22/Ago/2022
No curto prazo, a tendência é de pressão baixista sobre os preços da soja no mercado brasileiro. No mês de agosto, a saca de soja recuou, em média, R$ 4,00 por saca de 60 Kg, FOB interior do Paraná. Com o dólar em baixa e os futuros recuando em Chicago, as cotações cederam no Brasil. O contrato futuro com vencimento maio/2023 recuou de US$ 15,65 por bushel no início de junho/2022, para US$ 14,18 por bushel na sexta-feira (19/08) – queda acumulada de 9,4%. Em Chicago, os contratos para 2023 oscilam entre US$ 13,40 e US$ 14,20 por bushel, ante a faixa de US$ 14,00 a US$ 15,00 por bushel para os vencimentos deste segundo semestre de 2022. Após vários dias seguidos de ganhos, na sexta-feira (19/08), o dólar registrou leve variação negativa de 0,06%, fechando a semana a R$ 5,16. Ao longo da última semana, a cotação valorizou devido a temores inflacionários no mundo e de renovadas preocupações com a economia chinesa. Na semana passada, o dólar subiu 1,86%. A alta quase anulou as perdas no acumulado do mês (agora em 0,08%) e reduziu a queda no ano para 7,27%.
Os preços da soja estão recuando nos Estados Unidos e no Brasil. A queda está atrelada à diminuição nas transações internacionais de soja, que resultou em maior volume de estoque de passagem (da safra 2021/2022) em relação à quantidade estimada até o mês passado. Além disso, as recentes chuvas no Hemisfério Norte beneficiaram as lavouras em desenvolvimento, aliviando as tensões de produtores. Segundo o relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado no dia 12 de agosto, o estoque de passagem da safra 2021/2022 nos Estados Unidos (que se encerra neste mês de agosto) foi reajustado para 6,1 milhões de toneladas. Embora este volume seja 12,5% abaixo do estoque da temporada passada, ainda é 4,7% superior ao volume estimado no mês anterior. Isso porque os embarques norte-americanos (de setembro/2021 até o final deste mês) são previstos em 58,8 milhões de toneladas de soja pelo USDA, 2% inferiores aos esperados até o mês passado e 4,7% menores que o volume escoado na safra passada.
O consumo doméstico de soja nos Estados Unidos segue previsto em volume recorde, de 63,2 milhões de toneladas, 3,7% a mais que na temporada 2020/2021. Diante disso, a relação estoque/consumo final da soja nos Estados Unidos é prevista em 9,7% no final deste mês, a menor desde a safra 2014/2015. Pela segunda temporada seguida, o Paraguai segue como o terceiro maior exportador global de soja em grão, com o escoamento previsto em 2,9 milhões de toneladas nesta temporada (que se encerra em dezembro/2022). Este volume, porém, é o mais baixo desde 2008/2009, devido à significativa quebra de safra paraguaia, o qual teve a menor produção desde 2011/2012, o que deve resultar no menor estoque final das últimas 13 temporadas. Como o quarto principal exportador mundial de soja está a Argentina, que deve embarcar 2,25 milhões de toneladas de soja até setembro, volume 56,7% inferior ao escoado na safra passada e o menor desde 2017/2018.
O consumo doméstico é estimado em 47,76 milhões de toneladas, o maior das últimos cinco temporadas. Com isso, a relação estoque/consumo final na Argentina foi reajustado para 47%, o volume mais baixo desde a safra 2012/2013. A queda nas transações internacionais se deve ao recuo na demanda da China, que deve importar 90 milhões de toneladas na safra 2021/2022, 10% abaixo da safra passada e o menor volume das últimas três temporadas. A União Europeia também deve importar a quantidade mais baixa das últimas três safras, estimada pelo USDA em 14,6 milhões de toneladas de soja. A queda nos preços foi acentuada pelas expectativas de maior produção de soja nos Estados Unidos na temporada 2022/2023. Enquanto agentes de mercado aguardavam por quebra de safra, devido à piora nas condições das lavouras no último mês, o USDA reajustou as estimativas para a safra norte-americana, em 123,3 milhões de toneladas, 0,6% acima do previsto no mês passado e um recorde, caso se concretize.
Na Bolsa de Chicago, os contratos Setembro/2022 da soja e do farelo de soja registram recuo de 1,6% nos últimos sete dias, com respectivos fechamentos de US$ 14,95 por bushel e de US$ 495,37 por tonelada. O contrato Setembro/2022 do óleo de soja registra expressiva queda de 4,4%, no mesmo comparativo, indo para US$ 1.460,77 por tonelada. No spot nacional, nos últimos sete dias, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no Porto de Paranaguá, apresenta recuo de 2,7%, cotado a R$ 184,99 por saca de 60 Kg. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ registra queda de 2,1% nos últimos sete dias, a R$ 179,69 por saca de 60 Kg. Vale observar que ambos os Indicadores registram os menores patamares desde abril, período de finalização da colheita brasileira.
Nos últimos sete dias, os preços apresentam baixa de 2,5% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 1,7% no mercado de lotes (negociações entre empresas). Os preços do farelo de soja têm queda de 2,0% nos últimos sete dias. O óleo de soja (posto em São Paulo com 12% de ICMS) apresenta leve avanço de 0,1% no mesmo período, subindo para R$ 7.808,02 por tonelada. Diante da desvalorização da matéria-prima, quando analisados os valores do complexo soja na região de São Paulo, o “crush margin” das indústrias avançou 15,1% nos últimos sete dias, indo para R$ 482,17 por tonelada. Entretanto, quando avaliado o preço FOB no Porto de Paranaguá (PR), para o contrato Setembro/2022, as margens das indústrias mostram recuo, de -US$ 3,50 por tonelada para -US$ 9,78 por tonelada. Para 2023, o “crush margin” registra recuo de 4,7% quando considerado o contrato de embarque em março, 8,5% nos contratos de abril e maio e 4,8% nos de junho e julho. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.