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25/Abr/2022

Perspectivas para mercado global de soja em 2022

No mercado de soja, o primeiro trimestre de 2022 foi marcado pelos impactos do clima seco na safra da América do Sul, pelo início da invasão da Ucrânia pela Rússia, por preocupações pelo lado da demanda, no caso da China, e pelo planejamento para a safra 2022/2023 nos Estados Unidos. Com as perdas acentuadas, principalmente no Brasil, as estimativas indicam que o consumo mundial da oleaginosa vai ficar acima da produção no ciclo 2021/2022, mesmo com as perspectivas de uma demanda chinesa menor, reforçadas pelas medidas muito restritivas adotadas no país para conter os surtos de coronavírus. Em sua estimativa mais recente, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu o número de importação do país para 91 milhões de toneladas, menor nível desde o auge da guerra comercial e do surto de peste suína africana (PSA) de 2018/2019, que fez encolher o plantel de suínos do país.

A guerra na Ucrânia, por sua vez, adiciona preocupações pelo lado da oferta de maneira indireta, reforçando um balanço global pouco folgado para os óleos vegetais. O país é o principal produtor e exportador de óleo de girassol, sendo origem de cerca de um terço da produção mundial do insumo antes do conflito. Assim, os preços da soja na Bolsa de Chicago têm se mantido em patamares mais sustentados, apesar da elevada volatilidade que vem sendo registrada, com amplas oscilações de um dia para o outro, tanto no lado da alta quanto da baixa. Diante desse cenário, a safra 2022/2023 dos Estados Unidos está no centro das atenções, lembrando que a produção de soja é muito concentrada em Brasil, Argentina e Estados Unidos. Com os preços mais elevados e a quebra na América do Sul, já havia perspectivas de uma elevação na área plantada norte-americana para a oleaginosa. Em meio ao cenário de preços altos para os fertilizantes, e as características do cultivo do milho, mais dependente da suplementação de nutrientes, a soja acaba tendo vantagens na disputa por espaço nas lavouras do país.

Mesmo com as expectativas de avanço da área de soja nos Estados Unidos, o número de intenções de plantio, que é divulgado no final de março e é sempre muito aguardado pelo mercado, surpreendeu ao ficar acima do esperado, em 36,8 milhões de hectares, acima, inclusive, da área plantada de milho. É um fato muito raro essa demonstração dos produtores norte-americanos, que são tradicionalmente propensos a cultivar mais o cereal do que a soja, situação registrada pouquíssimas vezes nos levantamentos do USDA. Contudo, destaco que o conflito entre Ucrânia e Rússia tem o potencial de mudar não somente as perspectivas da oferta e das exportações ucranianas e russas, mas também de afetar as decisões de safra ao redor do mundo. No caso dos Estados Unidos, é preciso destacar que muito provavelmente a pesquisa de intenções de plantio foi feita, em sua maior parte, antes de o conflito começar. Com isso, não refletiu a forte alta dos preços do milho, que subiram proporcionalmente mais que os da soja.

Por outro lado, a situação de preços elevados dos fertilizantes foi ainda mais agravada, uma vez que a Rússia, um dos principais fornecedores mundiais, está sob sanções econômicas, assim como Belarus. Esse contexto continua reforçando a atratividade da soja, devido ao menor uso proporcional dos adubos. Ainda sobre os fertilizantes, há preocupações quanto à disponibilidade para a próxima safra de soja da América do Sul, que se inicia em setembro no Brasil e para a qual a comercialização está consideravelmente atrás da registrada no mesmo período do ano passado. Assim, por mais que ainda seja cedo, os preços elevados dos insumos ou mesmo a escassez de fertilizantes tendem a limitar a expansão da área brasileira de soja, que tem avançado ano a ano, uma vez que o País conta com a vantagem de ainda ter terras para avanço agrícola, sem a necessidade de se ocupar vegetações nativas. Com custos mais elevados, os produtores podem optar por investir menos na safra, situação que tem o potencial de impactar negativamente os rendimentos das lavouras.

De qualquer forma, antes de o Brasil e a Argentina começarem a semear a safra 2022/2023 e de a colheita nos Estados Unidos ter início, o lado da demanda vai ser central nos próximos meses. Apesar das perspectivas de menor importação da China, as exportações brasileiras serão limitadas pela quebra de safra deste ano, situação que tende a beneficiar os embarques norte-americanos, mesmo num período em que sazonalmente o país não exporta muito. Esse movimento já tem sido observado, com revisão para cima das estimativas do USDA de exportação dos Estados Unidos no ciclo 2021/2022, situação que fortalece as perspectivas de um balanço mundial mais restrito de soja, com a produção da safra nova norte-americana se tornando ainda mais importante para o equilíbrio entre oferta e demanda. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.