ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

08/Jul/2022

Fatores financeiros influenciando no preço da soja

Movimento de manada é quando alguns grandes, ao decidirem seguir um caminho diferente da maioria, direcionam outros a seguir na mesma trilha. Em algumas vezes o início do movimento inspira, em outras assusta. No contexto prático, a expressão serve para ilustrar situações que ocorrem em nosso cotidiano, seja na vida pessoal ou corporativa, nas tendências de moda, em hábitos de consumo e servem para exemplificar alguns movimentos bruscos de oscilação no mercado financeiro. Como sabemos commodities agrícolas, como soja, milho e trigo, têm preços parametrizados em bolsa e bolsa é um ambiente majoritariamente frequentado por investidores. Por meio da bolsa, CBOT, NYSE ou B3, produtores rurais, canais de distribuição, indústrias e tradings negociam posições conhecidas no mercado como operações de hedge. Eles são players naturais destes ativos, mas não são únicos.

Existem os especuladores, figuras que assumem o risco da variação que aqueles não querem e que dão de fato liquidez ao mercado em bolsa. A cada novo dia, ou melhor, a cada novo pregão, estes investidores globais, em movimentos sincronizados, circulam e operam em diversos mercados. Compram, vendem, fazem lucros, realizam prejuízos e isso tudo sem dó, nem piedade. Grandes investimentos migram de ativos de maior risco para papeis e ativos mais seguros, caçam spreads milimétricos, arbitram mercados e tudo isso é feito de uma forma muito profissional e tecnológica por estes especuladores. Fundos de investimentos não têm alma e nem sensibilidade e alguns ainda seguem tentando consertar uma carteira corrompida em decorrência da pandemia de Covid-19. Entrando na seara da soja, é fácil visualizar por meio de relatórios que estes investidores estão carteira comprada, mas mesmo diante de fundamentos altistas ou de possibilidades de adversidades climáticas, estes fundos constroem micro bolhas para aproveitar oportunidades. É o que se costuma chamar de tomada de lucro.

Fundos liquidam parcial ou totalmente suas posições para melhorar médias, ou para simplesmente colocar dinheiro em carteira e, geralmente, no fim de exercício, como trimestre e semestre. Os preços da soja vêm cedendo bruscamente. O contrato de vencimento mais curto, que registrou máximas de US$ 17,84 por bushel, mergulhou para US$ 15,75 por bushel no pregão pós 4 de julho. Vale aqui o destaque que os trabalhos em bolsa pós feriado sinalizam ao mercado qual o viés de curto prazo do mesmo. Além de ser um marco divisor para a equação plantio versus produtividade é uma data tradicional para os produtores fazerem a leitura das condições de lavoura e se posicionarem comercialmente. No geral, é uma janela em que o milho apresenta bom porte e a soja já iniciou a fase de formação de vagem em estados de plantio mais precoce.

Hoje, passado o 4 de julho e todo o pânico de um pregão de forte baixa, superior a US$ 0,70 por bushel, é preciso fazer algumas considerações: no momento atual 16% das lavouras de soja estão em fase de floração e 3% em formação de vagem, portanto, temos ainda uma janela bastante extensa para definição da safra da oleaginosa. Há que se considerar que pairam no mercado financeiro mundial preocupações sobre o ritmo de inflação e perda do poder de compra em muitos países, bolhas de recessão pipocando mundo afora e mais medidas econômicas protetivas para 'curar' o mercado, portanto, muito natural que o fluxo de moedas e investimentos migre na mesma intensidade destas especulações e com isso todos os mercados sentem, inclusive os agrícolas. O retrato atual mostra que os mesmos fundos que realizam lucro com a soja, vendendo posições com médias bem compradas, são os mesmos que sabem sobre a vulnerabilidade dos estoques mundiais e que têm consciência do peso da responsabilidade de os Estados Unidos produzirem uma safra cheia para equalizar o quadro de oferta.

Estes fundos são altamente profissionais, organizadíssimos, com mesas de inteligências atuando de forma estratégica e acompanhando simultaneamente o cenário macro e aspectos e fundamentos típicos dos agrícolas. Com o início de janela sazonal conhecida como mercado climático, estes mesmos fundos que ganham dinheiro com especulações, acompanharão atentamente o que acontece no Hemisfério Norte meio nos países produtores de alimentos. Canadá, China, Europa e a região do Meio Oeste dos Estados Unidos durante os meses de julho e, em especial agosto, quando a safra da oleaginosa se define. Em paralelo, os investidores estão acompanhando o ritmo de compras de insumos no Brasil, Argentina e Paraguai para o plantio 2022 e já assimilaram que mesmo com a possibilidade de menor tecnologia, haverá aumento da área de plantio na América do Sul.

Portanto, a chave para entender se este movimento brusco e recente de queda é efeito de manada gerada por aspectos do macro ou se é de fato uma inversão da tendência altista é ninguém mais ninguém menos que o clima, fundamento típico do mercado agrícola e que na maioria das vezes junto com a demanda, intensifica ou reprograma uma tendência estabelecida. Cada dia, de agora até agosto, casar informações sobre clima, previsões de curto e médio prazo com demanda chinesa será essencial. Caso a safra norte americana não registre nos próximos 60 dias qualquer adversidade climática e no caso de os principais índices econômicos continuarem reportando aumento de desemprego, de inflação e desaceleração da economia asiática é provável que os fundos se sintam confortáveis apostando num cenário de safra sul-americana cheia, mas para isso também é preciso monitorar as condições climáticas de agora até início de setembro. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.