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26/Set/2022

Tendência de baixa da soja: clima, petróleo e dólar

A tendência é de pressão baixista sobre os preços da soja, no curto prazo, com pressão de clima favorável no Brasil, queda acentuada do petróleo e fortalecimento do dólar nos EUA. Os futuros de soja negociados na Bolsa de Chicago fecharam em baixa na sexta-feira (23/09). O desempenho refletiu em parte o fortalecimento do dólar ante o Real, que tende a estimular as exportações brasileiras. O Brasil é o principal concorrente dos Estados Unidos no mercado de exportação de soja. A perspectiva de um longo período de juros altos nos Estados Unidos deve pressionar moedas emergentes. No dia 21 de setembro, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) elevou os juros em 0,75% pela terceira vez seguida. Riscos de excesso de aperto pelo Fed devem manter moedas emergentes sob pressão. O vencimento novembro/2022 da soja recuou 31,25 cents (2,14%), e fechou a US$ 14,25 por bushel. A forte queda do petróleo também influenciou os negócios, já que faz com que refinarias tenham menos incentivo para misturar biodiesel ao diesel.

O óleo de soja, que caiu mais de 4%, é uma das principais matérias-primas usadas na fabricação do biocombustível. O avanço da colheita nos Estados Unidos e o clima favorável ao plantio no Brasil também pesaram sobre os contratos. Na sexta-feira (23/09), o dólar subiu 2,62%, para R$ 5,24. Com isso, encerrou a semana com baixa de apenas 0,20%. No mês, apresenta ganhos de 0,90%. Na Bolsa de Chicago, os contratos futuros para 2023 seguem sustentados, no intervalo entre US$ 13,60 a US$ 14,40 por bushel, ante média histórica dos últimos 10 anos de US$ 11,11 por bushel. No relatório de setembro, o USDA reduziu a projeção da safra dos EUA 2022/2023 para 119,2 milhões de toneladas, ante 123,3 milhões de toneladas previstas no relatório de agosto/2022, o que dá dar maior sustentação para as cotações futuras nos curto e médio prazos, até que se tenha melhor definição da safra sul-americana. Os óleos vegetais sofreram as maiores baixas entre os principais segmentos de commodities agrícolas entre abril e setembro deste ano, com os receios de uma recessão na economia global.

Pelo mesmo motivo, a forte queda dos preços do petróleo também impacta em recuo da competitividade do biodiesel, que tem o óleo de soja como principal matéria prima nos EUA. O petróleo do tipo Brent caiu para abaixo do patamar de US$ 85 o barril na sexta-feira (23/09). No longo prazo, o viés é baixista para os preços globais da soja, já que a perspectiva é de forte avanço da área plantada e da produção na América do Sul na temporada 2022/2023. Mas somente uma safra sul-americana cheia poderia impactar em baixas mais acentuadas dos futuros em Chicago. O governo argentino anunciou, no dia 4 de setembro, a possibilidade de produtores comercializarem soja com uma taxa de câmbio especial de 200 pesos por dólar. A medida, que ficará em vigor até 30 de setembro, tem como objetivo estimular a venda de soja por parte de produtores e aliviar a escassez de dólares na Argentina. A decisão do Banco Central da Argentina de proibir empresas que venderam soja com o câmbio especial de comprar dólares não está inibindo as vendas por parte de produtores.

Favorecida pela maior umidade do solo, a semeadura da nova safra de soja avança no Brasil, sobretudo no Paraná, em Mato Grosso e em São Paulo. Apesar de preocupações com possíveis impactos negativos que a La Niña pode causar, especialmente na Região Sul do País, o clima entre os agentes é de otimismo. O ritmo das atividades está relativamente acelerado no oeste, sudoeste e centro-oeste do Paraná, o que, por sua vez, pode beneficiar o cultivo da 2ª safra de milho de 2023. No Paraná, 35% da área de soja já havia sido semeada na região oeste do Estado até a semana passada. Nos demais Estados, o percentual ainda é baixo, mas a semeadura deve ser intensificada nesta semana. Esse cenário tem levado parte dos produtores a liquidar uma parcela da soja remanescente da safra 2021/2022, resultando em queda nas cotações da oleaginosa no Brasil.

Nos últimos sete dias, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no Porto de Paranaguá, apresenta recuo de 1,1%, cotado a R$ 184,87 por saca de 60 Kg. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ registra queda de 1,2% nos últimos sete dias, para R$ 179,52 por saca de 60 Kg. As baixas internas da soja em grão foram limitadas pelo avanço dos preços externos. A colheita da oleaginosa nos Estados Unidos também se iniciou, mas as atividades estão lentas frente às últimas temporadas. Segundo o relatório de acompanhamento de safras do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 3% da área cultivada com soja foi colhida no país até o dia 18 de setembro, 2% abaixo do mesmo período do ano passado e da média dos últimos cinco anos. Além disso, as exportações norte-americanas cresceram 52% entre as duas últimas semanas. Na parcial deste mês, os embarques de soja superaram em 81% o volume escoado na parcial de setembro de 2021.

Os prêmios de exportação no Brasil seguem pressionados pela menor demanda do setor de biodiesel e pela diminuição das exportações. O valor FOB no Porto de Paranaguá (PR) foi calculado em US$ 1.186,53 por tonelada no dia 22 de setembro, o menor desde 1º de julho de 2021, considerando-se o contrato de primeiro vencimento. No mercado interno, o preço do óleo de soja (posto em São Paulo com 12% de ICMS) apresenta recuo de 1,3% nos últimos sete dias, caindo para R$ 7.395,60 por tonelada. No dia 19 de setembro, o preço médio do óleo de soja registrou o menor patamar desde 16 de julho do ano passado, ao fechar a R$ 7.197,26 por tonelada. Assim como verificado para o grão, a alta externa tem limitado a queda nos preços do óleo de soja no Brasil. A valorização do petróleo, devido aos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, e notícias de que a União Europeia está preparando novas sanções contra a Rússia elevaram as cotações externas.

Com isso, na Bolsa de Chicago, o contrato com vencimento Outubro/2022 está cotado a US$ 1.530,65 por tonelada, alta de 4% nos últimos sete dias. Quanto ao farelo de soja, embora os prêmios de exportação estejam em baixa, o preço FOB no Porto de Paranaguá (PR) apresenta avanço de 1,7% nos últimos sete dias, indo para US$ 514,44 por tonelada. Com base no dólar futuro negociado na B3 no dia 22 de setembro, a paridade de exportação do farelo é de R$ 2.640,92 por tonelada no Porto de Paranaguá (PR), abaixo dos valores praticados no mercado interno. O farelo de soja é negociado, em média, a R$ 2.701,69 por tonelada na região oeste do Paraná; a R$ 2.709,04 por tonelada em Ponta Grossa (PR) e a R$ 2.668,03 por tonelada em Campinas (SP). Nos últimos sete dias, o preço do farelo de soja registra valorização de 2,3%. Este aumento se deve à maior demanda doméstica, visto que grande parte dos consumidores indica ter necessidade de completar os estoques. A alta externa também influencia as cotações domésticas do farelo. Na Bolsa de Chicago, o contrato Outubro/2022 do farelo de soja tem avanço de 2,6% nos últimos sete dias, a US$ 491,52 por tonelada. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.