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03/Mai/2021

Tendência de preços sustentados da soja no Brasil

No curto prazo, a tendência é de uma pressão baixista sobre os preços da soja no mercado interno, principalmente em função da recente queda do dólar e, também, dos prêmios negativos nos portos do país. As baixas, no entanto, deverão ser limitadas pelas cotações futuras sustentadas em patamares elevados e pelo forte avanço da comercialização da atual safra que já ultrapassa os 70% do volume a ser colhido em 2021. A desvalorização do dólar frente ao Real e a queda dos prêmios de exportação estão pressionando os valores domésticos da soja. Há reveses ao câmbio vindos do lado fiscal e esse elemento limitou a queda do dólar abaixo de R$ 5,30 nos últimos meses. Mas o cenário aponta para um dólar se aproximando de R$ 5 com a perspectiva de um ambiente fiscal menos turbulento, resolvido o impasse do Orçamento, e com a visão de que a pandemia já atingiu o pico no país. Um sólido superávit comercial, com o boom das commodities, e o ciclo de alta da Selic também ajudam a moeda brasileira, enquanto as dificuldades de vacinação e as condições financeiras globais são riscos.

O dólar saiu do patamar de R$ 5,80 em março e se aproximou dos R$ 5,30, fechando a última semana cotado a R$ 5,43. Portanto, ao longo da temporada 2021/2022 haverá um risco de dólar se aproximar do patamar de R$ 5 ou até abaixo dele, o que pode provocar descasamento entre o câmbio vigente no período de compras já realizadas de insumos – entre R$ 5,50 e R$ 5,60 – e o câmbio que norteará a formação dos preços das commodities no mercado interno. Além do fator cambial, há redução na demanda interna. Neste caso, muitas indústrias trabalham com a oleaginosa já contratada, enquanto outras unidades da Região Sul do País indicam importar a matéria-prima do Paraguai. Por outro lado, a demanda externa está aquecida, o que, inclusive, limita o movimento de queda no preço do Brasil. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), nos primeiros 15 dias úteis de abril, os embarques da soja em grão somaram 14,6 milhões de toneladas, praticamente a quantidade exportada em todo o mês de abril do ano passado (14,9 milhões de toneladas).

Assim, as vendas externas de soja em abril devem atingir volume recorde. Nos últimos sete dias, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no Porto de Paranaguá, apresenta recuo de 2,1%, cotado a R$ 179,72 por saca de 60 Kg. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ registra queda de 1,7% nos últimos sete dias, a R$ 172,10 por saca de 60 Kg. Apesar das recentes baixas, as médias mensais de abril ainda são recordes nominais. Em abril, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F teve média de R$ 176,96 por saca de 60 Kg, 3% acima da média de março/2021, 73% superior à de abril/2020. Em termos reais, trata-se da maior média desde novembro/2020 (valores deflacionados pelo IGP-DI). A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ teve média de R$ 170,73 por saca de 60 Kg em abril, avanço mensal de 3,8% e anual de 79,4% e a máxima nominal desta série, iniciada em julho de 1997.

Em termos reais, essa é a maior média desde janeiro/2021. Nos últimos sete dias, os valores da oleaginosa registram recuo de 1% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e de 1,3% no mercado de lotes (negociações entre empresas). De março para abril, os aumentos foram de 2,1% no mercado de balcão e de 2,7% no mercado de lotes; e, em um ano, de respectivos 86,3% e 81,5%, em termos nominais. De março para abril, a moeda norte-americana recuou 1,2%, mas ainda superou em 4,6% o valor de abril/2020. Para o óleo de soja, a cautela de indústrias nacionais em negociar grandes quantidades desse derivado, a firme demanda externa e a consequente valorização internacional elevaram os preços domésticos. O preço do óleo de soja (posto em São Paulo com 12% de ICMS) registra alta de 3,3% nos últimos sete dias. De março para abril, o avanço foi de 5,5%, a R$ 7.417,55 por tonelada, mais que o dobro do valor registrado há um ano e um recorde nominal.

Quanto ao farelo de soja, a demanda segue enfraquecida. Os valores apresentam recuo de 0,2% nos últimos sete dias e de 5,5% na comparação entre as médias de março e abril. Frente a abril/2020, a média de abril/2021 foi 50,4% maior. Uma parte dos produtores domésticos prefere negociar uma parcela da safra 2021/2022 em detrimento da 2020/2021. Isso porque a maior parte da atual produção (2020/2021) já foi comercializada, e, agora, os vendedores têm armazenado o remanescente para negociar nos próximos meses, atentos aos maiores prêmios de exportação. Com base no Porto de Paranaguá (PR), enquanto os prêmios para embarques em maio/2021 e em junho/21 estão em -US$ 0,05 por bushel por parte dos compradores. Esses mesmos agentes indicam +US$ 0,60 por bushel para embarque em agosto e +US$ 0,86 por bushel para setembro. Para 2022, os compradores indicam +US$ 0,40 por bushel para fevereiro e +US$ 0,15 por bushel de março até maio.

Nesta linha, a paridade de exportação de soja está em R$ 176,82 por saca de 60 Kg para o contrato junho; R$ 179,03 por saca de 60 Kg para julho; R$ 182,00 por saca de 60 Kg para agosto; e R$ 182,89 por saca de 60 Kg para setembro. Para fevereiro de 2022, a paridade de exportação indica preços a R$ 164,22 por saca de 60 Kg. Para este cálculo foi utilizado o dólar futuro negociado na B3. Nos Estados Unidos, os contratos futuros de soja negociados na Bolsa de Chicago subiram por 10 pregões consecutivos (de 13 a 26 de abril). Após esse período, os valores oscilaram, tendo em vista que agentes realizaram lucros. O movimento de alta esteve atrelado à onda de frio intenso que atinge o Meio Oeste dos Estados Unidos. Ainda assim, dados do dia 26 de abril do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que a semeadura da soja atingiu 8% do total da área, acima dos 7% no mesmo período do ano passado e dos 5% na média de cinco anos.

Além disso, a redução dos estoques da soja e as perspectivas de crescimento na demanda norte-americana, especialmente para processamento, visando atender à demanda por óleo, seguem dando suporte aos preços externos. Na Bolsa de Chicago, o contrato de primeiro vencimento da soja registra valorização de 0,6% nos últimos sete dias. A média de abril, de US$ 14,60 por bushel ficou 3,2% acima da média de março e 73,1% superior à de abril/2020. Para o óleo de soja, o contrato de primeiro vencimento apresenta valorização de expressivos 5,6% nos últimos sete dias. A média de abril, de US$ 1.272,59 a tonelada, ficou 6,7% acima da média de março e representa mais que o dobro da verificada em abril do ano passado. Quanto ao farelo de soja, o avanço é de apenas 0,1% nos últimos sete dias. Na comparação mensal, o aumento é de 0,5%, e na anual, de 40,6%, com a média a US$ US$ 452,60 por tonelada. Na Argentina, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, 32,9% da área de soja foi colhida no País, avanço de 14,4% frente à semana anterior. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.