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20/Jan/2023

Perdas na Argentina e impactos no balanço global

Em mais um ano de La Niña, o desenvolvimento da safra de soja da América do Sul é seguido de perto. Gosto sempre de lembrar que a oferta de soja é muito concentrada em Brasil, Estados Unidos e Argentina e, atualmente, dois destes países enfrentam adversidades climáticas, com a falta de chuvas em algumas regiões. A situação no Brasil continua, em geral, muito positiva, com as estimativas apontando para uma produção recorde, apesar de algumas perdas de potencial produtivo já registradas. Em sua revisão de janeiro, a StoneX cortou sua estimativa de produção de soja 2022/2023, passando de 155 milhões para 153,8 milhões de toneladas, com reduções especialmente nas safras de Rio Grande do Sul e Paraná. A Conab também reduziu seu número no último Levantamento, ficando em 152,7 milhões de toneladas. Por outro lado, o USDA aumentou a safra brasileira em 1 milhão de toneladas, para 153 milhões. De qualquer forma, as estimativas estão convergindo para um resultado acima de 150 milhões de toneladas aqui no Brasil. Já para a Argentina, os impactos do clima devem ser mais graves.

O USDA diminuiu a produção de soja do país em 4 milhões de toneladas, ficando em 45,5 milhões. Mesmo com esse corte, o número do USDA ainda ficou consideravelmente mais elevado que os das bolsas argentinas, que também promoveram revisões em suas estimativas. A Bolsa de Rosário trouxe o ajuste mais agressivo, com uma redução de 12 milhões de toneladas na produção de soja 2022/2023, que ficaria em 37 milhões de toneladas. A Bolsa de Buenos Aires também promoveu um corte significativo, de 7 milhões de toneladas, com a produção esperada ficando em 41 milhões. Além dos impactos adversos da falta de chuvas no país, a Bolsa de Buenos Aires reduziu em 500 mil hectares a área plantada, passando para 16,2 milhões de hectares, em consequência das perdas registradas por causa de temperaturas muito elevadas e do encerramento da janela de plantio nas regiões do centro da área agrícola do país. Ainda falando em diminuição da oferta, o USDA revisou a produção norte-americana 2022/2023, com um corte de quase 2 milhões de toneladas, passando de 118,27 para 116,38 milhões.

Esse recuo foi motivado por uma pequena redução da área colhida, mas principalmente pela queda da produtividade média nacional, saindo de 3,38 toneladas para 3,33 toneladas por hectare. Diante desse cenário, pelo lado da produção, o clima na América do Sul vai continuar central nas próximas semanas, destacando que as preocupações com a Argentina permanecem, além das regiões que plantam mais tarde no Brasil. No caso de perdas de safra ainda maiores, a possibilidade de um balanço mundial de oferta e demanda mais restrito aumenta, com as atenções se voltando principalmente para a China, uma vez que o consumo de soja também é muito concentrado, com o país sendo o grande importador mundial da oleaginosa. Atualmente, há preocupações quanto ao ritmo das importações chinesas de soja, uma vez que a economia do país tem dado sinais de desaceleração e ainda sente os impactos da política de Covid-zero, mesmo com o relaxamento das medidas muito restritivas. O USDA reduziu a estimativa de importação chinesa 2022/2023 para 96 milhões de toneladas, recuo de 2 milhões frente ao número anterior.

Por outro lado, em dezembro, o país importou 10,56 milhões de toneladas da oleaginosa, o maior volume desde junho de 2021. Mesmo com essa reação no último mês de 2022, o acumulado do ano ficou em 91,1 milhões, nível mais baixo que o registrado no ano calendário anterior, em 96,6 milhões. Por outro lado, destaca-se que os estoques de farelo do país continuam apertados, o que tenderia a incentivar a importação e o esmagamento do grão, principalmente após o relaxamento das medidas anti Covid-19. Contudo, a criação de animais não está avançando como se esperava, após a recuperação da peste suína africana (PSA), e têm sido adotadas composições de ração com menor uso do farelo de soja. Dessa forma, um possível consumo chinês mais fraco poderia aliviar o aperto no balanço de oferta e demanda mundial resultante das perdas de safra na Argentina. Assim, por mais que o clima e a produção menor que o potencial na América do Sul sejam um importante fator altista para os preços, a demanda, muito dependente da China, vai definir o equilíbrio do balanço da soja nos próximos meses. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.