intensidade do fenômeno, as chuvas podem acabar sendo excessivas no Rio Grande do Sul, por exemplo, e escassas na Região Nordeste. Na Argentina, os efeitos do El Niño são muito semelhantes aos verificados no Sul do Brasil, com uma abundância de chuvas durante o desenvolvimento da safra. Com isso, os impactos sobre a produção tendem a ser muito positivos, levando a uma média de produtividade mais alta. Por outro lado, é preciso se acompanhar também a possibilidade de as precipitações ultrapassarem os volumes considerados ideias, ainda que, de maneira geral, o fenômeno tenda a ser muito benéfico para a safra de soja do país. Assim, a ocorrência do El Niño aponta para menores chances de problemas pelo lado da oferta, lembrando que a produção de soja é muito concentrada em Brasil, Estados Unidos e Argentina, situação que limita a possibilidade de uma reação mais significativa dos preços da oleaginosa, a não ser que a demanda dê sinais mais positivos, se mostrando mais aquecida. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.