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02/Ago/2021

Desmatamento resulta em perdas no setor da soja

Embora a produtividade da soja brasileira tenha crescido nas últimas décadas, o ganho econômico dessa cultura seria maior sem os efeitos do desmatamento. Estudo publicado na revista científica World Development no começo de julho estimou que a perda de vegetação nativa da Amazônia e do Cerrado tenha reduzido a receita do setor em pelo menos US$ 1,3 bilhão em 2012, considerando o desmatamento ocorrido entre 1985 e 2012, devido às mudanças de temperatura nas regiões produtoras. Em 2050, o custo climático pode chegar a US$ 3,5 bilhões, se comparado a um cenário de preservação desses biomas. Segundo a Universidade de Tufts (EUA), o valor é baseado em custos de oportunidade. Isso porque as mudanças climáticas configuram risco para o cultivo, dado que a soja é sensível a temperaturas extremas, e podem reduzir o ritmo de crescimento da produtividade.

Tendo em vista o aumento de exposição a condições danosas, pode-se considerar que o desmatamento representa um potencial perdido para o setor. Segundo o estudo, a mudança de cobertura do solo exerce influência relativamente grande no clima, sobretudo nas áreas próximas à região desmatada. Um dos serviços prestados pelos ecossistemas tropicais é ajudar a regular o termômetro, tanto no interior das florestas quanto em seu entorno. Sem esse recurso, as temperaturas máximas tendem a ultrapassar o limite de condições adequadas para a produção. Os pesquisadores compararam as temperaturas de regiões situadas mais ou menos próximas de vegetação nativa, em um raio de até 50 quilômetros. A diferença observada entre situações de desmatamento ou preservação foi de 2ºC. Os resultados foram obtidos a partir de dados meteorológicos e de satélite de 1985 em diante, e já incluem melhorias de tecnologia e cultivares mais resistentes ao calor.

A conclusão é que o impacto econômico até 2012 foi negativo, mas em menor escala que o projetado para daqui a 30 anos. Isso significa que, embora existam fatores puxando a produção para cima, há um crescente desperdício financeiro que poderia ser evitado. Não se trata de parar de crescer, mas o fato de estar crescendo não quer dizer que não haja nada afetando negativamente. Dados divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelam que a floresta perdeu uma área de 926 quilômetros quadrados em junho deste ano. No acumulado dos últimos 11 meses, foram 8.381 quilômetros quadrados, superando em 51% o período entre agosto de 2019 e junho de 2020. O Cerrado atingiu recorde histórico de queimadas em junho, com média de 139 focos por dia (4.181 no mês). No acumulado do ano, 9.568 focos de incêndio foram registrados no bioma. Os resultados do estudo acendem o alerta para o agronegócio como um todo, dado que a soja é o carro-chefe da produção brasileira.

Além disso, nenhuma planta se beneficia do calor extremo, e, com as mudanças climáticas e o aumento da demanda populacional por alimento nas próximas décadas, qualquer variação negativa pode ser prejudicial. A Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) vê com preocupação o avanço do desmatamento ilegal no País. É preciso incentivar cada vez mais que a expansão da agricultura seja feita em áreas já abertas. É muito mais interessante do ponto de vista econômico expandir numa área já aberta, onde vai ter uma produtividade muito mais rápida e com maiores ganhos, e a natureza agradece. Na última semana, o relatório anual da Moratória da Soja na Amazônia, divulgado pela Abiove, mostrou que a safra 2019/2020 registrou aumento de 22% nas áreas de cultivo em desacordo com as disposições legais estabelecidas pela Moratória, em relação à temporada anterior. Foram 107.674 hectares em desconformidade com o documento, ou seja, desmatados para a produção de soja.

A Moratória da Soja é um pacto comercial, realizado em julho de 2006, pela Abiove e pela Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec) com o governo e sociedade civil, no qual as empresas ligadas às duas associações se comprometeram a não comercializar nem financiar soja produzida em áreas desmatadas da Amazônia após 22 de julho de 2008, data de referência do Código Florestal. A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) afirma que a cultura de soja não é vetor de desmatamento em nenhum bioma, pois cresce em áreas de pastagens já desmatadas que eram utilizadas para a pecuária. Produzir mais e melhor não é uma escolha, mas uma necessidade que traz benefícios ambientais e socioeconômicos para o Brasil e seus clientes mundo afora. Em relação às ações da Aprosoja para garantir os ganhos de produtividade e evitar possíveis perdas estão o uso de tecnologias que contribuem para o sequestro de carbono.

Segundo a entidade, as práticas adotadas no Brasil, como o sistema produtivo Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), a agricultura de precisão e o plantio direto, foram apontadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como soluções para combater as mudanças climáticas. O ideal é que o desenvolvimento tecnológico seja associado ao cumprimento das leis ambientais em vigor no País. A Moratória deveria ser expandida para o Cerrado, bioma que concentra a maior parte do desenvolvimento agrícola brasileiro. Para os pesquisadores, um dos principais méritos do estudo é conscientizar os produtores quanto ao fato de não haver ganho com o desmatamento. Foi demonstrado que há perda. Então, qualquer esforço para diminuir a fiscalização ambiental é fazer lobby contra si mesmo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.