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30/Nov/2022

Brasil sentirá impacto do “Dólar Soja” na Argentina

Desde sábado (26/11), comecei a receber chamadas de colegas e amigos que estiveram no TopFarmers e que assistiram à palestra "Descomplicando a Comercialização" que fiz com Roberta Paffaro, diretora da Bolsa de Chicago para a América Latina, na terça-feira (22/11). Todos eles lembraram de alguns pontos destacados por nós como desafios para a safra de soja 2022/2023 e, em especial, o último. Dentre os desafios citei o baixo percentual comercializado com uma previsível safra recorde pela frente, o alto custo de produção, terceiro ano seguido de La Niña, especulações cambiais pré e pós-eleições e (aqui reside o motivo de tantos comentários) a possibilidade de a Argentina promover, a exemplo do que recentemente fez, uma nova janela de comercialização com dólar diferenciado - o dólar soja - o que nos faria perder competitividade direta. Lembro exatamente do momento em que falei sobre essa possibilidade e da expressão preocupada de várias pessoas na plateia.

Infelizmente o mercado acordou nesta semana com este cenário mais real do que nunca. Mais uma vez para capitalizar os cofres públicos e saudar compromissos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina lança mão desta ferramenta que foi extremamente assertiva em setembro. Nos dias atuais, o dólar equivale a 165 pesos e novo câmbio vale 230, 30 pesos a mais que na primeira edição do programa quando foram comercializadas cerca de 15 milhões de toneladas do grão. Com esta decisão, que é válida até o fim de dezembro, o governo estimula artificialmente a competitividade das famílias produtoras rurais que obviamente agradecem a nova oportunidade de performar sua produção. Logicamente Brasil e Estados Unidos, competidores diretos da Argentina, sofrerão impacto, uma vez que se espera que a origem argentina negocie tanto no mercado doméstico quanto no internacional. Este é um mercado que exige alto nível de excelência e um acompanhamento primoroso para tudo o que acontece fora das porteiras.

Como disse em minha apresentação, não basta adotar uma gestão eficiente dentro da porteira, investir em insumos e tecnologia de ponta, ter uma equipe capacitada, é necessário ir além. Defendo e continuarei a defender que a excelência do agro está nos detalhes que muitas vezes não nos damos conta. Para quem está nos negócios, é preciso acompanhar fundamentos macroeconômicos e não estar um passo à frente, mas sim, vários. Cada safra é uma safra, com fundamentos similares, mas com particularidades específicas. Pelo que tudo indica, o governo argentino não deve parar nesta nova edição do programa e quem sabe essa ferramenta seja adotada oficialmente de forma mais ampla e por sistemas de cotas crescentes. Tudo dependerá da necessidade de caixa do país. Nunca foi tão importante acompanhar a liquidez dos nossos vizinhos e monitorar as datas de vencimento dos contratos de financiamento do governo junto às instituições financeiras. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.