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10/Mar/2022

Óleo de Soja: produção seguirá crescendo no Brasil

A FAO, Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, publica mensalmente um relatório com índices de preços de alimentos (FAO Price Index). Chama a atenção, no relatório de março, a alta de preços de cereais, produtos lácteos e oleaginosas nos dois primeiros meses de 2022. O índice de carnes também subiu, mas o movimento ocorreu no segundo semestre de 2021. O ponto que vou discutir neste artigo são as oleaginosas. Os óleos vegetais utilizados no dia a dia, para cozimento dos alimentos e nos combustíveis, são produzidos a partir de um conjunto de sementes ou plantas oleaginosas. No Brasil predomina a soja, da qual é extraída, quando processada, a grande maioria do óleo vegetal consumido pelos brasileiros (nas duas formas, para alimentação e para biodiesel). Na Indonésia e na Malásia, prevalece o óleo vegetal extraído da palma. Na Rússia e na Ucrânia, é o óleo feito a partir da semente de girassol que se destaca. Países da Europa Central e do Canadá já fazem muito óleo vegetal de canola ou colza.

Os Estados Unidos e a Argentina têm um perfil mais parecido com o Brasil, prevalecendo o óleo de soja. Mesmo com essa predominância, nosso País tem importantes indústrias de extração de óleo de caroço de algodão, de milho e de palma. Tomando como base o índice de preços de oleaginosas da FAO, observa-se que ele subiu no fim de 2020, ficou alguns meses estagnado e voltou a crescer no fim de 2021, atingindo patamar muito elevado em 2022, comparando com a própria série histórica do índice. Optei por ancorar meu argumento no índice de oleaginosas, e não na evolução dos preços individuais dos óleos vegetais, porque o fenômeno, da subida de preços, está ocorrendo com todas as oleaginosas. E, dado que os óleos vegetais são intercambiáveis, sobretudo no mercado de alimentação, é natural que os diferentes tipos oscilem de forma integrada. A subida de preços de commodities de base alimentar, sobretudo quando o debate vai para o nível global, sempre resulta em uma visão negativa, de que a segurança alimentar das pessoas está em risco.

O raciocínio é o de que o aumento dos preços sinaliza redução de oferta, trazendo riscos para populações com menor renda e de regiões importadoras. A grande preocupação, que sempre vem associada à alta de preços de commodities de base alimentar, é com relação às restrições no abastecimento. No entanto, trazendo para a realidade brasileira, o cenário é outro. Evidentemente, sendo o Brasil um grande exportador de commodities agrícolas, nossos preços estão integrados com os preços internacionais. Assim, se os preços das oleaginosas estão subindo em dólar, conforme demonstra o relatório da FAO, os preços em reais dos óleos vegetais produzidos por aqui tendem a subir também. Claro que uma valorização do Real frente ao dólar pode compensar tal efeito, mas é preciso avaliar se, havendo menor oferta global, prêmios são pagos pelo produto brasileiro. Mas, uma eventual elevação de preços no mercado nacional, no caso dos óleos vegetais, não sinaliza riscos de abastecimento para o consumidor local.

Isso decorre do fato de o Brasil ter uma indústria forte e estruturada de processamento de soja, que garante abastecimento de óleo para o mercado alimentício brasileiro, para o mercado de biodiesel e para as exportações. Em 2021, o Brasil processou 47 milhões de toneladas de soja, maior volume da história, destinando 8,2 milhões de toneladas de óleo vegetal para o mercado interno (consumidos nos setores de alimentos e biodiesel) e 1,65 milhão de toneladas para exportação. Ou seja, embora os preços dos óleos vegetais tenham subido, a indústria brasileira de processamento de soja respondeu com vigor a tal aumento, colocando no mercado volumes recordes de produção de óleo de soja. Importante reforçar que, apesar do recorde no processamento de soja em 2021, 62% da produção foi exportada. Ou seja, os 47 milhões de toneladas de processamento consumiram 34% da soja produzida por aqui. Considerando a capacidade instalada de processamento hoje existente (de, pelo menos, 55 milhões de toneladas), a indústria de processamento vai aumentar a produção de óleo se o mercado brasileiro e internacional demandarem mais óleo brasileiro. É o cenário que enxergamos para 2022.

O crescimento da produção de óleo de soja deve continuar em 2022. As estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) apontam para um crescimento de 2,1% na produção de óleo de soja, o que é mais uma prova de que nossa indústria garante o abastecimento do mercado do País. A subida de preços em fevereiro, segundo o relatório da FAO, já reflete incertezas de oferta decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia, dado que ambos os países são exportadores de cereais. É provável que a invasão traga, também, reflexos nos preços das oleaginosas, por causa da relevância da Ucrânia no mercado internacional de óleo de girassol. Há um conjunto de países importadores no mundo preocupado com o abastecimento de óleos vegetais, sobretudo diante das incertezas geradas pelo conflito e em razão das restrições às exportações impostas por alguns produtores de óleo de palma. Países como Índia e China são grandes consumidores de óleos vegetais e garantem parte do seu abastecimento via importações.

Tais países podem contar com o Brasil como parceiro confiável na garantia de abastecimento. A preocupação com abastecimento não se aplica ao Brasil em razão do nosso perfil exportador de soja e de derivados, do fato de termos uma indústria de processamento forte e com capacidade de expansão e da enorme disponibilidade do grão, matéria-prima para a produção de óleo vegetal. O consumidor brasileiro conta com uma indústria de processamento de oleaginosas capaz de garantir todo o abastecimento necessário para os mercados de consumo humano e biodiesel. Há ainda mais uma característica única da soja, que atua em favor da produção de óleo frente às demais oleaginosas. A soja é composta, em volume, por 20% óleo e 80% farelo proteico. O farelo de soja é a principal fonte de proteína utilizada nas rações para produção de aves, suínos, gado leiteiro, gado de corte, peixes e outras fontes de proteína animal. Ou seja, o processamento de soja, e sua consequente produção de óleo vegetal, é também puxado pela demanda de farelo.

A industrialização da soja é fomentada por dois mercados complementares: óleo e farelo. No passado, quando o valor dos óleos vegetais era muito baixo, o principal estímulo para o processamento da soja vinha do mercado de farelo o que, necessariamente, resultava em produção de óleo vegetal. Atualmente, com o mercado de óleo vegetal motivando o processamento de soja, a proteína animal é muito beneficiada com maior abastecimento de farelo de soja. É uma situação de ganha-ganha, na qual o consumidor ganha duas vezes: com abastecimento garantido de óleo de soja e com disponibilidade de farelo para produção de proteínas animais. Os preços internacionais indicam que os óleos vegetais estão sendo cada vez mais valorizados. A indústria de processamento de soja vai responder produzindo mais para atender à crescente demanda por óleo seja para consumo humano ou substituição de combustível fóssil. Fonte: André Nassar (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais - Abiove). Broadcast Agro.