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17/Fev/2023

Biodiesel deverá expandir o esmagamento de soja

A produção e o uso de biodiesel no Brasil são totalmente dependentes do nível da mistura obrigatória no diesel. Com isso, nos últimos anos, as alterações no porcentual da mistura afetaram diretamente a produção do biocombustível nacional. Com a pandemia de coronavírus em 2020, a mistura obrigatória, que se encontrava em 12%, foi reduzida em alguns bimestres do ano devido à escassez e preços altos do óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel. Essa postura, de definição dos mandatos antes de cada bimestre, se manteve em 2021, situação que trouxe imprevisibilidade ao mercado, além de os porcentuais também terem ficado mais baixos que os 13%, antes previstos para vigorar até o fim do ano. Já em 2022, com a manutenção de preços elevados do óleo de soja e os impactos do custo mais alto do biodiesel no diesel B, e consequentemente na inflação, a mistura ficou fixa em 10%, acabando com as revisões bimestre a bimestre, mas definindo um porcentual bem aquém dos 14% previstos a partir de março.

Essa mistura de 10% também foi estipulada para o primeiro trimestre de 2023, com o mercado aguardando o que vai acontecer com o porcentual obrigatório a partir de abril. Conforme a decisão de 2018, o mandato de biodiesel deveria subir 1 ponto porcentual ao ano, com o teor mínimo obrigatório de biodiesel no diesel sendo elevado para 15% (B15) em março próximo. Com o B10 em 2022, a produção de brasileira de biodiesel recuou 6,5%, em comparação ao ano anterior, configurando a primeira queda desde 2016. Uma produção menor de biodiesel impacta diretamente a demanda por matérias-primas para este fim, destacando, neste caso, o óleo de soja. Com um menor uso do óleo de soja para biodiesel, houve uma maior disponibilidade do óleo vegetal para exportação, que cresceu 57,3% em 2022, frente a 2021, alcançando 2,6 milhões de toneladas, numa inversão da tendência observada nos últimos anos à medida que a mistura obrigatória de biodiesel aumentava no país.

Por mais que as exportações de óleo de soja tenham compensado a queda da demanda interna para biodiesel, esse vaivém da mistura, com queda importante em 2022, também traz mais incertezas para a indústria de esmagamento de soja. Muitas empresas do setor são verticalizadas, contando com o processamento da oleaginosa acoplado à produção do biocombustível. Considerando a participação do óleo de soja na produção de biodiesel, estima-se que 4,75 milhões de toneladas de óleo de soja foram direcionadas para a produção do biocombustível em 2022. Partindo de uma taxa de extração de óleo no esmagamento da soja de 20%, 23,8 milhões de toneladas do grão foram esmagados somente para este fim no último ano. Ainda não sabemos qual vai ser o porcentual de mistura a partir de abril, mas o impacto de cada ponto de aumento do mandato tende a ser significativo no complexo de soja.

Tendo como base a estimativa para o consumo de diesel B em 2023, de 64,2 milhões de metros cúbicos, caso a mistura de biodiesel passe para 15% em abril e se mantenha nesse patamar até dezembro, considerando uma participação de 77% do óleo de soja entre as matérias-primas do biocombustível, a necessidade de processamento de soja somente para a produção de biodiesel cresceria em 8 milhões de toneladas frente ao registrado em 2022. Entretanto, faz sentido considerar que se a mistura obrigatória subir diretamente para a meta original de 2023, de 15%, o óleo de soja tenderia a ampliar sua participação na produção de biodiesel, uma vez que é a matéria-prima que mais facilmente consegue ajustar sua oferta frente a um forte crescimento da demanda.

Dessa forma, considerando que o óleo de soja alcance uma participação próxima de 90% entre as matérias-primas do biodiesel no caso da adoção do B15, o esmagamento de soja somente para esta finalidade precisaria aumentar mais de 14 milhões de toneladas, em comparação a 2022. De qualquer forma, a primeira mudança que deve acontecer a partir de uma elevação da mistura obrigatória é a redução do excedente exportável de óleo de soja. Dependendo da magnitude do ajuste na política do biodiesel, o esmagamento também deve ser estimulado, principalmente se o mandato aumentar mais bruscamente. Fonte: Broadcast Agro - Ana Luiza Lodi é mestra em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em Inteligência de Mercado da consultoria StoneX.