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16/Set/2022

La Niña: impactos incertos sobre lavouras de soja

Para os mercados de grãos e oleaginosas, o clima está sempre no centro das atenções: nos últimos meses, a safra norte-americana foi acompanhada de perto, uma vez que os Estados Unidos registraram padrão climático mais seco e quente que o normal para o oeste da região produtora. Mesmo assim, as estimativas privadas vinham indicando um resultado excelente para o ciclo 2022/2023 no País, com perspectivas de se alcançar uma safra recorde, acima de 122 milhões de toneladas. Diante desse cenário, o relatório mensal de oferta e demanda de setembro dos USDA era muito aguardado. Divulgado no último dia 12, o Departamento trouxe um corte acima do esperado da estimativa de produtividade para a safra 2022/23 dos Estados Unidos, com a média nacional ficando em 3,4 toneladas por hectare.

Além disso, houve uma redução da área colhida, de cerca de 243 mil de hectares, o que levou a um ajuste negativo da produção estimada de soja para 119,16 milhões de toneladas, nível que já não configura um recorde. Apesar de ainda poderem ocorrer novas revisões da safra norte-americana no futuro, esse contexto de uma produção um pouco menor nos Estados Unidos aumenta ainda mais a dependência dos resultados na América do Sul, já que a produção de soja é muito concentrada em Brasil, Estados Unidos e Argentina. Atualmente, as perspectivas são de que a produção mundial fique acima do consumo no ciclo 2022/2023, contribuindo para o crescimento dos estoques da oleaginosa. A StoneX estima uma safra recorde de soja no Brasil, alcançando 153,6 milhões de toneladas, mas o plantio está apenas começando.

Para a Argentina, as expectativas também apontam para uma safra robusta, ao redor de 50 milhões de toneladas, com a semeadura começando na segunda quinzena de outubro. Contudo, a ocorrência do fenômeno La Niña, pelo terceiro ano consecutivo, preocupa. Na América do Sul, o La Niña costuma estar associado a um padrão menos chuvoso no Sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai, principalmente nos meses de primavera. Já o volume de chuvas na região norte sul-americana tende a aumentar, incluindo áreas do Norte e do Nordeste do Brasil. Assim, nos meses do final do ano, período em que ocorre o plantio e o desenvolvimento das lavouras na América do Sul, é quando o fenômeno tende a ter impactos mais intensos, com um clima mais seco que pode prejudicar o potencial produtivo da Argentina e do Sul do Brasil.

A partir do início do ano, os efeitos do La Niña tendem a moderar-se, com resultados mais difíceis de se prever sobre a safrinha do milho. De qualquer maneira, mesmo com um clima influenciado pelo La Niña, é importante destacar que os impactos sobre as lavouras podem variar muito, já que o fenômeno também pode apresentar padrões diferentes, dependendo, por exemplo, da sua intensidade. A tendência é que o volume de chuvas seja menor no Sul do País, mas o quão menor faz toda a diferença. Um volume de precipitações 5% abaixo da média histórica é muito diferente de chuvas 50% abaixo do normal. Para mim, seria arriscado e imprudente defender aqui a possibilidade de que a safra 2022/2023 não sofrerá maiores prejuízos climáticos em decorrência do La Niña, após as quebras expressivas observadas no ciclo 2021/2022 nos Estados do Sul.

Nesse sentido, o destaque negativo de perdas de safra devido ao clima mais seco foi exatamente o Rio Grande do Sul, que registrou uma quebra em torno de 50%, de acordo com os números da StoneX. Por outro lado, a safra 2020/2021 também foi marcada pela ocorrência de La Niña e, inversamente, o Rio Grande do Sul alcançou recorde de produção de soja, ultrapassando o Paraná como segundo maior produtor nacional da oleaginosa no ano. Neste ciclo, o Paraná perdeu um pouco de potencial produtivo, assim como outros Estados fora da região Sul, mas não houve uma quebra como a registrada em 2021/2022. Dessa forma, ao se comparar os anos de ocorrência de La Niña com a produtividade média da soja no Brasil, não se obtém uma correlação muito elevada, demonstrando que a presença do fenômeno não necessariamente resultará em perdas de safra importantes. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.