02/Dez/2022

Este é o terceiro ano consecutivo de ocorrência do La Niña, que, em mais de 100 anos, foi registrado apenas duas vezes na série histórica da agência climática dos Estados Unidos (NOOA). Os relatos a seguir denotam uma situação preocupante para toda a parte Sul da América do Sul. De modo geral, há falta de umidade para plantio/desenvolvimento da safra no Centro do Brasil, Argentina e Paraguai. A situação atual é muito preocupante, mas ainda não permite projetar quebras de safras ou necessidades de replantios. O tema deverá ser monitorado sistematicamente nas próximas semanas.

Situação da safra brasileira 2022/2023

O mais recente levantamento semanal de progresso de safra, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostrou que o plantio da safra de soja 2022/2923 no Brasil atingiu 86,1% da área total estimada até o último sábado (26/11), avanço de mais de 10 pontos porcentuais em uma semana, em comparação com os 75,9% reportados na semana anterior. A semeadura da soja está atrasada na comparação com o ciclo passado, quando em igual período do ano 91,5% das lavouras já estavam plantadas. São Paulo lidera os trabalhos de plantio, com a área completamente semeada. O Estado mais atrasado é Maranhão, com 49%. A retomada das chuvas permitiu a volta da semeadura e o replantio em áreas pontuais. As lavouras, em sua maioria, apresentam boas condições. Em Goiás, as lavouras têm apresentado os efeitos da restrição hídrica de novembro.

Mato Grosso, principal Estado produtor do grão, tem 99,1% da área semeada. Em Mato Grosso, a semeadura do atual ciclo se iniciou mais cedo do que no ano passado. Porém, isso aconteceu com muita pouca umidade do solo. Existem alguns bolsões de seca em todo o estado, principalmente na região oeste e um pouco na região sudeste. O que chama a atenção, de modo geral, é a baixa umidade do solo em Mato Grosso. A combinação é de baixos volumes de chuva, baixa umidade do solo e temperaturas elevadas. Há algumas regiões que estão há quase 30 dias sem chuvas. As precipitações ainda não estão regulares em todo o Estado.

No Centro-Sul do Brasil, as chuvas voltam a ganhar intensidade e se tornam mais abrangentes a partir do próximo final de semana (02 e 03/12). Entre a primeira e a segunda semana de dezembro as chuvas devem migrar mais para o Centro-Sul do país, onde são esperados episódios mais frequentes. Para o norte de Minas Gerais, Espírito Santo e interior do Matopiba, estão previstos de 100 mm a até 130 mm até a próxima sexta-feira (02/12).

Para o milho 1ª safra 2022/2023 (safra de verão), 68,6% da área estimada foi semeada no Brasil, ante 62,6% da semana anterior - avanço semanal de 6 pontos porcentuais. Há atraso na comparação anual ante os 75,3% plantados em igual período da temporada 2021/2022. São Paulo está à frente na semeadura do grão, com 100% da área semeada, já o Estado do Piauí ainda não iniciou a semeadura. No Rio Grande do Sul, a semeadura evolui lentamente e, com a falta de precipitações significativas no noroeste do Estado, observam-se algumas lavouras sob restrição hídrica. Na Bahia, com a regularização das chuvas, houve aumento do ritmo de semeadura. As chuvas abaixo do esperado em regiões do Sul e do Centro-Oeste do País têm preocupado sojicultores quanto ao desenvolvimento das lavouras. Parte dos produtores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, inclusive, desacelerou a semeadura da oleaginosa, no intuito de aguardar maior umidade do solo.

Situação da safra argentina 2022/2023

Na Argentina, a escassez de chuva é preocupante, cenário que limita as atividades de campo e deixa sojicultores em alerta. Dos 16,7 milhões de hectares de soja a serem cultivados no país na safra 2022/2023, apenas 19,4% foram semeados até o dia 24/11, um significativo atraso de 20 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2021.

O clima anormalmente quente na Argentina está aumentando os temores sobre a umidade do solo e como isso pode afetar negativamente as lavouras de verão (soja e milho). As regiões de cultivo do país ficaram secas no último fim de semana e terão algumas chuvas isoladas antes de voltarem a ficar quentes e secas. Clima seco e estiagem continuam sendo preocupações até que as chuvas se tornem mais consistentes.

A Argentina está no processo de semeadura da safra de verão agora e há atrasos nos trabalhos de campo devido à falta de umidade. As previsões climáticas para a América do Sul voltaram a reduzir parte das chuvas esperadas para a Argentina nos próximos dias. O plantio da próxima safra 2022/2023 está muito lento e algo inédito está ocorrendo: mais de 1 milhão de hectares da região central da Argentina só serão plantados neste mês de dezembro, quando as chuvas devem trazer mais umidade ao solo.