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28/Mar/2022

Tendência de recuo da soja com a queda do dólar

No curto prazo, a tendência é de recuo dos preços da soja em grãos no mercado brasileiro, com o dólar acumulando fortes baixas ao longo deste mês de março. O dólar fechou a sexta-feira (25/03) cotado a R$ 4,7473, acumulando baixa semanal de 5,3% e de 13,1% em 2022. As razões para o dólar continuar a recuar ainda são as mesmas: diferencial de juros favorecendo a entrada da divisa por aqui, um dólar super apreciado associado a uma bolsa barata. Todas essas razões fazem do Real a moeda de melhor desempenho no ano frente ao dólar, dentre uma cesta de 33 moedas. Cenário diametralmente oposto ao observado em 2020 e 2021, quando a moeda brasileira estava entre as de pior desempenho no mundo. Nos médio e longo prazos, a tendência é altista para os preços nos mercados externo e interno, refletindo as quebras de safras na América do Sul, alta do petróleo – que impulsiona a demanda de óleo de soja para biodiesel nos EUA – e os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Entretanto, as expressivas quebras na América do Sul, os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia e a forte alta da cotação do petróleo já estão precificados nas cotações futuras da Bolsa de Chicago.

Em Chicago, há um largo spread entre os vencimentos mais curtos e os mais longos, com os futuros com vencimentos em 2022 oscilando entre US$ 14,90 a US$ 17,00 por bushel, enquanto os contratos para 2023 operam entre US$ 13,40 a US$ 14,80 por bushel. A partir do 2º semestre de 2022, a tendência é de descolamento das cotações internas da paridade de exportação, com viés altista para os preços domésticos, em função da disputa acirrada entre exportadores e esmagadores pela oferta de grão – reduzida em 22 milhões de toneladas em 2022. A partir de agora, o mercado passará a focar no clima nos EUA e no suprimento de fertilizantes na América do Sul. A desvalorização do dólar frente ao Real, a proximidade da finalização da colheita de soja em importantes áreas do Brasil, o início da colheita na Argentina e as expectativas de aumento de área da oleaginosa nos Estados Unidos estão pressionando os prêmios de exportação e os valores do complexo soja no Brasil. No mercado internacional, observa-se forte oscilação, mas, no balanço, as cotações estão sustentadas.

A forte baixa do dólar deixa as commodities norte-americanas mais atrativas aos importadores. Por conta disso, a liquidez nos portos brasileiros está menor em comparação à semana anterior. Nos últimos sete dias, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no Porto de Paranaguá, apresenta recuo significativo de 3,3%, cotado a R$ 193,27 por saca de 60 Kg. No Porto de Santos (SP), a queda é de 3,7%, a no mesmo comparativo, a R$ 193,08 por saca de 60 Kg. No Porto de Rio Grande (RS), os preços apresentam expressiva baixa de 5,1%, a R$ 197,40 por saca de 60 Kg, e no de São Francisco (SC), 3,1%, a R$ 199,36 por saca de 60 Kg. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ registra forte queda de 3,7% nos últimos sete dias, a R$ 189,54 por saca de 60 Kg. Nos últimos sete dias, as cotações apresentam recuo de 3,1% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e de 3,0% no mercado de lotes (negociações entre empresas).

Diante do aumento no frete rodoviário, as negociações no mercado regional estão mais atrativas em detrimento da comercialização no porto. Entretanto, representantes de indústrias esmagadoras estão cautelosos nas aquisições da matéria-prima, na expectativa de comprar maiores quantidades a preços menores no próximo mês. Isso porque, embora a Região Sul do Brasil registre queda de 41,6% na produção de soja em relação à safra passada, as demais regiões do País devem colher mais. Até o dia 19 de março, 71% da área cultivada com soja no Brasil havia sido colhida acima dos 60% em igual período da temporada passada. Dentre os Estados, 98% da área de Mato Grosso havia sido colhida; 94% de Mato Grosso do Sul; 92% de Goiás; 76% de Tocantins; 80% de São Paulo e de Minas Gerais; 68% do Paraná; 55% do Maranhão; 52% de Santa Catarina; 50% da Bahia; 36% do Piauí e 9% do Rio Grande do Sul. Uma parte dos produtores também está resistente em negociar, preferindo armazenar o volume colhido em detrimento de vender no spot. Com isso, representantes de cooperativas e cerealistas sinalizam falta de espaço para armazenar o grão, o que pode, por sua vez, fazer com que produtores fixem novos volumes no curto prazo.

Os preços do farelo de soja também estão recuando. Além de ser influenciado pela queda do grão, grande parte dos consumidores se abasteceu de curto a médio prazo, e não sinalizam necessidade de negociar grandes volumes no mercado spot. Os valores do farelo de soja registram queda de 3,2% nos últimos sete dias. Quanto ao óleo de soja, a liquidez no mercado está baixa. A disparidade entre os valores indicados por compradores e vendedores é alta, uma vez que parte das indústrias ainda não repassou a queda do grão para o derivado, com pedidas acima da paridade de exportação. Os consumidores sinalizam que, em alguns casos, não há diferença de valores entre as ofertas de óleo bruto degomado e as de óleo refinado, inviabilizando as compras. O óleo de soja (posto em São Paulo com 12% de ICMS) apresenta forte desvalorização de 5,2% nos últimos sete dias, com preço médio de R$ 9.187,60 por tonelada.

A paridade de exportação de óleo de soja, com base no Porto de Paranaguá (PR), com embarque em abril/2022, é de R$ 8.302,39 por tonelada. Para este cálculo, foi utilizado o dólar futuro negociado na B3. Nos Estados Unidos, os contratos futuros de soja estão em alta, influenciados pela desvalorização do dólar e por expectativas de maior demanda externa, tendo em vista a política de tarifas de exportação de farelo e óleo de soja na Argentina, principal exportadora global destes coprodutos. O governo argentino oficializou o aumento das tarifas de exportação de farelo e óleo de soja, de 31% para 33%. Vale ressaltar que, devido ao clima desfavorável ao cultivo de soja nesta temporada, a Argentina deve colher 42,0 milhões de toneladas do grão, abaixo das 43,1 milhões de toneladas produzidas na temporada anterior, conforme a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. Esse cenário já gerava expectativa de menor oferta de farelo e óleo de soja naquele país. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.