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12/Jan/2023

Exportações brasileiras de farelo e óleo avançando

O ano de 2023 começou conturbado e impondo desafios políticos grandes para o Brasil. Aliás, os últimos quatro governos federais comprovam que há sempre um fato externo ao seu controle que se impõe sobre a agenda planejada. No governo Dilma foram as manifestações de 2013, no de Temer a greve dos caminhoneiros de 2018, no de Bolsonaro a pandemia de 2020 e no de Lula os recentes atos criminosos contra Planalto, STF e Congresso. Os novos desafios, no entanto, não nos impedem de olhar para trás e comemorar bons resultados, quando eles acontecem. 2022 foi importante para a indústria de óleos vegetais. Entramos no ano com um ponto de interrogação enorme sobre o que aconteceria com o esmagamento de soja diante da decisão, tomada em 2021, de reduzir o mandato do biodiesel para 10% durante o ano todo. Esta redução teve consequências ruins, dado que o consumo de óleo de soja para biodiesel foi de 4,4 milhões toneladas, caindo 10% em relação ao consumido em 2021 (4,9 milhões de toneladas).

Conforme o ano foi passando, devido a boa demanda internacional por farelo de soja e ótima demanda internacional por óleo de soja, ficou claro que a redução forçada do consumo de biodiesel não resultaria em menor processamento do grão. As estatísticas da Abiove para 2022 contabilizam 50,4 milhões de toneladas de soja processada, crescimento de 5,5% em relação a 2021 (47,8 milhões de toneladas). O processamento representou, em 2022, 39% da soja produzida no Brasil. É o mais alto valor desde 2017, demonstrando que a indústria de processamento tem capacidade de avançar quando há demanda para os processados. O crescimento da relação processamento/produção, é importante que se diga, aumentou não somente porque o processamento cresceu em volume, conforme já explicado, mas também porque houve uma quebra de produção na soja, caindo 10,3 milhões de toneladas em relação a 2021 (7,5% de redução). A mensagem que importa, no entanto, é que, havendo demanda para farelo e óleo de soja, a indústria responde ampliando a produção de processados. Trata-se de notícia a ser comemorada.

O grande desempenho de 2022 coube ao óleo de soja. Nosso setor exportou 2,6 milhões de toneladas, o maior volume registrado desde que a Abiove começou a série de estatísticas com dados de 1999. Os destaques foram a Índia, responsável por 62% de tudo que exportamos, e Bangladesh, com 10%. Ambos os países foram ao mercado internacional para diversificar fornecedores, dadas as dificuldades de oferta de óleos vegetais de tradicionais grandes exportadores tais como Argentina, Ucrânia e Indonésia. Em 2022, as exportações de óleo de soja cresceram 58% em relação à 2021 (958 mil toneladas adicionais). A alta demanda internacional por óleo de soja mais do que compensou a queda da demanda atribuída ao biodiesel. Ao passo que o óleo consumido para biodiesel caiu 500 mil toneladas em 2022 sobre 2021, o aumento da exportação foi de 958 mil toneladas, para o mesmo período. O crescimento líquido da demanda de óleo, mesmo com queda para o biodiesel, é fator chave para explicar o crescimento do processamento de soja num ano com quebra de produção da oleaginosa.

O segundo fator que explica o incremento do processamento de soja em 2022 foi a demanda por farelo. Exportações e vendas no mercado interno foram de 38,3 milhões de toneladas, 5% acima de 2021 (36,4 milhões de toneladas). Mas houve uma mudança na relação entre mercado interno e mercado internacional. Assim como ocorreu no óleo para biodiesel - queda da demanda doméstica - as vendas para o mercado interno de farelo de soja caíram em 2022: de 19,2 para 17,9 milhões de toneladas. Com a economia brasileira sem crescimento e um empobrecimento da população, a demanda por carnes foi menor, diminuindo a demanda por farelo de soja na alimentação animal. No entanto, as exportações de farelo de soja cresceram substancialmente, mais do que compensando a redução da demanda interna: passaram de 17,2 em 2021 para 20,4 milhões de toneladas em 2022 (18% de crescimento). Foi, assim como o caso do óleo, o maior volume exportado desde o início da série da Abiove. Ásia, União Europeia e Oriente Médio foram as regiões que tiveram crescimento das importações do farelo brasileiro.

Destaque para a Ásia, com crescimento de 2 milhões de toneladas em comparação a 2021. Com relação à soja em grão, fruto da já mencionada quebra de produção em 2022, as exportações caíram 8,3%, com volume 7,2 milhões de toneladas menor do que o de 2021. Dado que houve demanda crescente pelos processados, e com a quebra de produção, era esperado que o ajuste ocorresse nas exportações. Vale salientar que esse ajuste, decorrente de menor oferta brasileira, mudou as participações dos destinos em 2022. China, Ásia exceto China e UE tiveram volumes importados do Brasil reduzidos, ao passo que outros mercados, tais como Oriente Médio, África e Europa do Leste (que inclui Rússia), cresceram. A queda das exportações para China e UE foi significativa. Embora não seja parte da indústria de óleos vegetais, é importante mencionar o desempenho das exportações de milho em 2022, uma vez que as maiores empresas exportadoras são também da indústria de oleaginosas. Foram exportadas 37,2 milhões de toneladas, 82% a mais do que 2021 (20,4 milhões de toneladas).

As exportações de milho, no entanto, dependem muito do volume de produção da segunda safra. Havendo produção grande, o volume exportado cresce muito, como ocorreu em 2019, quando o Brasil exportou 42,7 milhões de toneladas. O fato novo de 2022 foi que, devido à finalização de acordo sanitário com a China, o volume exportado de milho para lá, embora ainda pequeno no total, cresceu significativamente. Com uma boa produção na segunda safra em 2023, é provável que o crescimento continue. Olhar para o retrovisor não ajuda muito na visão para frente. O ano de 2023 começa com muitas interrogações para a indústria de oleaginosas, dado que nem o mandato de biodiesel ainda foi sinalizado pelo novo governo e permanece em 10%, por decisão anterior, até o final de março de 2023. Há outras incertezas sobre mercados consumidores: demanda chinesa, legislação europeia contra desmatamento e mesmo a guerra Rússia-Ucrânia que podem mudar o cenário positivo ocorrido em 2022. Mas nosso setor está trabalhando para ter um 2023 com crescimento no processamento, assim como foi no ciclo passado. Autor: André Nassar é presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e ex-presidente do Conselho de Administração da Embrapa - Fonte: Broadcast Agro.