22/Out/2021
Desde meados de 2021, a tendência de queda tem predominado para as cotações da soja na Bolsa de Chicago, com o mercado acompanhando de perto o andamento da safra norte-americana, após um período de estimativas de um balanço de oferta e demanda bastante apertado no país. A safra 2021/2022 dos Estados Unidos começou com perspectivas de uma área menor do que se esperava e com preocupações com o clima seco no noroeste do cinturão. Contudo, ao longo do ciclo, mesmo que a área realmente não tenha aumentado o quanto se esperava, tendo sido, inclusive, revisada para baixo, a produtividade tem surpreendido positivamente. As estimativas de instituições privadas já vinham trazendo resultados excelentes para a safra norte-americana de soja, o que reforçava as perspectivas de um ajuste no mesmo sentido dos números oficiais.
Em sua revisão do começo de outubro, a StoneX indicou uma produtividade média para o país em 3,45 toneladas por hectare (tendo os estados do centro do cinturão compensado a queda na Dakota do Norte), com um recorde de produção em 120,7 milhões de toneladas. Essa tendência de uma safra maior do que se esperava anteriormente foi corroborada pelo último relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), com uma produtividade média estimada em 3,46 toneladas por hectare e a produção em 121 milhões de toneladas, 2 milhões a mais que o divulgado em setembro. Essa disponibilidade maior foi ainda reforçada pelos estoques mais elevados da safra 2020/2021, em 6,97 milhões de toneladas, após a revisão da produção norte-americana do ano passado para 114,8 milhões de toneladas, situação que foi uma grande surpresa para o mercado.
Essas revisões pelo lado da oferta nos Estados Unidos ajudaram a reforçar o cenário de produção acima do consumo mundial para o ciclo 2021/2022, com a safra da América do Sul cada vez mais no centro das atenções, à medida que o plantio avança no Brasil. Contudo, ressalto o papel central também da demanda nos próximos meses. Apesar de as perspectivas, no geral, serem de uma demanda aquecida, com o avanço da vacinação da Covid-19 em vários países e as medidas adotadas pelos governos ao redor do mundo para incentivar a economia, o comportamento da China inspira atenção. O ritmo das vendas de exportação de soja dos Estados Unidos para a safra 2021/2022 está consideravelmente mais lento que no mesmo período do ano passado, com uma diferença que supera 15 milhões de toneladas. O USDA estima que as exportações do ciclo 2021/2022 serão um pouco mais fracas, mas com uma diferença consideravelmente menor, de 4,78 milhões de toneladas.
A China é a principal responsável por esse ritmo mais fraco de vendas da soja norte-americana e o que acontece internamente no país asiático é acompanhado de perto. Após os graves surtos de peste suína africana (PSA), que dizimaram parte considerável do rebanho chinês, houve massivos investimentos na recuperação, inclusive com uma maior profissionalização das indústrias de carnes. Contudo, com o rebanho praticamente recuperado, os preços da carne suína estão baixos, o que alimenta as preocupações quanto ao consumo de ração. Além disso, a China enfrenta uma crise energética, com o fechamento de plantas de esmagamento de soja em algumas regiões do país. Mesmo assim, por enquanto, as estimativas das importações chinesas indicam mais de 100 milhões de toneladas em 2021/2022, volume que também depende das compras de soja dos Estados Unidos, uma vez que a oferta da oleaginosa é muito concentrada.
Diante desse cenário e apesar de o ano safra só terminar em agosto de 2022, as vendas e embarques norte-americanos precisam ganhar força nas próximas semanas, uma vez que a melhor janela de exportação dos Estados Unidos é o quarto trimestre do ano. Nos primeiros meses de 2022, a soja brasileira já deve retomar o protagonismo nas exportações, ainda mais com a grande possibilidade de uma nova safra recorde. Dessa forma, ainda é possível uma recuperação das vendas dos Estados Unidos, mas esse movimento precisa ocorrer logo, destacando que, nessa mesma época de 2020, as vendas semanais de exportação do país superavam 2 milhões de toneladas, enquanto atualmente os volumes estão ao redor de 1 milhão. Fonte: Agência Estado.