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21/Out/2022

Incertezas sobre estoques globais em 2022/2023

As cotações da soja têm apresentado grande volatilidade em 2022, diante das dúvidas quanto ao balanço de oferta e demanda mundial, em um momento de definição da produção e de medidas econômicas contracionistas adotadas por vários países para combater a inflação. Nos últimos meses, o andamento da safra norte-americana dominou o noticiário sobre a oleaginosa, uma vez que o clima durante a safra 2022/2023 do país registrou irregularidades, com atrasos no início do plantio, devido ao excesso de chuvas e temperaturas baixas, ondas de calor ao longo do verão no Hemisfério Norte, além da falta de precipitações na área oeste da região produtora. Diante desta conjunção de adversidades meteorológicas, havia receios de perdas de safra, que acabaram sendo moderadas, com o número oficial do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) atualmente em 117,38 milhões de toneladas, e a produtividade média em 3,35 toneladas por hectare.

Mesmo assim, esse nível de produção nos Estados Unidos já tende a resultar em alguma restrição pelo lado do consumo, com os estoques finais 2022/2023 estimados em 5,44 milhões de toneladas. Esse volume de estoques ocorreria mesmo após a revisão da safra 2021/2022 do país, que subiu cerca de 800 mil toneladas, para 121,53 milhões de toneladas. De qualquer maneira, lembro que o ciclo 2022/2023 está apenas em seu início ao redor do mundo. O consumo também está cercado de dúvidas, em um momento de potencial desaceleração, já que as medidas de combate à inflação costumam ter efeito limitante sobre a atividade econômica. Adicionalmente, continua a ser acompanhada de perto a política de tolerância zero contra a Covid-19 aplicada pela China, maior consumidor mundial da oleaginosa. Mesmo com essas preocupações, o USDA elevou a estimativa de importação chinesa no ciclo 2022/2023 para 98 milhões de toneladas.

Pelo lado da oferta, a safra da América do Sul está começando. Gosto sempre de pontuar a elevada concentração da produção de soja em Brasil, Estados Unidos e Argentina. Atualmente, as estimativas de produção do USDA e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estão acima de 150 milhões de toneladas para o Brasil, assim como a da StoneX, cuja última revisão trouxe 153,8 milhões de toneladas. No caso da Argentina, as estimativas também apontam para uma safra robusta, ao redor de 50 milhões de toneladas, apesar de a Bolsa de Cereais de Buenos Aires estar mais conservadora, com um número de produção em 48 milhões de toneladas, mesmo com as perspectivas de aumento de área. Em vista desse contexto, as estimativas atuais para o balanço de oferta e demanda mundial indicam a produção superando o consumo em pouco mais de 10 milhões de toneladas, segundo o USDA, o que contribuiria para uma elevação dos estoques globais ao final do ciclo 2022/2023.

Todavia, como a temporada atual está apenas no começo, essa "folga" no balanço mundial da oleaginosa precisa ser interpretada com cautela, já que muita coisa ainda pode mudar, principalmente pelo lado da oferta. Esse cenário aparentemente confortável depende de que tudo dê certo aqui na América do Sul, com a produção brasileira alcançando o recorde esperado, acima de 150 milhões de toneladas, assim como uma safra argentina dentro da normalidade, em um momento de ocorrência do La Niña pelo terceiro ano consecutivo. Sou sempre otimista quando às perspectivas de produção, torcendo para o ciclo transcorrer sem problemas relevantes.

Contudo, em anos de La Niña, as precipitações tendem a ficar abaixo do normal no sul da América do Sul, o que foi o motivo das perdas importantes registradas na safra anterior em Brasil, Argentina e Paraguai. Com isso, a oferta é a variável que pode sofrer variações expressivas de um ano para o outro, tanto para cima quanto para baixo, devido ao clima, o que, no caso da soja, impacta consideravelmente o balanço mundial, devido à elevada concentração da produção em poucos países. Dessa forma, a evolução do balanço mundial de soja precisa ser olhada com paciência, pois mudanças significativas ainda podem ocorrer. Destaco que as condições atuais eram parecidas às observadas um ano atrás, com perspectivas de que a produção superasse o consumo, o que acabou não se confirmando, em decorrência das perdas aqui na América do Sul. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.