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17/Mar/2023

EUA: dúvidas sobre área de soja na safra 2023/2024

Apesar de a produção de soja e milho 2022/2023 da América do Sul ainda estar passando por ajustes em suas estimativas, com destaque para os cortes nos números da Argentina, a próxima safra dos Estados Unidos vai ganhar cada vez mais espaço no "radar" do mercado nas próximas semanas e meses. No fim de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) realizou seu Fórum Agrícola anual, evento sempre muito aguardado por trazer os primeiros números para a safra nova dos Estados Unidos, que começará a ser semeada em abril. Mesmo com o Fórum trazendo estimativas para o balanço completo do país, as atenções acabam se voltando mais para a área plantada. Para a soja, o USDA indicou uma área estável em 2023/2024, em comparação ao ciclo anterior, ficando em 35,4 milhões de hectares. Já para o milho, as estimativas apresentadas durante o Fórum apontam para uma área plantada de 36,8 milhões de hectares, quase 1 milhão de hectares a mais que o registrado na safra anterior.

Assim, esses primeiros números sugerem um potencial de recuperação maior da produção de milho do país, a depender do rendimento das lavouras. Contudo, gostaria de destacar aqui que a área plantada de ambas as culturas ainda deve registrar mudanças importantes. Primeiramente, essa área trazida no Fórum é baseada em modelos estatísticos, não sendo resultado de um levantamento junto aos produtores do país. Essa pesquisa qualitativa é feita pelo USDA no começo de março e divulgada no último dia do mês, em seu relatório de intenções de plantio. Este último, por sua vez, oferece uma perspectiva mais realista de qual será a área plantada de soja e de milho e esses números passam a ser incorporados pelo USDA em suas divulgações mensais de oferta e demanda, no conhecido relatório WASDE (na sigla em inglês), a partir da publicação de maio. Cabe destacar, entretanto, que mesmo essa pesquisa qualitativa com os produtores não é garantia de que a área projetada será efetivamente plantada. Um fator que pode resultar em trocas de área de última hora é a própria janela dos grãos.

O milho é semeado algumas semanas antes da soja. Com isso, se forem observados atrasos no cultivo do cereal, pode haver alguma migração para a oleaginosa. Um dos indicadores que também é bastante acompanhado, e que tende a afetar o tamanho das áreas de soja e milho nos Estados Unidos, é a relação de preços entre a soja e o milho, que indicaria qual cultura remuneraria melhor o produtor. Para calculá-la, divide-se o preço da soja (contrato de novembro na Bolsa de Chicago - CBOT) pelo do milho (contrato de dezembro). Quanto mais alto o resultado, mais rentável seria a soja para o produtor e, quanto mais baixo, a tendência seria de o milho ganhar espaço. Ressalto que essa razão entre os preços das duas commodities (conhecida como ratio) tem subido nos últimos meses, com destaque para os avanços verificados em março, o que indica que a soja está subindo mais ou caindo menos que o milho e, dessa forma, estaria relativamente mais vantajosa frente ao cereal.

Essa "vantagem" da soja sobre o milho nos Estados Unidos vai na direção oposta aos números do Fórum Agrícola do USDA, que indicaram estabilidade para a área semeada com a oleaginosa, e não deve ter sido inteiramente captada também pela pesquisa de intenções de plantio, uma vez que o levantamento é finalizado no início de março, mesmo que a divulgação dos números ocorra somente no final do mês. Após a divulgação das intenções de plantio no próximo dia 31 de março, o USDA costuma revisar a área do país somente no relatório de área plantada do fim de junho, que também é baseado em pesquisa junto aos produtores. Dessa maneira, a variação de preços recente, que poderia favorecer algum aumento da área de soja, demoraria alguns meses para se refletir em números. De qualquer forma, por mais que a safra dos Estados Unidos ocupe posição cada vez mais central nas atenções do mercado, até que se consolide o número de produção, e mesmo de área, muitos eventos ainda podem ocorrer, afetando os preços das commodities, afinal, boatos e rumores são um combustível eficaz para movimentar os mercados, mesmo que no longo prazo os fundamentos prevaleçam. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.