02/Dez/2022
As importações chinesas de soja começaram o ano safra 2022/2023 (de outubro de 2022 a setembro de 2023) em ritmo mais lento, alcançando 4,14 milhões de toneladas no décimo mês de 2022. Esse resultado ficou abaixo, inclusive, das expectativas do mercado, que rondavam 5 milhões de toneladas e é o menor nível mensal registrado pelo país desde outubro de 2014, quando as importações também ficaram nesse patamar, pouco acima de 4 milhões de toneladas. Destaca-se que o número de outubro vai na direção contrária do que foi registrado em setembro, quando o resultado de 7,72 milhões de toneladas importadas surpreendeu positivamente e levou o encerramento do ano safra 2021/2022 ao acumulado de 91,6 milhões de toneladas, acima do que era estimado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para as importações anuais do país, em 90 milhões de toneladas.
Mesmo assim, o nível de 2021/2022 ficou aquém das estimativas no início do ano safra, que estavam mais próximas de 100 milhões de toneladas. Considerando o período desde janeiro até outubro de 2022, a China importou 73,2 milhões de toneladas de soja, volume 7,4% abaixo do registrado no mesmo período de 2021. Esse desempenho geral mais fraco das importações chinesas é resultado de margens de esmagamento mais apertadas que predominaram na maior parte deste ano e que acabam limitando os volumes importados para se direcionar ao processamento. Cabe lembrar que os preços da soja atingiram as máximas em 10 anos em junho passado, diante das preocupações com o clima no Hemisfério Norte, após já ter havido perdas no Brasil na colheita do começo deste ano. Por outro lado, essas importações mais fracas de soja resultaram em uma diminuição dos estoques do grão no país, num momento em que as margens da indústria de suínos estão mais positivas, incentivando a demanda por farelo, o principal ingrediente proteico da ração.
Essa oferta apertada de farelo de soja fez os preços do derivado alcançarem níveis recordes no início de novembro, diante de estoques restritos no país, resultado de uma oferta mais limitada de soja e do avanço da demanda pelo farelo desde meados do ano. Nos meses finais do ano, as expectativas são de que os estoques de farelo voltem a aumentar à medida que se importa e se esmaga mais soja. Os volumes importados da oleaginosa, em novembro e dezembro, devem ficar mais aquecidos, alcançando, em conjunto, entre 16 e 18 milhões de toneladas. Em relação ao esmagamento, os volumes processados semanalmente nos meses de dezembro e janeiro podem superar 2 milhões de toneladas. Dessa forma, o cenário atual se mostra positivo para as importações de soja pela China nos próximos meses, destacando que esse é o melhor momento de exportações de soja dos Estados Unidos (o quarto trimestre do ano). Já aqui na América do Sul, o período é de entressafra, mas a volta do dólar soja na Argentina até o final do ano pode incentivar as vendas do país.
No Brasil, a oferta vai crescer com a colheita da nova safra, a partir de janeiro, lembrando que a produção pode superar 150 milhões de toneladas. É importante levar em conta, entretanto, a política de tolerância zero contra a Covid-19 adotada pela China, que tem trazido prejuízos à economia do país, com potencial de afetar também a demanda por soja, por mais que se trate de uma commodity alimentar, que possui uma maior resistência em momentos de desaceleração econômica. Recentemente, o país adotou medidas em direção a algum relaxamento das restrições impostas no combate ao coronavírus, o que animou o mercado de soja, mas o grande aumento de casos e o registro das primeiras mortes em seis meses têm levado à volta de ações extremamente severas, com limites rigorosos à mobilidade e testagem em massa da população, que está cada dia mais insatisfeita com a política. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.