ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

18/Fev/2022

EUA: dúvidas na migração de área de soja e milho

A safra de grãos da América do Sul continua no centro das atenções, com novos cortes em estimativas tendo sido divulgados nas últimas semanas. Gostaria de destacar principalmente as perdas da safra de soja no Brasil, com o último número de 125,2 milhões de toneladas, 20 milhões de toneladas abaixo do recorde estimado anteriormente para o ciclo 2021/2022. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) veio em linha com os números privados, estimando a produção brasileira em 125,5 milhões de toneladas, o que foi até recebido com alguma surpresa, já que em janeiro a Conab adotou uma postura mais conservadora. De qualquer forma, essas perdas acentuadas no Brasil, juntamente com expectativas de safras menores também na Argentina e no Paraguai, já indicam que o volume colhido de soja da América do Sul terá uma redução ao redor de 30 milhões de toneladas em seu potencial produtivo, constatação importante para uma cultura cuja produção é extremamente concentrada nos países citados e nos Estados Unidos.

Com isso, o mercado já começa a se atentar para a próxima safra dos Estados Unidos, num cenário que também não é folgado para o balanço mundial de milho. Há perdas estimadas para o cereal sul-americano, mas, como a safrinha brasileira ainda tem potencial de ser recorde, a situação da soja é considerada mais crítica. Nos Estados Unidos, praticamente não existe a possibilidade de se ampliar a área de uma commodity agrícola sem reduzir a de outra. Então, todo ano há discussões e especulações sobre se haverá migração de área entre a soja e o milho no país. Para a decisão de plantio, um dos indicadores sempre acompanhado é o ratio entre os preços da soja e do milho na Bolsa de Chicago, que sinalizaria para o produtor qual a cultura com maior rentabilidade, podendo apontar qual cultivo tende a aumentar ou diminuir. O indicador representa a relação entre as cotações das duas commodities, sendo sempre acompanhado entre os meses de dezembro e março, período de tomada da decisão de plantio. Historicamente, observa-se a comparação entre o contrato de novembro da soja e o de dezembro do milho, que representam o preço da entrada da safra norte-americana no mercado, após a colheita.

Um ratio mais elevado (acima de 2,35/2,4) indicaria um retorno mais vantajoso da soja em comparação ao milho. Já uma relação mais baixa seria favorável a uma ampliação da área do cereal. É importante destacar que esse nível de referência de ratio pode variar ao longo dos anos, em decorrência dos custos de produção, da produtividade, etc. Durante a maior parte de 2021, os ratios ficaram em patamares mais elevados, com os preços da soja ganhando sustentação nas perspectivas de estoques limitados nos Estados Unidos. Contudo, esse cenário se alterou a partir de setembro passado, com os Estados Unidos colhendo uma excelente safra e com as exportações de soja mais baixas do país. Além disso, como já comentado, a situação do balanço de milho também não é tranquila, oferecendo suporte aos preços do cereal. E atualmente? Como está essa relação? Temos observado grande volatilidade dos preços futuros dos grãos em Chicago nas últimas semanas, mas a tendência de ganhos importantes, principalmente para a soja, tem se mantido.

Os ratios, apesar de oscilarem todos os dias, apresentam tendência de alta, com os patamares superando 2,4 e chegando a 2,45 nessa primeira quinzena de fevereiro, situação diretamente relacionada às quebras na América do Sul. Esse nível ofereceria alguma vantagem para a soja. Mas, será que o produtor norte-americano vai plantar mais soja e menos milho a partir de abril? Considero sempre importante lembrar que o produtor dos Estados Unidos gosta de cultivar milho, ocorrendo surpresas na área plantada mesmo quando aparentemente o cereal não apresenta grandes vantagens de retorno. Ademais, para o ciclo 2021/2022, além do fator rentabilidade, traduzido através dos ratios, outro ponto que pode influenciar a decisão do agricultor são os custos de produção, especialmente dos fertilizantes. O milho utiliza mais adubos (com maior peso sobre os custos) em comparação à soja e o momento atual é de relações de troca entre os grãos e os fertilizantes pouco favoráveis aos produtores. É bom lembrar que o milho demanda fertilizantes nitrogenados, enquanto a soja fixa o nitrogênio naturalmente no solo.

O indicador de preço da ureia na região do Golfo dos Estados Unidos custa mais que o dobro do registrado um ano antes, apesar das quedas recentes, o que mantém a relação de troca frente ao milho em patamares muito elevados para o produtor. Assim, apesar de os custos com fertilizantes também pesarem sobre a soja, já que os preços dos outros nutrientes também avançaram, a oleaginosa usa menos adubo, o que seria mais uma "vantagem". Diante desse cenário, a definição das áreas de cada cultura nos Estados Unidos vai ser cada vez mais relevante nas próximas semanas e meses, destacando que, agora, no final de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) realiza seu Fórum Agrícola anual, em que são divulgados números para a nova safra norte-americana. Mesmo assim, o número final de área plantada só será conhecido no final de junho, situação que deve provocar oscilação de preços, num cenário em que existe a possibilidade de se precisar racionar a oferta de soja, diante das perdas na América do Sul. Fonte: Broadcast Agro.